NOTA 4,5 Longa investe na batida ideia da cidadezinha envolta a mistérios, mas falta criatividade para esconder a sensação de déja vu |
Quando menos espera, Kady está
envolvido em uma doentia rede de fervor religioso da qual ninguém jamais
escapou e... Bem, você já viu essa história. O roteiro do estreante Michael
Kingston investe na clássica premissa da cidade que busca o isolamento através
de crenças ou rituais, mas para quem ousa visitá-la não raramente o destino é
cruel. A temática já rendeu marcantes produções como Colheita Maldita e até deve ter servido como inspiração para o
provocador A Vila. Aliás, pouco tempo
antes, ela serviu como eixo de sustentação para o suspense O Sacrifício, que por sua vez é uma refilmagem do cultuado O Homem de Palha. Em comum todas essas
produções partem da premissa de enfocarem um lugar perfeito para se viver, mas
onde os moradores se submetem a provações para manter a ordem. Apesar de costurar
referências, o longa dirigido pela também estreante Michelle MacLaren, oriunda
de séries de TV, até procura criar um clima propício para explorar a temática
já tão surrada, mas acaba esbarrando no empecilho de personagens superficiais
que falham em criar a mínima ligação que seja com o espectador,
consequentemente as situações que vivenciam também pouco nos importa. De longe a figura do delegado Caine é a mais
interessante. Colabora para esse distanciamento o elenco mal escalado,
basicamente rostos desconhecidos e com pouca experiência. Não que atores
renomados pudessem salvar o filme, mas ao menos poderiam injetar um gás com
interpretações mais convincentes. Sisto deveria ser o destaque da produção, mas
atua no piloto automático boa parte do tempo, justamente o período em que
necessitava envolver o espectador com seus conflitos a respeito da suposta
perfeição de Rockwell Falls. Ele só parece mais a vontade na reta final quando
seu personagem compreende toda a situação e precisa travar uma guerra de um
homem só contra toda uma cidade de alienados. Visualmente, a obra poderia fazer
uso de cenários sujos, uma fotografia mais desgrenhada que explorasse o efeito
de câmera na mão e até uma edição com cortes bruscos, mas a diretora prefere
ficar na sua zona de conforto e filma como se fosse para a TV (talvez por isso
esse tenha sido seu único filme de cinema). Por outro lado, os cenários limpos
da cidade têm como justificativa que as pessoas que moram lá buscam uma vida
normal na medida do possível. Retratá-las em um ambiente degradante serviria
apenas para reforçar clichês.
Mesmo com essa tentativa de ser
o mais realista possível, infelizmente Michelle não consegue desenvolver o lado
psicológico e social do enredo. Por que a vida em Rockwell Falls é
aparentemente tão perfeita? Qual a razão de seus habitantes se conformarem com
o isolamento? Como vivem aqueles que são contra o sistema? São muitas as
questões que poderiam ser mais bem exploradas e fazer o filme fugir do
ostracismo inerente, ainda mais porque segredos mesmo a produção não tem a
revelar, embora busque uma conclusão impactante. Quem espera uma história de
assombrações ou de rituais satânicos deve se decepcionar com População
436. Dispensando efeitos especiais, criaturas com visuais assombrosos e
até mesmo a preocupação em criar um clima sombrio, um ponto positivo a ser
levantado é que praticamente todas as cenas são realizadas às claras, sem
aquelas trucagens de assustar com ações passadas em meio à escuridão total,
afinal por mais negativas que fossem as energias por lá concentradas nenhuma
cidade viveria eternamente na penumbra. Até mesmo no momento quando todo o
mistério em torno do numeral que intitula a produção é revelado o sol está a
pino, lembrando um pouco a estética de Pânico
na Floresta que também arrisca na criação de uma atmosfera de arrepiar em
plena luz do dia. Aliás, por coincidência (será mesmo?), ambas as produções
contam com uma cena em que uma frota de carros velhos e destroçados são
apresentados em panorâmica para dar a noção de quantas vítimas já caíram nas
armadilhas destas cidades isoladas. Contudo, é constante a sensação de que
sofra o que sofrer o protagonista chegará a salvo ao final de tudo isso, mas
por quanto tempo? De qualquer forma, apesar dos vários problemas ou ausência de
ousadias, na falta de coisa melhor para assistir é possível se entreter com
este suspense simplesmente por ele procurar instigar o medo através de
artifícios convincentes e sem apelar para vultos e sangue. O final, para
variar, deixa um gancho para uma possível continuação que jamais aconteceu ou
pode ser interpretado como se o segredo de Rockwell Falls poderia ser descoberto
por qualquer visitante, mas jamais solucionado, até porque quem descobre
ficando ou não na cidade jamais poderá levar tal história adiante. Vale uma
sessão sem compromisso.
Suspense - 92 min - 2006
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