Nota 8 Longa exala nostalgia resgatando o espírito das aventuras produzidas na década de 1980
O nome Steven Spielberg esteve atrelado a diversas aventuras clássicas da década de 1980, seja na direção, roteiro ou assinando como produtor, e seus trabalhos marcaram gerações, mas infelizmente os mais novinhos não tiveram a oportunidade de conhecê-los no calor do momento. Atualmente, só mesmo nostálgicos para perderem alguns preciosos minutos do seu tempo para viverem ou reviverem tais emoções, mas seria muito injusto que a criançada e os adolescentes dos primeiros anos do século 21 crescessem sem experimentarem a sensação de acompanharem uma deliciosa aventura a moda antiga. Super 8 é um produto que de forma original homenageia o passado e ainda pode trazer a tona o gostinho de uma legítima sessão da tarde. Esta aventura fantasiosa desde o título deixa em evidência seus objetivos, uma referência a um antigo modelo de câmera e que muitos cineastas hoje renomados usavam na infância e adolescência para fazerem seus próprios filmes, um indício do que seriam no futuro, como é o caso do próprio Spielberg e de J. J. Abrams, respectivamente produtor e diretor desta aventura. Aliás, esta obra é cheia de homenagens ao homem que concebeu tantos outros sucessos infanto-juvenis, o que confere um atrativo a mais para chamar a atenção dos adultos que certamente vão curtir reconhecer as referências e influências de outros títulos.
As lembranças de um passado cinematográfico ainda vivo na memória de muito marmanjo podem não surtir o mesmo efeito nas novas gerações que provavelmente não conhecem algumas das obras homenageadas, mas nada que impeça a diversão. Porém, é preciso ressaltar que a aventura não tem o ritmo frenético das produções atuais. Existe ação, mas tudo segue uma linha diferenciada de narrativa, o que pode impactar negativamente alguns espectadores mais jovens. Como a maior parte das produções, há alguns furos no roteiro que não comprometem a trama e o sentimentalismo impresso no final deve gerar algumas reclamações, mas já que a obra é uma homenagem ao estilo "spielberguiano", certa dose de emoção no final não poderia faltar. O roteiro criado também por Abrams se passa no ano de 1979 e nos apresenta a Joe Lamb (Joel Courtney), um adolescente que perdeu a mãe há pouco tempo e não está conseguindo ter um bom relacionamento com Jackson (Kyle Chandler), seu pai, um policial dedicado que não sabe como se comportar com o filho. O menino é fã de cinema e se diverte ao lado de Charles (Riley Griffiths), Martin (Gabriel Basso) e Cary (Ryan Lee) produzindo um curta-metragem caseiro de terror, daqueles bem trash, para participar de uma competição local para jovens aspirantes a cineastas. Joe logo se anima quando um dos amigos convida Alice (Elle Fanning) para o elenco já que está gostando dela.
Utilizando uma câmera Super-8, o grupo vai de madrugada rodar às escondidas uma cena na estação ferroviária, mas uma caminhonete se choca com um trem e provoca um descarrilamento de grandes proporções. Logo o local está cercado pelo exército que procura algo misterioso que estava alojado em um dos vagões. A partir de então, estranhos acontecimentos e desaparecimentos começam a acontecer na pequena cidade de Lillian, em Ohio. Tudo indica que um ser alienígena está rondando a região, este que é apresentado aos poucos e em rápidas e escamoteadas aparições. Aproveitando o cenário da tragédia, os jovens passam a fazer suas filmagens ao mesmo tempo em que tentam desvendar os mistérios que passam a acontecer na cidade. Quem espera uma superprodução de ficção científica pode se decepcionar. Na realidade, este é um projeto que reúne diversas características de gêneros variados, mas a aventura com letras maiúsculas é o que predomina. Abrams faz sua homenagem ao cinema, com um filme dentro do outro, e alinhavando cenas que remetem a sucessos mundiais da história cinematográfica, principalmente do gênero de aventura que levam nos créditos o nome de Spielberg. As referências mais óbvias são E.T. - O Extraterrestre e Contatos Imediatos do Terceiro Grau, mas alguns detalhes lembram Tubarão e Parque dos Dinossauros. O humor também marca presença. O tal vídeo caseiro rende algumas situações bem engraçadas e pode ser conferido na íntegra durante a exibição dos créditos finais.
O fato dos personagens principais serem crianças brincando de fazer cinema, deixando a imaginação falar mais alto, ao mesmo tempo em que vivenciam uma fase de transição de idade em que precisam amadurecer enfrentando os desafios que a vida lhes impõe, desde o primeiro amor até superar a perda de um ente querido em circunstâncias inesperadas, torna a experiência de acompanhar esta trama muito mais gratificante e envolvente. Abrams certamente deve ter passado muito tempo mergulhado entre as lembranças de sua adolescência. Desde as crianças com espírito aventureiro e aficionadas por fitas de terror, passando pela curiosidade da existência de seres vivos em outros planetas, até o envolvimento do governo e militares para salvarem os americanos, uma referência as suas megalomaníacas táticas de guerrilha, cada fotograma deste longa tem um agradável sabor de nostalgia. Vale inclusive destacar o apoio da parte técnica que ajudou a recriar toda a atmosfera oitentista dando aquele inconfundível ar bucólico à cidade onde as ações se passam, um lugar e uma época em que brincar nas ruas era permitido até altas horas da noite, as amizades eram reais e com fortes laços afetivos e a tecnologia em ambientes populares limitava-se aos bons e velhos aparelhos de TV, rádios e vitrolas.
Spielberg incentivou seu pupilo a não ter medo de usar e abusar do sentimentalismo na obra, o que explica o perfil e os conflitos bem delineados de cada um dos personagens e a inocente história de amor adolescente inserida na trama. Dessa forma, Abrams acabou unindo dois filmes em um. O primeiro se refere a história de adolescentes que registram suas visões do mundo através de uma câmera caseira, documentando ao mesmo tempo seus amadurecimentos. O segundo provém da ideia de um filme de terror no qual o governo americano estaria capturando e estudando secretamente seres alienígenas, ações que quando descobertas exigiriam verdadeiros planos de guerra para salvar a população. Esta mistura de ação, mistério e homenagens é um excelente programa para toda a família, porém, as crianças retratadas no filme são raridades hoje em dia e pode ser que a gurizada estranhe. Antigamente os mais novos costumavam ser ingênuos, não tinham acesso tão fácil as informações e amadureciam à força diante do boom dos lares desfeitos e das mudanças da sociedade, mas pelo menos sonhavam, se divertiam, brincavam e prezavam o contato social e as amizades reais. Bons tempos que Super 8 traz de volta. Como era bom quando sonhávamos em nos tornar adultos rapidamente, mas sem perder a inocência e sinceridade inerente a qualquer criança.
Aventura - 112 min - 2011
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