Nota 1,5 Sem história para contar, romance parece só existir para promover um jovem ator
O nome Freddie Prinze Jr. hoje
não agrega muito a publicidade de um filme, mas já teve seus tempos áureos. Boa
pinta e carismático, o ator é lembrado pelo cabelo platinado usado quando
interpretou Fred nos dois primeiros filmes live action de Scooby-Doo e sua
turma, mas o auge de sua carreira ocorreu um pouco antes disso. O sucesso do
terror Eu Sei o Que Vocês Fizeram no
Verão Passado tornou o jovem muito popular entre os adolescentes,
principalmente entre as meninas, muitas delas que elegiam suas produções como
os filmes de suas vidas. Os enredos pouco importavam, a peça-chave era o
galãzinho. Entre 1999 e 2001 o rapaz estrelou uma série de comédias românticas
e ganhou contrato de exclusividade com a produtora Miramax, então o berço das
fitas independentes e acumuladora de algumas dezenas de troféus do Oscar e
tantas outras premiações. A empresa não levou Prinze às badaladas festas do
cinema e ironicamente até ajudou a estagnar sua carreira ao se valer da máxima
de que em time que está ganhando não se mexe. Em Amor ou
Amizade o rapaz vivia pela enésima vez consecutiva o mesmo tipo
de personagem com mínimas variações e conflitos tão rasos quanto um pires, mas
como o próprio defendia, seus filmes abordavam temáticas relevantes ao
público-alvo. Eram filmes feitos por adolescentes para adolescentes, ainda que
o ator já estivesse longe da puberdade. Ok, em tempos de comédias que exaltam a
liberdade sexual e os vícios como algo inerente a juventude, caem bem
historinhas carregadas de ingenuidade com um certo quê de nostalgia, porém, é
preciso certo estopo para segurar um roteiro minimamente. Com toda pinta de nerd no início, com cabelos lambidos e óculos de aros grossos, Prinze dá vida a
Ryan, o típico bom moço, estudioso e cheio de convenções que nutre uma forte
amizade por Jennifer (Claire Forlani), garota com perfil completamente oposto
ao seu, liberal, extrovertida e que curte a vida intensamente. Eles se
conheceram na fase inicial da adolescência durante uma viagem de avião, mas se
estranharam logo de cara. Anos mais tarde, agora com o rapaz ostentando a imagem de boa-pinta, eles se reencontraram no colégio, ainda
trocando algumas farpas, mas o destino parecia forçar uma aproximação de
qualquer jeito. Embora fazendo cursos diferentes, seus caminhos se cruzaram
novamente na faculdade e agora mais maduros finalmente conseguem consolidar uma
relação de amizade, mas até que ponto ela iria? Ryan namorava com Amy (Amanda
Detmer), a melhor amiga de Jennifer que a partir de então faz as vezes de ombro
amigo aconselhando-o a viver novas experiências tal qual ela própria fazia
respeitando seu jeito desprendido de levar a vida.
Aos poucos Jennifer vai deixando
seus ficantes de lado e Ryan passa a ser sua companhia constante até que
inevitavelmente certa noite acabam dividindo a mesma cama. E agora? Será que os
sentimentos são os mesmos? Faltou um ponto de interrogação no título nacional
para deixar mais enfática a razão deste filme existir, embora o roteiro de
Andrew Miller não aprofunde o assunto da amizade que pode virar amor ou
vice-versa, assim do início ao fim o estilo rasgadamente açucarado toma conta
da fita. Até uma sequência remetendo aos tempos nostálgicos das discotecas é
inserido para encher linguiça, com direito a marcação de passinhos e um banho
de espuma tão popular nas baladinhas do fim da década de 1990. Não estranhe também se você já viu essa história antes e de forma mais bem contada. Algumas cenas parecem plágio do clássico romântico Harry e Sally - Feitos Um Para o Outro, mas para não errar a
receita que já havia testado em Ela é
Demais, hoje até que um título bem cotado, o diretor Robert Iscove repetiu
a parceria com Prinze, no entanto, o jovem não era a primeira escolha, foi uma
imposição do estúdio como já dito. Poderiam ter dado o papel para Jason Biggs
que aqui surge como Hunter, melhor amigo do protagonista, que na época colhia
os frutos de seu repentino sucesso em American
Pie. Nem para ele seria um grande desafio. Meticuloso, sempre atento e com
o ingrato vício de corrigir o modo de falar das pessoas, Ryan é apenas uma
sutil variação do típico mocinho do gênero, equilibrando-se entre a
introspecção e certa arrogância involuntária. Mesmo repetindo perfis, Prinze
agarrou todas as possibilidades que lhe foram dadas, mas a falta de ousadia em
suas escolhas acabou fazendo com que pouco a pouco o ator fosse se afastando do
cinema. Casado com a atriz Sarah Michelle Gellar, também um ex-símbolo teen,
priorizar sua vida pessoal é a desculpa habitual, mas certamente se fizesse um
balanço na maturidade o ator veria que teve a carreira mal administrada. Poderia
ter usufruído do peso de sua fama visando seu futuro e não de quem pagava seu
cachê. Detalhe: perceberam que no fim o texto acabou girando em torno do ator e
não do filme? Pois é, Amor ou Amizade é
tão insípido que não há coisa boa ou ruim para falar. Simplesmente você o
esquece enquanto ainda está assistindo.
Comédia Romântica - 93 min - 2000
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