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sexta-feira, 8 de abril de 2016

COLHEITA MALDITA

NOTA 8,0

Marco do terror da década de
1980, obra envelheceu e hoje não
é tão impactante, mas ainda causa
arrepios com seu clima desolador
O nome de Stephen King atrelado a alguma produção de cinema automaticamente já traz certo prestígio ao projeto. Famoso por seus contos de terror, mas também se arriscando com sucesso no campo dos dramas, o autor tem uma legião de fãs tanto na literatura quanto na área cinematográfica. Entre os anos 70 e 80, ainda em início de carreiro, King viu trabalhos baseados em suas obras conquistarem crítica, público e figurarem em premiações, até mesmo no Oscar. É dessa safra que faz parte Colheita Maldita, considerado um clássico do terror por muitos. É certo que hoje em dia a produção não é tão impactante quanto foi no passado, mas envelheceu bem, não há muitos sinais evidentes de que o tempo passou, aliás, a imagem envelhecida é até um fator positivo neste caso. Baseado no conto “As Crianças do Milharal”, título original também do filme, o próprio King tratou de rascunhar um roteiro, mas ele foi descartado prevalecendo um escrito por George Goldsmith no qual a violência era mais presente e a estrutura narrativa mais convencional. Burt (Peter Norton) e Vicky (Linda Hamilton) estão atravessando de carro uma estrada deserta quando são surpreendidos por um garoto que acabam atropelando acidentalmente, porém, a criança já estava praticamente morta por estar com o pescoço com um corte profundo. O casal parte para a cidade mais próxima em busca de ajuda, mas quando chegam a Gatlin encontram um ambiente estranho e aparentemente abandonado. A introdução apresenta ao espectador um pouco do histórico macabro do vilarejo. A economia local baseia-se na agricultura, principalmente no cultivo de milho, mas certa vez a colheita foi péssima e a população passou a se apegar na fé para tentar garantir uma boa safra da próxima vez. Eis que surge um misterioso menino pregador, Isaac Chroner (John Franklin), que leva todas as crianças para um milharal para falar sobre as profecias de um demônio dos milharais chamado “Aquele Que Anda Por Detrás das Fileiras”. Isaac, através de seu tenente Malachai (Courtney Gains), lidera uma revolução infantil na cidade e todos os adultos são mortos brutalmente. Nos anos seguintes, tais atos passaram a ser praticados sobre o pretexto de serem sacrifícios necessários para uma boa colheita.

Voltando à trama de Burt e Vicky, eles estranham a cidade abandonada, mas ainda assim sentem que não estão sozinhos por lá. Realmente não demora muito e o perigo mostra a face, ou melhor, suas faces. Um grande grupo de crianças passa a perseguir o casal como se estivessem em transe. Realmente, todos eles estavam alienados devido os ensinamentos perpetuados por Isaac, o enviado que afirma que sua missão é livrar o local dos pecados. Ele induziu a todas as crianças a matarem seus próprios pais e agora eles continuam com o desejo de morte para utilizar o sangue de adultos para adubar uma colheita sagrada. Burt e Vicky precisam tentar escapar de serem os próximos sacrificados e terão que enfrentar a ira de Malachai e dos demais discípulos de Isaac. O roteiro pode não parecer muito assustador hoje em dia, assim como a condução narrativa, mas se deixarmos a nostalgia falar mais alto e tentarmos nos transportar para a década de 80 realmente veremos esse filme de outra forma, ganhará um gostinho especial. Se atualmente já nos assustamos com o nível de apreço pela violência por parte de crianças e adolescentes, imagine o impacto que deveria ter sido um lançamento décadas atrás protagonizado por personagens de faixa etária jovem cometendo atos de extrema crueldade. Claro que para muitos as expectativas acerca da aura criada em torno do título acabam sendo frustrantes. A tensão não é imposta através de um amontoado de cenas de arrepiar que não deixam o espectador ao menos respirar aliviado. O clima de terror surge pela habilidade do diretor Fritz Kiersch em criar ambientações simples e eficientes e experimentar ângulos de filmagens que sempre deixam no ar que algo pode acontecer a qualquer momento ou que alguém está à espreita dos intrusos da cidade como é o caso das cenas em que o casal atropela o garoto. São de arrepiar as sequências em que a ótica de uma pessoa escondida no milharal prevalece. Completando o cenário de terror temos ainda uma trilha sonora macabra que por vezes abre espaço para um tortuoso silêncio.


O roteiro em algumas passagens pode parecer perder o foco, nada que estrague a obra, mas foi algo necessário visto que o conto original era um tanto resumido para preencher um filme de uma hora e meia. Com a liberdade criativa, Goldsmith, no geral, acumulou mais acertos que erros na forma de adaptou o texto economizando em cenas sanguinolentas, mas em contrapartida enriquecendo-o em tensão e crítica ao culto exagerado a crenças e religiões. Uma das grandes sacadas foi mudar o perfil dos protagonistas. King havia os descritos como um casal que se odiava, brigava muito e que fatalmente se entenderiam diante das adversidades. O casal do filme conquista rapidamente os espectadores, estes que passam a torcer e sentir o mesmo pavor deles. Aliás, os principais vilões da trama, Isaac e Malachai, ganharam grandes intérpretes e tiveram suas participações ampliadas na trama. É uma pena que no clímax de tudo, a produção foi preenchida com alguns efeitos especiais que descaracterizaram o caráter realista da obra e os últimos diálogos são de doer, culminado em uma última cena deplorável, mas nada que comprometa a lembrança de um bom filme de terror. O sucesso de Colheita Maldita impulsionou a realização de uma franquia com mais oito sequências, sendo apenas uma lançada em cinema e uma refilmagem para a TV, mas nenhuma se tornou tão famosa e cultuada quanto a obra original. Claro que muita coisa mudou desde 1984 e hoje os filmes de terror vão muito além de criar expectativas e tensões, ou melhor, deixam o sugestionamento de lado e partem logo para o sangue e violência explícitos, mas aqui fica uma boa dica para quem aprecia boas histórias que o tempo não consegue apagar. Mesmo com certos equívocos como logo na introdução explicar os mistérios de Gatlin e pisarem na bola na reta final, principalmente por trocar o viés do fanatismo religioso e real pelo sobrenatural, aqui está mais uma prova do por que dos anos 80 serem tão marcantes na história do cinema.
Terror - 92 min - 1984 
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3 comentários:

  1. Stephen King, quando inspirado, sabe contar uma bela história.

    Seja suspense e terror, seus gêneros prediletos, seja em drama, no ótimo Conta Comigo.

    Esse não assisti, nunca me atraiu. Quem sabe entra na minha enorme lista de pendentes.


    Abraços

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  2. Clássico do Stephen King.
    Evidente que o filme sempre deixa um pouco a desejar em relação ao livro, mas é obra obrigatória.
    Abraço

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  3. Um dos melhores filmes de terror que ja assisti. Claro vindo do verdadeiro mestre do terror!!!

    um grande abraço...

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