NOTA 7,0 Comédia romântica alemã visa fisgar público jovem, mas não abandona a tradição de inserir a trama em contexto histórico |
Quando pensamos
nos primórdios da História do cinema é comum nos lembrarmos da ingenuidade e da
genialidade dos filmes mudos o que nos remete imediatamente ao cinema
americano, mas muitos outros países tiveram contribuições significativas na
evolução cinematográfica compreendida entre o final do século 19 até meados da
década de 1930, quando com o advento do som e das cores aconteceu uma seleção
natural de quem seguiria em frente e quem infelizmente acabaria suplantado
pelas novas tecnologias. O tão comentado expressionismo alemão é uma das
correntes mais fortes deste período inicial da sétima arte e até hoje faz
escola inspirando cineastas contemporâneos, todavia, o cinema alemão durante
muitos anos viveu no ostracismo, com raros lampejos de obras relevantes, mas a
partir de meados de 1998 demonstrou intenções de querer voltar a disputar
mercado, ainda que de forma tímida. Esqueça aquela visão quadrada de que cinema
europeu necessariamente tem que ser representado por longas épicos, com figurinos
e cenários luxuosos, intérpretes com rostos perfeitos e paisagens de encher os
olhos. A nova (bem nem tão recente assim) safra de filmes oriundos da Alemanha
tem o objetivo de cativar plateias mais jovens, busca aliar entretenimento,
cultura e algum retorno comercial, coloca em cena pessoas com feições mais
populares e tenta dialogar com o cotidiano e a contemporaneidade. Timidamente Corra, Lola, Corra deu o pontapé inicial
nessa estratégia e talvez seu ápice tenha sido atingido com a boa repercussão
de Adeus, Lênin!, mas em geral a
filmografia recente alemã ainda fica restrita a mostras e festivais o que torna
um achado e tanto quando nos deparamos com uma obra do tipo sendo exibida nos
cinemas ou sendo lançada em DVD. Pena que piscou perdeu. Aprendendo a Mentir está
longe de ser um grande filme germânico, mas é um produto que mostra que fora do
circuito Hollywood pode sim existir cinema comercial, contudo, é quase uma
raridade encontrá-lo hoje após anos de um lançamento praticamente invisível e
tardio. Adaptado do romance “Liegen Lernen”, de Frank Goosen, a trama gira em
torno de um rapaz que vê sua vida amorosa se tornar um caos graças as
lembranças mal resolvidas de sua primeira paixão. Helmut (Fabian Busch) é um
jovem tímido e não muito descolado, mas mesmo assim ele consegue chamar a
atenção de Britta (Susanne Bormann), a garota mais popular de seu colégio. Eles
começam a ficar cada vez mais próximos até que começam a namorar escondido, uma
exigência dela, porém, a felicidade do casal é interrompida justamente na noite
de Natal após a primeira relação deles quando a moça o avisa que decidiu deixar
Berlim para ir aos EUA estudar e morar com o pai por um ano.
Roteirizado e
dirigido por Hendrik Handloegten, em sua segunda experiência cinematográfica
após seu elogiado Paul Está Morto ter
sido visto por alguns poucos sortudos em festivais antes do longa ser proibido
de exibição pública devido a questões judiciais envolvendo a trilha sonora, não
sabemos bem qual a linha de trabalho deste profissional. Aparentemente ele
tenta levar o cinema de seu país a trilhar novos horizontes, algo bem mais
próximo do estilo comercial hollywoodiano como fica claro na receita do produto
em questão. Apesar de em suma seguir a linha do primeiro amor é inesquecível,
com direito a viradas previsíveis e pequenos problemas como personagens
secundários mal explorados, só o fato de não trazer nomes conhecidos, estampar
o material publicitário com rostos de pessoas “comuns” e ainda trazer a reboque
a nacionalidade de pouca tradição no gênero comédia romântica, estes já seriam
motivos suficientes para espantar o público, mesmo os adeptos de produções
estrangeiras. Porém, o adendo “dos realizadores de Adeus, Lênin!” (Handloegten colaborou com o roteiro e a mesma
empresa bancou os dois filmes) sem dúvidas traz um gás ao projeto, ainda que
muitos por esta observação possam se decepcionar com o resultado final,
realmente um tanto simplório. Aprendendo a Mentir requenta os
clichês das histórias protagonizadas por homens com medo do amadurecimento,
temática um tanto comum, mas apropriada já que a intenção era dialogar com um
público mais jovial, todavia, o diretor não quis fazer deste trabalho algo
qualquer por isso injetou no roteiro como reforço um fundo político e
histórico. A trama começa a se desenvolver em 1982 e acompanha ao mesmo tempo a
trajetória do protagonista e o desenvolvimento da Alemanha Ocidental até sua
unificação com a parte oriental após a queda do Muro de Berlim sete anos mais
tarde. Ao longo da narrativa que segue até meados dos anos 90, existem várias
metáforas inseridas como a eleição como chanceler de Helmut Kohl. Além da
coincidência de nomes, tal período político calha com a aproximação do alienado
mocinho e de sua engajada futura enamorada metida a porta voz dos jovens. O
passar dos anos é percebido através do estilo de roupas e cortes de cabelos dos
personagens, além das canções escolhidas para a trilha sonora, mas é curioso
que mesmo com essa estrutura extremamente funcional de acompanhar o
desenvolvimento do protagonista aliado a um gancho histórico de um período
ainda muito vivo na memória de boa parte das pessoas, até mesmo das que ainda
não eram nascidas na época graças as aulas de História nas escolas, é
frustrante chegarmos ao final e dizer que não estamos plenamente satisfeitos,
principalmente porque dificilmente nos simpatizamos com Helmut, já que sua
forma de encarar a vida é um tanto displicente. De qualquer forma, mesmo
superficial, esta produção garante um tempinho de lazer e ainda serve como um
incentivo para que outras nacionalidades passem a investir mais em produtos
diferenciados para tornar seu cinema cada vez mais competitivo e apreciado.
Comédia romântica - 87 min - 2003
Gostei de sua introdução histórica.
ResponderExcluirCurto o cinema alemão, se bem que não sou profundo conhecedor.
O Amadurecimento é sempre complicado.......seja no cinema, seja na vida real.
abs