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quarta-feira, 21 de outubro de 2015

ELSA E FRED - UM AMOR DE PAIXÃO (2005)

NOTA 10,0

Longa trata de temas
ligados à terceira idade
com emoção, humor e
protagonistas cativantes
Chegar à velhice com saúde e ainda conseguindo manter certa independência financeira e até mesmo dos parentes é o sonho de qualquer pessoa que deseja ter uma vida longa, afinal de contas o que adianta viver muitos anos sem poder aproveitá-los plenamente? A co-produção entre a Argentina e a Espanha Elsa e Fred – Um Amor de Paixão trata justamente sobre os problemas e anseios da terceira idade, uma fatia da população que cada vez cresce mais e precisa reconquistar seu espaço na sociedade. Eles não estão mortos por isso ainda tem o direito, ou melhor, o dever de sonhar e fazer planos para o amanhã. Rotina, manias, amor e lembranças dos protagonistas são abordados pelo divertido e emocionante enredo desenvolvido pelo diretor e roteirista Marcos Carnevale. Elsa (China Zorrilla) é uma mulher de 82 anos cheia de vida que procura aproveitar ao máximo cada novo dia. A viúva passa a sentir certo interesse em seu novo vizinho, o também idoso Alfredo (Manuel Alexandre), que perdeu sua esposa há sete meses. O problema é que ele é muito introspectivo, sofre por ser hipocondríaco e preferiu aproveitar seus últimos anos de viva isolado tendo apenas a companhia de seu cachorro de estimação. Eles se conhecem por conta de uma das trapalhadas de Elsa que bate sem querer seu carro no da filha de Alfredo e é obrigada a pagar os custos do concerto. Logo nos primeiros minutos já descobrimos o perfil da idosa. Ela espia a movimentação da mudança do vizinho, foge para não pagar o prejuízo que causou com o carro e inventa uma desculpa lacrimejante para não entregar o cheque à filha de Alfredo, mas não a julguem como uma pilantra. Digamos que no jargão popular ela é uma velhinha sacudida. O vizinho, ao contrário, é sincero, recluso, correto, metódico e demonstra ter bom coração. Pouco a pouco seu pacato cotidiano vai ganhando vida com os insistentes convites para sair e telefonemas de Elsa, que um dia já foi uma bela mulher que lembrava a protagonista do filme A Doce Vida, de Frederico Fellini. Apaixonada pela cena em que a musa entra na Fontana di Trevi, em Roma, e se declara para o mocinho, a espevitada senhora sonha em um dia poder repetir a sequência lá mesmo naquele monumento.

Apesar de a história contar com situações e diálogos previsíveis, os co-roteiristas Lilly Ann Martin e Marcela Guerty em parceria com Carnevale conseguiram fazer uma premissa simples crescer ao ponto do longa divertir e emocionar em proporções semelhantes e com ótimas sequências vividas com intensidade pelo ótimo casal de protagonistas. A mensagem da trama é simples: a vida está aí para ser vivida e o relógio não pára. São várias as frases e cenas marcantes que traduzem literalmente esta realidade. Em uma das conversas, Elsa diz que Alfredo não tem medo da morte, mas sim de viver. Reclama de aproveitar um bom jantar com medo que o alimento provoque alguma doença, mas o alerta de que quando ele realmente estiver preso a uma cama sentirá por não ter vivido esse prazer. Ele acha um absurdo a conta do restaurante, mas os bons momentos que guardará na memória daquela refeição não há dinheiro que pague. É curioso, mas após estas duas mensagens de efeito, é inserida uma sequência que as desconstrói. Elsa convence o amigo a sair de fininho do restaurante para não pagar a conta e quando estão no carro indo embora Alfredo pensa que estão sendo perseguidos pela polícia e passa mal. Quando vai ao hospital é alertado que não pode comer comidas pesadas, açúcar e viver emoções fortes, tudo aquilo que ele experimentou em menos de duas horas. Essa é apenas uma das ótimas lembranças que este longa certamente lhe deixará, mas não basta achar belo, é preciso compreender sua mensagem. As pessoas planejam demais o amanhã, sem nem mesmo saber se ele vai existir, e esquecem-se de viver o agora. Elsa realiza suas vontades o mais rápido possível sem medir conseqüências e talvez por causa desse seu desprendimento é que conquistou  uma vida longa e de qualidade, mas nem o mais forte dos seres humanos está livre de alguma surpresa do destino como o longa sutilmente induz.

A bela história de amor construída pelos protagonistas nos faz por alguns momentos esquecermos que são dois idosos em cena. Praticamente eles estão descobrindo o amor como um casal de adolescentes, mas mais do que isso estão dando um ao outro um motivo a mais para viver. Elsa tem o objetivo de resgatar a felicidade perdida de Alfredo enquanto ele faz o possível para acreditar nas mentiras contadas pela companheira para deixar a vida mais alegre. Fugir da realidade é a ordem para se viver por muito tempo e com qualidade? Não levando totalmente ao pé da letra, talvez esta seja a grande mensagem que nos deixa Elsa e Fred – Um Amor de Paixão, uma obra que mais que nos provar que nunca é tarde para amar, serve para nos lembrar de que nunca é tarde para viver. Esse sentimento de recomeço é totalmente evidenciado pela forma de agir e se comportar de Alfredo que inicialmente é um senhor abatido, cabisbaixo e de olhar triste, mas que depois passa a ter mais segurança ao caminhar e falar e não se envergonha de dar uma exagerada gargalhada em público. Para evidenciar essa mudança comportamental, até mesmo os movimentos de câmera e a trilha sonora tornam-se importantes. Embora privilegiem a contemplação, é perceptível uma leve aceleração em seus ritmos quando o idoso finalmente é contagiado pelo entusiasmo de Elsa, esta que do início ao fim tem sorrisos para dar e vender. Como qualquer ser humano ela é imperfeita. Comete erros propositalmente e fala e faz o que bem entende, mas está longe de sofrer de algum tipo de demência decorrente da idade. Totalmente lúcida, a personagem é inspiradora. Seja você criança, adolescente, adulto ou idoso, certamente irá se apaixonar por este filme admirável que nos faz lembrar que o amor não depende necessariamente do sexo para existir. Sem trocar nenhuma carícia exagerada, Elsa e Fred colocam no chinelo muito casalzinho de romances adolescente. Respeito e admiração seguram esta relação e assim é que o amor entre eles surge, um sentimento que os faz querer viver mais e mais até que o tempo lhes permita. 

Comédia romântica - 105 min - 2005 

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