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sábado, 26 de março de 2016

ESPANTALHO

Nota 6,5 Terror adolescente se beneficia de ambientação claustrofóbica e narrativa enxuta

Vampiros, lobisomens e múmias fazem parte de um seleto grupo de criaturas míticas que se tornaram símbolos do cinema de horror, principalmente o produzido entre as décadas de 30 e 40 e revigorado nos anos 70, mas a eles já está mais do que na hora de se juntar a figura dos espantalhos, aqueles bizarros bonecos de pano recheados de serragem ou palha presos em estacas de madeira para espantar animais depredadores de plantações, principalmente aves. Eles já estiveram presentes em algumas produções de terror, como o óbvio A Noite do Espantalho e tiveram discretas participações em A Colheita e Olhos Famintos, por exemplo, mas Espantalho foi criado totalmente em torno da curiosidade e suspense inerentes ao boneco cuja função é justamente espantar, mas aos olhos dos humanos o efeito é contrário e a atração fala mais alto. Contudo, não espere uma obra-prima do gênero, apenas um passatempo que cumpre sua função de entreter e assustar com alguns bons momentos propiciados principalmente por causa da exploração bem feita de dois únicos cenários: um milharal e a velha casa que fica em seu centro. A trama escrita e dirigida por Brett Simmons começa apostando em clichês. Grupo de jovens está viajando e precisa atravessar uma estrada deserta quando é surpreendido por um corvo que bate violentamente no vidro do carro e provoca um acidente. Depois de se recuperarem do susto eles se dão conta que Johnny (Ben Easter) sumiu e a única saída para pedir ajuda (cadê o celular nessas horas?) é atravessar o milharal para chegar até a única residência que há pela redondeza que, para variar, está em um estado deplorável e envolta em mistérios. Ao chegarem na casa, Brian (Wes Chatham) e Scott (Devon Grave), representando respectivamente  o valente bonitão e o nerd do grupo, encontram o amigo desaparecido, porém, ele está literalmente em outro mundo. Ao tentarem voltar à estrada, a dupla é atacada por um espantalho. Não demora muito para Chris (C.J Thomason) também criar coragem e atravessar a plantação rumo a tal casa, mas acaba arranjando briga com Brian por ter deixado Natalie (Tammin Sursok), a namorada do rapaz, perdida no meio do caminho, só que ela não tarda a aparecer e de uma maneira bem diferente. É aí que o roteiro traz algumas boas sacadas e que transformam a fita em algo um pouco acima da média.

Com personagens com perfis bem marcados e de fácil identificação, a trama enxuta não abre espaço para diálogos bobos preferindo concentrar suas atenções no mistério do local. Com uma rápida edição, a visão do espantalho é feita pouco a pouco, com ângulos de câmera e efeitos sonoros eficientes, mas manjados afinal de contas a exploração de uma plantação de milhos é quase como um fetiche no gênero de terror americano e até M. Night Shymalan lançou mão de recursos semelhantes em Sinais para falar sobre extraterrestres. Para quem procura mortes violentas e detalhadas, porém, esta opção deve decepcionar. Com cenas muito rápidas, talvez justamente por isso mais impactantes, o dilaceramento de corpos é mínimo, até devido ao elenco reduzido, mas Simmons compensa caprichando no clima de suspense e claustrofobia, dando um respiro ao espectador inserindo cenas que representam visões que Scott tem dos antigos moradores do local e que detonam rapidamente o segredo do boneco de palha assassino. O porquê de o rapaz ter esse dom não vem ao caso, mas no final até que faz sentido. É irônico, mas uma das qualidades de Espantalho também é seu calcanhar de Aquiles. Sua curta duração não permite enrolações e neste caso, com uma ambientação tão instigante, faz falta cozinhar um pouco mais em fogo brando as emoções para o espectador chegar ao prato principal com mais vontade. Todavia, mesmo quando o mistério é revelado, ainda é possível levar bons sustos até chegarmos a uma conclusão que deixa uma brecha para uma possível continuação. Com um elenco de desconhecidos, mas com interpretações convincentes, este trabalho, cujas raízes se encontram em um curta-metragem do próprio diretor, foi um dos longas participantes do pouco conhecido festival After Dark Originals em sua edição 2011, uma seleção de filmes independentes de horror e afins que merece a atenção do mercado por revelar talentos promissores e excluir continuações e refilmagens, dando uma injeção de ânimo ao combalido filão do cinema de terror.

Terror - 83 min - 2011

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