Nota 2 A França pode e deve fazer filmes comerciais, mas diretor perde a mão em suspense trash
Há quem diga que as construções antigas são carregadas de energia negativa e que aqueles que as habitaram, e por acaso do destino tiveram uma morte brusca ou dolorosa, não as abandonam, tornando-se almas inquietas condenadas a viverem eternamente vagando pela Terra. Seguindo tal crendice, nada melhor que um museu para dar um caldo novo ao batido conto da casa assombrada, afinal os pertences de muitos falecidos estão ali em exposição. Somem-se a isso os mistérios que cercam a cultura do antigo Egito e certamente teremos um bom filme de suspense ou até mesmo de terror. Errado! Infelizmente não é o que acontece com O Fantasma do Louvre, uma tentativa do cinema francês de provar que pode fazer filmes comerciais seguindo o estilo de Hollywood, mas para brigar de igual para igual é preciso saber em qual terreno se está pisando, o que não parece ser o caso do diretor Jean-Paul Salomé.
A trama começa em 1935 quando o egiptólogo Pierre Desfontainer (Pierre Aussedat) encontra em meio as suas escavações um sarcófago que lhe chamou a atenção. A tumba e outros objetos foram enviados ao Museu do Louvre que na época passava por uma grande reforma, assim muitas das relíquias de seu acervo acabaram esquecidas por décadas em porões ou salas inativas. Na virada para o século 21, esses objetos foram reencontrados e o tal sarcófago virou objeto de estudo da historiadora Glenda Spencer (Julie Christie), que logo deduz que algo estranho aconteceu no funeral daquela múmia, já que sua tumba continha inscrições que só os nobres poderiam ter, porém, o cadáver estava sem joias, o que poderia indicar que ele seria apenas um servo. Enquanto as investigações sobre essa descoberta avançam coisas estranhas passam a acontecer no museu, como mortes e roubo de peças egípcias de valor inestimável.
Mesmo informada a respeito dos estranhos acontecimentos que ocorrem no museu, a jovem Lisa (Sophie Marceau) é atraída constantemente para o local e por vezes apresenta um comportamento estranho. Tais episódios só começam a granhar justificativas convincentes com a chegada do inspetor Verlac (Michel Serrault), que sabe por experiência própria que uma força maligna está assolando o museu. Como se percebe a trama carrega um quê de produção estilo blockbuster, mas sua confecção deixa a desejar e parece um tanto datada. O problema é que Salomé, também responsável pelo roteiro escrito em parceria com Jérôme Tonnerre, confundiu filme-pipoca com filme trash, oferecendo um trabalho que não causa em nenhum momento tensão ou pânico, muito pelo contrário. Involuntariamente acaba provocando humor, fazendo o espectador perder as contas de quantas vezes chega a esboçar um sorrisinho de deboche ao longo do filme.
A pegada trash da produção já começa pela situação bizarra com a qual é libertado o espírito do mal através de uma espécie de máquina de raio-x (oi?). O fantasma é chamado de Belphégor, o equivalente a Lúcifer, ou seja, o capeta tão comum do cinema americano volta repaginado e ocupando endereço diferenciado. O fato do cenário principal ser um dos mais famosos museus do mundo todo não é por acaso. O diretor gostaria que sua historinha de fantasma funcionasse tanto com os adolescentes quanto com o público adulto e não se resumisse a um simples passatempo, assim a escolha do Louvre, além de acentuar o verniz de produção artística (aos olhos dos leigos qualquer filme europeu já nasce com aura de cult), também abriria caminho para explorar a cultura egípcia e seus rituais fúnebres de passagem, que no fundo ajudam a explicar o motivo da múmia voltar ao mundo dos vivos, diga-se de passagem, em efeitos especiais extremamente artificiais.
Para não dizer que tudo aqui é ruim, a introdução e os créditos iniciais mostrando a restauração do Louvre chamam a atenção, pena que o que vem após estes cinco minutos seja tão desinteressante e com interpretações fracas, principalmente de Marceau que deixa claro o porquê de não ter atingido o status de suas conterrâneas Marion Cotillard e Audrey Tautou, por exemplo, que expandiram seus campos de trabalho inclusive sendo muito requisitas por produções norte-americanas. Por fim, também podemos dizer que a trilha sonora e a vestimenta cerimonial com a qual a múmia seria exposta no museu são bacanas e combinam com a atmosfera que o filme gostaria de ter. Prestou atenção? Gostaria de ter, porém, ficou na intenção. Pelo título, O Fantasma do Louvre prometia ao menos uma produção meia-boca que poderia ser divertida assumindo sua precariedade, mas a brincadeira foi levada a sério demais e desandou. Todavia, aos fãs de trash movies, fica a dica.
Suspense - 97 min - 2001
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Anos depois, ainda é um dos piores filmes que já assisti... pau a pau com O nacional O Amuleto.
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