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segunda-feira, 19 de outubro de 2015

ANTES DE PARTIR

NOTA 8,5

Dois pacientes com doenças
graves deixam de lado suas
diferenças para aproveitarem
o tempo de vida que lhes restam
É curioso como alguns filmes conseguem equilibrar perfeitamente humor e drama na mesma receita. Mais curioso ainda é terminar de assistir a uma obra que no fundo é triste e ainda assim se sentir com o espírito elevado. É no significado dos velhos clichês do viva a vida intensamente ou de aproveite cada dia como se fosse o último que está o segredo do sucesso de Antes de Partir, longa que não ganhou prêmios e teve uma passagem modesta nos cinemas, mas que acabou se tornando um título grandioso conforme o tempo passou, um daqueles tipo cujo nome está sempre na ponta da língua quando se deseja indicar um bom programa no aconchego do lar. O diretor Rob Reiner já trazia em seu currículo outro trabalho que se tornou um clássico entre populares, Conta Comigo, e que guarda certas semelhanças com esta produção protagonizada por Jack Nicholson e Morgan Freeman. Em ambos ele trabalha com as temáticas da amizade e da morte e consegue uma excelente mistura entre diversão e reflexão. A trama começa nos apresentando a Edward Cole (Nicholson), um empresário frio e calculista que administra um hospital. Para reduzir os gastos da instituição e consequentemente aumentarem seus lucros ele dá ordens irrevogáveis de que cada leito deve ser ocupado por dois pacientes sejam eles pobres, ricos, negros, brancos, jovens ou velhos. Ironicamente a vida lhe prega uma peça. Quando descobre que está com câncer ele é obrigado a dividir seu quarto com o pacato Carter Chambers (Freeman), um mecânico negro que já está a algum tempo se submetendo a um tratamento experimental para a mesma doença. Relutante no início de ter que vivenciar uma situação que ele próprio causou, Cole acaba se acostumando com a presença do colega de quarto e ambos começam a trocar ideias e experiências. Chambers então lhe apresenta uma espécie de lista de desejos que aprendeu com um professor da época de faculdade. Nela devem constar todas as vontades e maluquices que a pessoa gostaria de realizar antes de morrer, funcionando assim como um traçado de metas, algo que ilusoriamente prolongaria o desejo de viver. Cole então propõe que eles façam uma lista em conjunto e tentem aproveitar ao máximo os seus últimos meses de vida, a deixa perfeita para dar um respiro a um enredo que poderia ser denso e depressivo.

A premissa bebe na batida fonte dos inimigos que se tornam amigos, mas o roteiro de Justin Zackham trata as picuinhas de forma ligeira abrindo espaço para desenrolar os bons momentos entre dois idosos que encontram na coincidência de estarem se tratando da mesma doença o fio condutor de uma bela amizade. É como se eles se completassem já que possuem personalidades distintas. Além do fato de concluírem que jamais viveram da maneira que sonhavam, o que falta em um é completado pelo outro e vice-versa, por exemplo, a simplicidade de Chambers que faz falta a Cole que por sua vez possui a coragem para arriscar que seu novo amigo não tem. Claro que a fortuna do empresário colabora para seu espírito ousado, afinal jogar dinheiro pela janela conquistado de maneira duvidosa para ele não é nada. Assim a dupla passa a viajar por vários lugares do mundo e tem a oportunidade de realizar sonhos juvenis como saltar de um avião em movimento ou dirigir em alta velocidade um carrão que vale milhões. O motivo de tantos apreciarem esta produção deve-se ao fato de suas mensagens nada subliminares, pelo contrário, todas são bem explícitas. O valor de uma amizade, o quanto é importante o apoio de outras pessoas em um momento difícil, que é um direito de qualquer cidadão levar uma vida digna e fazer o que quiser até o seu último suspiro, há uma leve crítica à questão das distribuições de riquezas e, por fim, a constatação de que na hora da morte todos somos iguais e partir é inevitável. Sem dúvidas ter condições de vida melhores pode significar um prolongamento da existência, como é sutilmente mostrado em uma cena em que um médico demonstra atenção em excesso para Cole, mas não atende a um simples pedido de Chambers, porém, ninguém é imortal.

Como já dito no início do texto, hoje é possível verificar a aprovação popular deste trabalho, mas é certo que para quem tem o espírito crítico mais apurado esta obra é apenas correta, valendo a pena para ver o encontro de dois grandes nomes do cinemão americano, embora nem mesmo a atuação da dupla passe ilesa pelos julgamentos. O grande problema apontado é a simplicidade da narrativa que não estaria a altura dos artistas principais que não precisam mais provar que tem talento para ninguém, todavia, qualquer ator merece um descanso e nada melhor para eles que poderem se divertir trabalhando. Como uma grande brincadeira, é assim que devemos encarar suas presenças neste filme que, diga-se de passagem, marca a aposentadoria entre aspas de Nicholson enquanto Freeman continua uma presença constante no cinema, seja em bons, medianos ou, na pior das hipóteses, péssimas produções. Em suma, a premissa de Antes de Partir pode não ser das mais originais, porém, seu desenvolvimento compensa pela opção do roteiro em retratar o tema dos doentes terminais de uma forma diferenciada, leve e que traz certo conforto a quem assiste e talvez um alento para quem está passando por situações semelhantes. Mesmo assim, a conclusão não foge a regra e leva o público às lágrimas recorrendo a um velho truque narrativo adornado por um rebuscado discurso. De qualquer forma, a produção cumpre bem seus objetivos sendo sensível, simplória, divertida e edificante. Pode ter parte de sua simpatia junto ao público pelo fato de contar com dois protagonistas de peso, mas o mesmo pode ser o motivo para muitos a rotularem apenas como um passatempo bonitinho. Existem filmes cujo maior mérito está justamente no roteiro e se ele é encenado por grandes nomes melhor ainda, afinal é o público que sairá ganhando como neste caso, a representação perfeita da união do útil ao agradável.

Drama - 97 min - 2007 

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