NOTA 8,0 Drama real vivido por dupla de irmãos que encontraram no boxe a chance de mudar de vida emociona com sua verdade |
O longa roteirizado por Scott Silver já começa bem utilizando a metalinguagem mostrando
um fictício documentário produzido pelo canal HBO sobre a vida do ex-lutador Dicky
Ecklund. Os demais personagens assistem ao vídeo com decepção, mas a estrela do
programa, que para variar estava na prisão, finalmente se toca do que fez com
sua vida, de tudo que jogou fora e decide mudar, o que implicará em mudanças em
seu núcleo familiar e é justamente por adotar esse viés que a narrativa
consegue sair do lugar comum e se aproximar do espectador mais facilmente. Russell,
que até então tinha no currículo como trabalho mais famoso Três Reis,
felizmente opta por conduzir sua narrativa sem recorrer às cenas de ringue para
tentar preencher lacunas. Sua condução é sucinta, interessante e em nenhum
momento percebemos barrigas no texto, aquelas situações que são arranjadas
claramente para espichar o trabalho, mas que no fundo não tem muita serventia. Não
vemos em cena apenas lutas cujo objetivo é conseguir um troféu ou uma medalha,
mas vemos dois irmãos lutando contra as adversidades, apesar de aparentemente
um deles estar um passo adiante do outro. É apenas impressão. Se o irmão torto
teve sua carreira barrada a força devido a problemas com vícios e atividades
ilegais, o outro não consegue decolar profissionalmente graças as
interferências que sofre da família. O núcleo familiar desses rapazes é por
vezes irritante, um feito e tanto de Melissa vivendo a mãe controladora que
deseja chefiar a carreira de ambos os filhos, mas mantendo o primogênito em
primeiro lugar. A atriz ganhou muitos prêmios pelo papel, inclusive o Oscar de
coadjuvante, categoria na qual Amy também se destacou concorrendo com a colega
de elenco. Ela é responsável pela virada na vida do personagem de Wahlberg e
tem a coragem de dizer poucas e boas para a futura sogra, concretizando o
desejo de muitos espectadores a certa altura do campeonato. Praticamente ela
diz o que o público gostaria de extravasar.
Contando com um quarteto de peso encabeçando o elenco, pode
parecer que alguns personagens secundários são desnecessários, mas nos eventos da
vida real eles tiveram sua importância e o roteiro foi respeitoso e não os
omitiu. Falando em realidade, o tom documental dado a obra, a começar pelo
recurso da metalinguagem como já dito, deixa tudo muito mais vívido e crível,
afastando a impressão ruim que porventura outros filmes do tipo possam ter
deixado em alguns espectadores. Até mesmo quem não curte boxe deve dar o braço
a torcer. Tudo neste longa funciona perfeitamente e as quase duas horas de
duração passam em um piscar de olhos. A única coisa que não se encaixa muito
bem é o fato de não ter um protagonista claramente definido. A produção é
vendida como uma biografia do pugilista 'Irish' Mick Ward, mas o personagem
parece muito pequeno diante da força e entusiasmo do irmão. Bale é tão
protagonista quanto Wahlberg, mas acabou sendo indicado como secundário para aumentar
suas chances nas premiações. A manobra deu certo e rendeu até um destaque extra
para o ator no material publicitário. Para muitos este é apenas mais um filme
sobre boxe, mas certamente estas pessoas ouviram o galo cantar, mas não sabem
onde. Entre sopapos, suor, gritaria e ânimos exaltados, o que temos é uma bela
história sobre duas pessoas que se unem para serem campeões. Se um destruiu em
partes sua vida com suas próprias mãos, o outro espera que alguém construa a
sua como bem desejar. Se um se conforma que já está velho demais para voltar
aos ringues, ao menos enxerga na dificuldade a oportunidade de resgatar um
pouco do que perdeu investindo no talento do irmão, este que não confia
totalmente em si mesmo, mas se dá uma chance de provar que pode caminhar com as
próprias pernas. Confrontando medos, desafios e o julgamento da sociedade e da
própria família, O Vencedor é uma bela lição em diversos sentidos.
Aprendemos que é preciso tomar as rédeas da própria vida para conseguirmos o
que queremos. Que a célebre idéia da família ser a base da vida de
um indivíduo é levada a sério demais por certas pessoas chegando ao ponto de
mais atrapalhar que ajudar. Não podemos nos deixar abater devido a tropeços ou
dificuldades. Cair e levantar faz parte do crescimento de todos desde que
nascemos e são situações fundamentais na trajetória de qualquer um que deseja
ser realmente um vencedor. Curiosidade: assista os créditos finais para verem
os comentários do Dicky e Micky da vida real.
Vencedor do Oscar de ator coadjuvante (Christian Bale) e atriz coadjuvante (Melissa Leo)
Drama - 115 min - 2010
Excelente filme. Um tanto convencional, mas bastante sincero no que mostra, e com atuações excepcionais. Bale e Leo mereceram o Oscar, disso não resta dúvidas.
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