NOTA 8,0 A Morte faz um pacto para experimentar os prazeres da vida, mas não esperava viver um grande amor |
O empresário já vinha ouvindo uma voz estranha há algum
tempo, mas jamais poderia imaginar que fosse a Morte se aproximando para
levá-lo embora, porém, este espírito do outro mundo deseja conhecer o mundo dos
vivos e por isso faz um acordo. Em troca de algum tempo a mais de vida Parrish
aceita a Morte dentro de sua casa no corpo de Joe Black (Pitt), mas ganhou
muito mais com esse trato, descobrindo que Drew (Jake Weber), seu futuro genro,
na verdade queria trapaceá-lo nos negócios e não merecia se casar com sua
filha. Aliás, Susan não soube do atropelamento do rapaz e se surpreende ao
encontrá-lo na mansão de seu pai e agora poderá conviver com ele e repensar
sobre seu casamento. Obviamente, Black irá despertar de imediato a antipatia de
Drew que logo perceberá que não tem apenas um rival no campo do amor, mas
também no dos negócios já que o mais novo amigo de Parrish estará a todo tempo
acompanhando os seus passos e poderá atrapalhar os seus planos de tirar o
futuro sogro da liderança da empresa da família. Vendido como um romance, dá
para perceber por estas poucas linhas que o drama do personagem de Hopkins é
bem mais interessante e o principal motivo que faz o espectador respirar fundo
e encarar os 180 minutos cravados de duração. O aparente exagero de tempo é
justificável, afinal são várias histórias paralelas que vão sendo desenvolvidas,
ainda que nem todos os coadjuvantes tenham sua importância nesta engrenagem,
mas conquistam de alguma forma nossa atenção como é o caso da personagem de
Marcia Gay Harden vivendo a outra filha de Parrish, uma mulher super atarefada
que deseja que a festa de aniversário do pai seja um evento grandioso e sem
falhas. A lentidão da narrativa também pode ser justificada pelo objetivo de
realizar um filme contemporâneo, mas carregando características tradicionais da
época de ouro do cinema. A percepção deste ar nostálgico se faz presente não só
pelas opções narrativas e estéticas de Brest, mas também pelo fato da ideia
original ser datada dos anos 30. O longa Uma Sombra que Passa, de 1934 e com
surpreendentes 78 minutos de duração, é a base deste trabalho. Mesmo não
refazendo o filme original pedaço a pedaço, faltou pouco para sua atualização
não chegar ao triplo de sua contagem de tempo. Aliás, atualizar filmes antigos
não era uma novidade para o diretor, que antes já havia refilmado uma comédia
italiana da década de 1970 que acabou se transformando no famoso Perfume de
Mulher.
Para rechear tanto tempo de filme foi exigido um grande
empenho não só de um roteirista, mas sim de uma equipe formada por Bo Goldman,
Ron Osborn, Jeff Reno e Kevin Wade. O grande objetivo da narrativa é tocar o
público com a consciência de que a vida deve ser degustada intensamente a cada
minuto, assim como cada take desta produção em que cada gesto, olhar ou palavra
tem um significado. Justamente por limar o negativismo que a premissa acena é
que o longa conquistou tantas pessoas ao longo dos anos. Por vezes nos
esquecemos de que estamos acompanhando a uma história na qual os personagens
estão lidando diariamente com a Morte e para essa fuga contribui muito a
ambientação luxuosa escolhida. Todavia, Encontro Marcado não é apenas belo em
sua plasticidade, ainda que não tenha nenhuma cena surpreendente. Talvez o
momento mais impactante seja quando a Morte e Parrish precisam decidir seus
futuros, mas Brest leva tudo com tanta delicadeza que o que vemos em cena é um
bate papo amigável entre duas pessoas com experiências distintas e que ponderam
sobre os prós e os contras da situação que estão vivendo. Ah, e é claro que a
sequência em que o entojado Drew é desmascarado é mais um ponto alto deste
trabalho corajoso. Na época os cinemas já estavam infestados e sobreviviam à
custa de filmes de ação e aventura e foi uma ousadia e tanto levar um projeto
como esse ao circuito comercial, embora o período de seu lançamento coincidisse
com as estreias pomposas dos possíveis candidatos ao Oscar. Todavia, Brest não
parecia em busca de bilheterias arrasadoras e prêmios, somente contar uma bela
história de amor não só de um homem (ou espírito) por uma mulher como também de
amor à vida. Tal pretensão simplória pode ser concluída pelo fato do cineasta
ter exigido que seu nome fosse retirado dos créditos na versão exibida em
viagens de avião, uma cópia com 50 minutos a menos de arte o que certamente
feriu seu ego. A quem ainda resiste acompanhar esta bela obra por causa da
longa duração e da premissa a la dramalhão, respire fundo, reserve umas
horinhas do dia e prepare o espírito para um filme açucarado na medida certa,
envolvente, mas que não foi feito para agradar os olhares mais críticos.
Problemas narrativos existem em proporção considerável, mas eles são resumidos
a pó diante do porte deste trabalho que marcou época, ficou guardado em várias
memórias e com certeza ainda marcará muitas vidas.
Drama - 180 min - 1998
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