Nota 6,5 Terror adolescente se beneficia de ambientação claustrofóbica e narrativa enxuta
Vampiros, lobisomens e múmias fazem parte de um seleto grupo
de criaturas míticas que se tornaram símbolos do cinema de horror,
principalmente o produzido entre as décadas de 30 e 40 e revigorado nos anos
70, mas a eles já está mais do que na hora de se juntar a figura dos
espantalhos, aqueles bizarros bonecos de pano recheados de serragem ou palha
presos em estacas de madeira para espantar animais depredadores de plantações,
principalmente aves. Eles já estiveram presentes em algumas produções de
terror, como o óbvio A Noite do Espantalho e tiveram discretas participações em
A Colheita e Olhos Famintos, por exemplo, mas Espantalho foi criado totalmente
em torno da curiosidade e suspense inerentes ao boneco cuja função é justamente
espantar, mas aos olhos dos humanos o efeito é contrário e a atração fala mais
alto. Contudo, não espere uma obra-prima do gênero, apenas um passatempo que cumpre
sua função de entreter e assustar com alguns bons momentos propiciados
principalmente por causa da exploração bem feita de dois únicos cenários: um
milharal e a velha casa que fica em seu centro. A trama escrita e dirigida por
Brett Simmons começa apostando em clichês. Grupo de jovens está viajando e
precisa atravessar uma estrada deserta quando é surpreendido por um corvo que
bate violentamente no vidro do carro e provoca um acidente. Depois de se
recuperarem do susto eles se dão conta que Johnny (Ben Easter) sumiu e a única
saída para pedir ajuda (cadê o celular nessas horas?) é atravessar o milharal
para chegar até a única residência que há pela redondeza que, para variar, está
em um estado deplorável e envolta em mistérios. Ao chegarem na casa, Brian (Wes
Chatham) e Scott (Devon Grave), representando respectivamente o valente bonitão e o nerd do grupo, encontram
o amigo desaparecido, porém, ele está literalmente em outro mundo. Ao tentarem
voltar à estrada, a dupla é atacada por um espantalho. Não demora muito para
Chris (C.J Thomason) também criar coragem e atravessar a plantação rumo a tal
casa, mas acaba arranjando briga com Brian por ter deixado Natalie (Tammin
Sursok), a namorada do rapaz, perdida no meio do caminho, só que ela não tarda
a aparecer e de uma maneira bem diferente. É aí que o roteiro traz algumas boas
sacadas e que transformam a fita em algo um pouco acima da média.
Com personagens com perfis bem marcados e de fácil
identificação, a trama enxuta não abre espaço para diálogos bobos preferindo
concentrar suas atenções no mistério do local. Com uma rápida edição, a visão
do espantalho é feita pouco a pouco, com ângulos de câmera e efeitos sonoros
eficientes, mas manjados afinal de contas a exploração de uma plantação de
milhos é quase como um fetiche no gênero de terror americano e até M. Night
Shymalan lançou mão de recursos semelhantes em Sinais para falar sobre
extraterrestres. Para quem procura mortes violentas e detalhadas, porém, esta
opção deve decepcionar. Com cenas muito rápidas, talvez justamente por isso
mais impactantes, o dilaceramento de corpos é mínimo, até devido ao elenco
reduzido, mas Simmons compensa caprichando no clima de suspense e
claustrofobia, dando um respiro ao espectador inserindo cenas que representam
visões que Scott tem dos antigos moradores do local e que detonam rapidamente o
segredo do boneco de palha assassino. O porquê de o rapaz ter esse dom não vem
ao caso, mas no final até que faz sentido. É irônico, mas uma das qualidades de
Espantalho também é seu calcanhar de Aquiles. Sua curta duração não permite
enrolações e neste caso, com uma ambientação tão instigante, faz falta cozinhar
um pouco mais em fogo brando as emoções para o espectador chegar ao prato
principal com mais vontade. Todavia, mesmo quando o mistério é revelado, ainda
é possível levar bons sustos até chegarmos a uma conclusão que deixa uma brecha
para uma possível continuação. Com um elenco de desconhecidos, mas com
interpretações convincentes, este trabalho, cujas raízes se encontram em um
curta-metragem do próprio diretor, foi um dos longas participantes do pouco
conhecido festival After Dark Originals em sua edição 2011, uma seleção de
filmes independentes de horror e afins que merece a atenção do mercado por revelar
talentos promissores e excluir continuações e refilmagens, dando uma injeção de
ânimo ao combalido filão do cinema de terror.
Terror - 83 min - 2011
Terror - 83 min - 2011
Um filme bem divertido com uma idéia bem interessante
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