Nota 4 Mais um serial killer está a solta para matar jovens, mas não é original nem com o figurino
Os filmes de seriais killers já tiveram sua fase de ouro nos anos 1980 quando os indestrutíveis Freddy Krueger, Michael Myers e Jason Voorhees tiraram o sono de muita gente em uma série de filmes com seus altos e baixos. Muitas cópias do estilo surgiram e este subgênero de terror acabou entrando em decadência até que Pânico estreou em meados da década seguinte para dar um novo gás, porém, mais uma vez diversos assassinos sádicos foram criados para aproveitar a onda de sucesso e a derrocada era inevitável. A narrativa de todas essas produções tem como traço comum psicopatas mascarados ou disfarçados vitimando preferencialmente jovens e como regra os mais libidinosos não escapam. A fórmula desgastada acabou tornando produções do tipo bastante previsíveis e hoje só sobrevivem dependendo dos níveis de crueldade e sadismo dos vilões. Contudo, ainda existe público cativo para filmes slashers, aqueles que sabem perfeitamente o que vão encontrar, mas o importante é sentir a adrenalina proporcionada a cada nova cena de matança. Analisando dessa maneira, Setenta e Cinco cumpre razoavelmente seus objetivos com uma contagem alta de corpos, mas até o assassino de fato entrar em ação muita conversa furada é despejada.
A dupla de diretores Deon Taylor e Brian Hooks (que também interpreta Marcus, um dos personagens principais) começa bem com uma introdução instigante que alterna os créditos iniciais com o surgimento da brincadeira que dá título ao filme supostamente inspirado em fatos reais. No passado, um grupo de crianças se divertia em uma noite qualquer com uma brincadeira na qual deveriam segurar a atenção de um desconhecido durante uma chamada telefônica por um minuto e quinze segundos contando alguma mentira, de preferência algo que mexa com as emoções de quem está do outro lado da linha, mas o problema é que nunca se sabe como irá reagir quem foi enganado. Alguns podem levar na brincadeira, outros se irritarem, mas as crianças jamais imaginavam que um homem iria se enfurecer ao ponto de investigar a origem do telefonema e invadir a casa onde elas estavam promovendo uma série de assassinatos, a maioria na base de golpes de machado. As vítimas acabam sendo os pais dessas crianças, estas que são poupadas pelo assassino e adotadas por novas famílias ou parentes. Dez anos se passam e o caso que acabou ficando sem solução volta a chamar a atenção do detetive John Criton (Rutger Hauer) a partir do assassinato de Chuck (Josh Hammond), um dos sobreviventes da chacina que é morto envolto a circunstâncias semelhantes.
Agora com novas identidades, fica um pouco mais complicado para o investigador tentar encontrar as testemunhas, mas o destino vai dar uma mãozinha e tratar de reuni-las. Brandon (Jonathan Chase) organiza uma festa na isolada mansão de sua família para comemorar o fim do semestre da universidade e convida Karina (Judy Taylor), sua ex-namorada, esta que faz questão que seus amigos sejam convidados e o que era para ser uma noite de pura diversão acaba se tornando um pesadelo macabro. Crescidos, mas sem um pingo de maturidade, os jovens resolvem aplicar durante a balada o golpe dos setenta e cinco segundos e já sabemos o que vai acontecer. Os primeiros minutos passam a sensação de que a produção pode surpreender, no entanto, apesar da premissa interessante, o que vem a seguir é absolutamente manjado. Sustos falsos, jogos de câmera, barulhos estratégicos, jovens loucos por sexo e bebidas e não falta nem mesmo uma paradinha em um lugar nada auspicioso em meio a uma estrada deserta. Isso sem falar na trucagem da trilha sonora equivocadamente elevada nos momentos inoportunos, ou seja, quando deveríamos nos assustar somos preparados para a surpresa segundos ou até minutos antes.
Também temos o casarão isolado, uma inexplicável escuridão dentro de alguns ambientes e até câmeras espalhadas pela casa com a explicação que seriam usadas para um reality show que foi abortado. O roteiro, escrito pelos próprios diretores, é repleto de clichês, furos e excessos, mas não se pode condená-los afinal eles usam a mesma fórmula que há décadas faz jovens espectadores pularem do sofá. Entre as possíveis novas vítimas obviamente estão os sobreviventes do massacre de uma década antes, mas não fica muito claro quem é quem até porque eles estão acompanhados para curtirem um pós-festa reservadamente nos quartos, o que torna todos alvos em potencial. Pelas investigações de Criton fica a estranha sensação de parecer que ele investiga uma chacina em um orfanato ao se referir a vários sobreviventes quando na verdade o grupo de crianças que cresceram traumatizadas somava cerca de meia-dúzia. O detetive tenta ser mais esperto que as vítimas, mas é tão patético quanto elas. Nas cenas de morte, que é o real foco do público, os diretores também seguem a cartilha do gênero e não inovam, mas a conclusão e a revelação de quem está por trás dos assassinatos pelo menos é plausível.
Para quem curte produções slashers, Setenta e Cinco é uma opção razoável para um passatempo despretensioso e com direito a um gancho para uma possível continuação que acabou não sendo realizada, mas no cinemão americano nunca é tarde para uma parte dois. Torcemos para que não tenham a infeliz ideia. A título de curiosidade, o figurino do vilão, um casacão com gola de pelos, é descaradamente copiado do assassino do primeiro filme da franquia Lenda Urbana, o que pode ajudar a explicar o porquê do ostracismo da produção. Diga-se de passagem, até a primeira morte desse longa é reproduzida numa rápida sequência. Se não bastasse a trama e o estilo de narrativa serem extremamente previsíveis, o que esperar quando ainda temos o agravante da obra não se dar nem ao trabalho de criar um visual próprio e emblemático para seu serial killer? A preguiça ainda é refletida em outros aspectos do longa como a falta de ousadia nas cenas de assassinato, edição burocrática e, principalmente, interpretação amadora e caricata do elenco. Ao final não sentimos pena de ninguém e nem mesmo temos clara a ideia de quem seja o real protagonista do engodo.
Terror - 98 min - 2007
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