Nota 3,0 Com histórias dramáticas que se ligam à protagonista, longa não chega a lugar algum
Os filmes que
trabalham com várias tramas paralelas apresentadas por diversos personagens
antigamente eram sinônimos de cinema alternativo, produções que geralmente
terminavam sem uma conclusão arrebatadora, mas trazia a tona muitas situações
para o espectador refletir após o término. Obviamente eram obras feitas para um
público mais seleto e acostumado a imaginar o destino dos personagens, o
chamado final em aberto, mas o modelo começou a ganhar espaço em premiações
populares, consequentemente invadiu os cinemas de shoppings e produções do tipo
ficaram mais fáceis de serem encontradas em locadoras. O resultado é que de
obras singulares tal estilo narrativo acabou sendo usado em demasia e na
maioria das vezes utilizado de forma incorreta como é o caso do insosso Vidas
Cruzadas. A história criada por Nat Moss gira em torno de Rose Phipps (Heather
Graham) uma jovem oftalmologista que ainda vive a dor da perda de seu pequeno
filho que não chegou a completar dois anos de idade. Por não saberem lidar com
a situação, a médica e o marido Mark (Billy Baldwin) acabaram se separando, mas
ainda procuram manter uma relação amistosa. Certa noite em que saem juntos,
eles são fotografados de longe sem perceberem. Simon Colon (Victor Rasuk) é um
adolescente que trabalha em uma loja de revelações e venda de equipamentos
fotográficos e rotineiramente consegue emprestada uma máquina para poder
exercitar seu hobby. Ele costuma fotografar pessoas e paisagens aleatoriamente
até o dia em que Rose cruza a lente de sua câmera e ele fica obcecado pela
imagem desta mulher linda, mas aparentemente triste. Ele passa a segui-la
sempre munido de sua máquina, mas esse hábito preocupa sua mãe, Marta (Marlene
Forte), que não gosta que seu filho seja tão solitário. Quem também vive
sozinho é o Sr. Tommaso Pensara (Dominic Chianese), paciente de Rose que
descobriu tardiamente uma doença que pode cegá-lo em menos de dois meses.
A premissa do
longa dirigido por Alfredo de Villa é interessante e segue o conhecido jogo de
ligue os pontos do cinema. A personagem principal é Rose e ela é a responsável
por fazer a ligação das subtramas, mas infelizmente parece que elas não saem do
lugar ou em geral são mal desenvolvidas. Com o batido recurso do flashback,
Villa tenta nos convencer da dor que ainda atormenta a médica que não se
conforma com a perda do filho, mas qualquer compaixão se esvai quando a vemos
em uma cena de sexo se comportando como uma pervertida buscando a punição por
achar que não foi uma boa mãe. Falando nisso, ela consegue levar para a cama o
tímido Simon que nitidamente tem problemas ligados a sexualidade, talvez até o
chamado complexo de Édipo, visto que ele se imagina tendo uma relação com a
própria mãe. São pequenos detalhes que acabam arruinando o filme simplesmente
por serem jogados na tela, sem aprofundamentos. O ex-marido também poderia ser
mais bem aproveitado. Como aparentemente deseja voltar com Rose, mas luta contra
os próprios sentimentos, uma discussão por ciúmes do envolvimento dela com o
adolescente viria a calhar, embora fosse uma situação pra lá de clichê. Nem
mesmo as diferenças de Mark com a irmã Claire (Erika Michells), com quem divide
um apartamento, fazem o personagem crescer na trama pelo mesmo erro de falta de
aprofundamento nesta relação conturbada. Por fim, Vidas Cruzadas só vale
uma espiada pela trama de Tommaso, de longe a mais bem desenvolvida e
emocionante. Entregador de correspondências em um escritório há anos, ele
precisa de pouco para ser feliz, mas a cegueira pode lhe tirar um de seus
maiores prazeres, a dedicação às artes plásticas, mas por outro lado pode fazer
seu coração enxergar um novo amor por alguém próximo a ele.
Drama - 91 min - 2007
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