Nota 2 Explorando o medo do escuro e do fim do mundo, longa é enfadonho e sem rumo
O medo do escuro é uma das fontes de inspiração mais comuns do cinema de terror e suspense, geralmente uma temática explorada associada a sensação de claustrofobia para intensificar a tensão emocional e psicológica, seja em espaço literalmente reduzido ou em ambientações amplas, mas que com a falta de luz aparentam ser restritas. E se a escuridão assolasse toda uma cidade? Pior ainda, e se fosse um sinal derradeiro do fim do mundo? Mistério da Rua 7, fraquinha produção assinada pelo diretor Brad Anderson, tenta adicionar algo novo à batida discussão da proximidade da extinção da humanidade, mas não vai além do esperado. Talvez até dê um passo para trás em relação a outros filmes com temática semelhante simplesmente porque da mesma forma estranha que se inicia também se dá seu encerramento.
Um apagão faz desaparecer misteriosamente toda a população de Detroit, nos EUA, e apenas as roupas que usavam sobram abandonadas assim como seus carros, lares, enfim, o local se transforma em uma cidade fantasma marcada por rastros da passagem de seres humanos. A cada dia que passa ao estranho fenômeno, o Sol nasce um pouco mais tarde e se põe mais cedo também até que desaparece de vez cedendo lugar ao breu total. No entanto, algumas poucas pessoas conseguem sobreviver e curiosamente todas elas têm em comum o fato de terem ao seu redor algum tipo de fonte de luz. No momento do apagão, o projecionista de cinema Paul (John Leguizamo) estava trabalhando; Rosemary (Thandie Newton) fumava um cigarro em frente a um hospital onde supostamente bate o ponto como enfermeira; o jovem repórter de TV Luke (Hayden Christensen) aproveitava uma noite de amor à luz de velas; e, por fim, o adolescente James (Jacob Latimore) se encontrava em um bar com gerador próprio.
Os espectadores que estavam no cinema sumiram de uma hora para a outra, assim como os médicos e pacientes da unidade hospitalar, com exceção de um homem que desperta da anestesia e percebe que o deixaram com o peito aberto na sala de cirurgia com risco eminente de morte. O garoto percebe que a mãe também o abandonou sem mais nem menos enquanto o jornalista... bem, ele só se deu conta do que aconteceu na manhã seguinte a sua noitada. Os quatro personagens centrais se encontram no bar situado na tal rua do título e após um breve estranhamento tentam unir forças para descobrir o que está acontecendo, por que eles foram sobreviventes e o que devem fazer para permanecerem vivos, mas será que o gerador vai resistir muito tempo às forças ocultas da escuridão? O medo inerente à situação poderia render uma boa discussão sobre como cada um compreenderia o fenômeno, podendo inclusive gerar conflitos intensos entre o quarteto, mas o roteiro de Anthony Jaswinski simplesmente joga na tela argumentos frouxos para sustentar uma trama ainda mais inconsistente.
Rosemary acredita que é um sinal do fim do mundo enquanto Luke faz o papel de cético e tenta garantir o papel de herói do grupo. Paul tenta fazer uma associação com a história de colonizadores que desapareceram no século 16 em solo americano e deixaram como pista uma inscrição jamais decifrada e James só pensa em reencontrar a mãe, como se isso fosse solucionar o problema que os mantém enclausurados. A insegurança dos atores em cena demonstra que eles próprios não compreenderam a narrativa e seus rumos. Que dirá os espectadores. Anderson, responsável pelo instigante drama O Operário, em seu primeiro trabalho visando o grande público não consegue oferecer o básico do tipo de produção a que se propôs. Apesar do jogo de câmeras e edição para ressaltar a escassez de luz do bar, não há clima para criar a tensão necessária e os vultos que surgem volta e meia quebram a expectativa de algo surpreender.
Há quem tenha mais paciência e se envolva minimamente com a trama a ponto de encontrar mensagens subliminares, como o fato dos protagonistas se refugiarem em um local considerado um antro de perdição localizado na rua de mesmo numeral que a somatória dos pecados capitais. Mais adepto do cinema autoral e menos comercial, Anderson tenta manter seu estilo deixando perguntas no ar e interpretações abertas para que o espectador possa tirar suas próprias conclusões, mas se esquece que topou um projeto com pretensões mais populares. Eis o grande problema de Mistério da Rua 7. Não existe um público definido ou até mesmo uma proposta bem delineada. Literalmente um tiro no escuro.
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