Nota 7 Versão adolescente de James Bond protagoniza uma sessão da tarde ligeira e divertida
Todos os gêneros e estilos de filmes podem ser subdivididos em várias categorias para atender aos mais variados tipos de públicos. Por exemplo, um dos braços do cinema de ação são os filmes de espionagem que investem em adrenalina. Nesse grupo destacam-se as missões do Agente 007 em sua gigantesca série de casos que agradam aos adultos. Nos anos 2000, a franquia Pequenos Espiões veio para atender ao nicho de público infantil que também adora aventuras de espionagem. Já os adolescentes acabavam não sendo bem atendidos por nenhuma dessas produções, ou seja, um ótimo nicho a ser explorado estava dando sopa. Ainda bem que quando produtores de Hollywood perceberam essa brecha já estavam disponíveis nas livrarias alguns exemplares de uma série de livros narrando as aventuras de um agente teen no melhor estilo James Bond. Todavia, Alex Rider Contra o Tempo é a primeira e única adaptação cinematográfica da série de livros criada por Anthony Horowitz que também assina o roteiro.
Alex Rider (Alex Pettyfer) é um adolescente que tem sua vida mudada quando seu tio Ian (Ewan McGregor) morre em circunstâncias misteriosas. Não demora muito e é revelado que ele faleceu durante uma missão do Serviço Secreto de Inteligência Britânico. O garoto, sem perceber, ao longo dos anos foi treinado pelo seu tio para ser um grande espião e agora ele foi recrutado para ocupar o lugar de Ian e sua primeira tarefa é deter o malvado e tresloucado cientista Darrius Sayle (Mickey Rourke) que está criando um computador de última geração que utiliza a realidade virtual para ensinar os alunos de um colégio inglês. Há desconfianças acerca disso e Rider deverá se infiltrar na organização para acompanhar o inimigo bem de perto. Enquanto isso, os problemas sobram até para Jack (Alicia Silverstone), a governanta que toma conta do garoto desde que seus pais faleceram. Ela também está na mira de bandidos, mas aprendeu muito sobre como se defender com o intrépido tio Ian.
As obras literárias estreladas pelo personagem-título são inegáveis sucessos em diversos países, mas o longa infelizmente não fez o sucesso esperado e tudo indica que o agente será eternamente o protagonista de uma única aventura no formato de filme, embora seja uma agradável opção no melhor estilo sessão da tarde. No Brasil, a aventura praticamente passou despercebida pelos cinemas, locadoras e até mesmo pela TV pelo fato de que Alex Rider é um ilustre desconhecido por aqui. Os livros foram recebidos com timidez e não estouraram em vendas, situação que também deve ter se repetido em outros países, o que resultou em rendimentos financeiros fracos e pouca exposição, fatores que não justificavam a continuidade da franquia. Todavia, anos mais tarde o personagem ganhou uma nova chance em um seriado feito para serviço de streaming, mas novamente não causou frisson.
O grande problema do longa é não se definir entre ser uma paródia aos filmes protagonizados por espiões ou realmente querer ser um projeto sério. São muitas as cenas infantilizadas, a turma do mal é extremamente caricatural e o jovem Pettyfer exagera na quantidade de caras e bocas. Tudo isso seria perdoado se a produção assumisse totalmente seu lado humorístico, mas o diretor Geoffrey Sax faz questão de quebrar o climão de fantasia vez ou outra para lembrar que seu protagonista é como se fosse o James Bond do futuro e precisa ser levado a sério. Embora seu trabalho seja comum e até com algumas falhas ou escolhas erradas, Sax teve ao menos uma boa sacada: a cena de briga entre Silverstone e a atriz Missy Pyle vivendo uma subordinada do vilão. A edição consegue brilhantemente imprimir adrenalina e humor através de cortes rápidos que intercalam os sopapos das duas personagens com cenas de pancadaria de clássicos desenhos que estavam sendo exibidos na TV coincidentemente no momento do embate delas. A analogia entre as partes é perfeita.
No geral, esta é uma aventura infanto-juvenil que cumpre bem seu papel de sessão da tarde e serve para alimentar os sonhos de garotos que ainda sonham em um dia ser um grande herói ao melhor estilo James Bond. Enquanto papai e mamãe não deixam o filhinho assistir aos filmes do 007 por o considerarem muito imaturo para se deixar deslumbrar com a vida de luxo e belas garotas do agente, Alex Rider Contra o Tempo preenche as necessidades, ainda que não de forma plenamente satisfatória. Uma pena que a imagem do longa tenha ficado enraizada como um projeto frustrante, ainda mais quando sabemos que haveria material para dar continuidade a saga.
Aventura - 93 min - 2005
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