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sábado, 2 de abril de 2022

A PROMESSA (2004)


Nota 3 Suspense espanhol é um apanhado de clichês que não causam reações no espectador


Já estamos tão acostumados aos clichês e trucagens das fitas de horror e suspense americanas que quando surgem produções destes gêneros oriundas de outros países sentimos como se isso fosse um sopro de esperança de que ainda é possível levar bons sustos vendo um filme do tipo. Nessas circunstâncias, a Espanha leva uma ligeira vantagem devido aos diversos produtos elogiáveis desta seara, como O Orfanato e Rec, mas o que pinta também de abacaxi por lá não é brincadeira. A Promessa é um exemplo desses engodos, a começar pelo título que não deixa bem claro qual a proposta do longa. Uma pessoa que se arrisca para cumprir algo? Um plano de vingança? Teria algo a ver com religiosidade? A obra assinada pelo diretor Héctor Carré na realidade busca misturar todas essas indagações em uma mesma história, mas não alcança seu objetivo satisfatoriamente. 

O roteiro do próprio cineasta em parceria com José Antonio Félez gira em torno de Gregoria (Carmem Maura), uma mulher de meia-idade devota à religião, mas infeliz por não ter tido filhos e atualmente se sentir humilhada pelo marido Roberto (Juan Margallo) que não esconde que considera a esposa um fardo que carrega. Num ato de loucura, ela acaba cometendo um crime e precisa fugir rapidamente, escolhendo como destino a cidade de Galícia no norte da Espanha, local famoso por abrigar um santuário. Logo que chega ao seu destino, Gregoria salva um garoto, Daniel (Santiago Barón), e imediatamente ambos se afeiçoam um pelo outro o que leva Dorita (Ana Fernández), a mãe dele, a não pensar duas vezes em contratar a simpática e prestativa senhora como babá. A partir de agora Gregoria assume uma nova identidade. Diz se chamar Celia e que quer recomeçar sua vida após perder o marido que amava tanto. 


Leandro (Evaristo Calvo), seu novo patrão, não parece convencido da idoneidade da funcionária, mas mesmo assim a emprega para fazer a vontade do filho. Daniel é um menino muito quieto e amargurado por não gostar do clima de brigas constantes em sua casa, mas junto com Celia ele parece mais comunicativo e até capaz de adivinhar os sentimentos de sua babá. Tudo vai bem no início, mas é previsível que a chegada dessa mulher mudará drasticamente a rotina desta família. Pouco a pouco Celia vai tendo pesadelos e ouvindo vozes que a fazem acreditar que forças malignas estão agindo na casa onde trabalha e, assim como colocou um fim em seu sofrimento livrando-se do marido, ela também tenta convencer Dorita a fazer o mesmo. E assim essa mulher ressentida cada vez mais se torna alvo de sua própria paranoia até chegar ao ponto de não distinguir mais o que é real e o que é imaginação. 

Carré até consegue criar um bom clima de suspense e conduzir bem sua narrativa até a metade, mas tropeça daí por diante. Ao fazer um balanço de todo o conjunto da obra o resultado final infelizmente é frustrante. A trama é muito rasa, as situações em sua maioria mal desenvolvidas e os sustos são nulos. Tudo é tão previsível que acompanhamos com fadiga o desenrolar dos fatos que, diga-se de passagem, deixam muitas pontas soltas. Afinal de contas qual a ligação de Daniel com Gregoria? Porque a imagem do garoto é usada na publicidade do longa com ares de criança endemoniada se ele não tem atitudes que justifiquem isso? Aliás, ele existe mesmo ou é apenas fruto da imaginação da empregada? E a religião onde fica nessa história? Uma pessoa devota a Deus, mas com problemas mundanos a lhe atormentar é um alvo fácil para os maus espíritos? 


Ficam muitas perguntas no ar, mas que provavelmente não vão tirar o sono do espectador, afinal de contas os minutos finais totalmente anticlimáticos e a cena-clichê final tratam de acomodar o longa imediatamente em sua mente em uma região exclusiva para lembranças descartáveis. É uma pena. Apesar da premissa batida, como já dito, sempre esperamos algo diferenciado vindo de uma produção fora de Hollywood. Todavia se costumamos criticar que os vultos a espreita e barulhos estranhos nas casas tendem a afundar uma fita de suspense, pode ter certeza que aqui eles fazem falta para quebrar o ritmo melancólico. Nem mesmo a atuação de Maura se salva, sendo que a veterana atriz parece não estar confortável no papel e tampouco com os rumos da narrativa, tendo seu melhor momento, obviamente no ápice da loucura de sua personagem. Em suma, A Promessa infelizmente fica só na promessa de ser algo no mínimo razoável. O trocadilho é inevitável.

Suspense - 98 min - 2004 

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