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terça-feira, 12 de maio de 2015

22 BALAS

NOTA 5,0

Thriller francês busca
inspiração em Hollywood
para falar sobre fazer
justiça com as própria mãos 
Quem ainda pensa que o cinema francês só sobrevive graças a dramas e romances está por fora. A cinematografia francesa tem explorado com freqüência outros gêneros visando conquistar novos mercados e públicos e o ator Jean Reno surge como o grande expoente nessa trajetória. Com passagem livre para transitar no cinema americano, o nome deste artista já consegue atrair atenções seja em dramas, comédias, suspenses, romances ou em produções de ação, mas ainda assim não tem o poder de quebrar preconceitos. Sem o respaldo de premiações ou críticas elogiosas de especialistas, os filmes estrangeiros em sua maioria acabam sendo despejados diretamente em DVD no Brasil sem direito a campanha de marketing e para completar o infeliz pacote acompanhados de títulos insossos como é o caso de 22 Balas em substituição ao original “O Imortal”. Ok, é certo que em nossas terrinhas a palavra imortal está atrelada a produções épicas, fantasiosas ou a filmes de ação protagonizados por brucutus que escapam ilesos de todos os perigos, sendo que a tradução literal não ajudaria a vender este trabalho do diretor Richard Berry, mas a escolha do genérico título nacional só ajudou a taxar este filme como mais um produto para encher prateleiras de locadoras, embora a nomeação tenha a ver com a história. A trama desta mescla de suspense e ação gira em torno de Charly Mattei (Reno), um fora-da-lei que após muito tempo colecionando inimigos resolveu abandonar a vida de crimes e passar os últimos três anos para se dedicar a sua família. No entanto esse período de calmaria não acontece como ele imaginava. Em uma manhã aparentemente normal o ex-criminoso é vítima de uma emboscada e é encontrado abandonado em um estacionamento com nada mais nada menos que 22 balas de revólver incrustadas em seu corpo. Apesar de muitos acreditarem que Mattei havia morrido, misteriosamente ele sobrevive ao atentado e agora se vê obrigado a voltar a sua antiga rotina e sai à caça de Tony Zacchia (Kad Merad), um ex-companheiro dos seus tempos de submundo e o único homem que se atreveria a tentar matá-lo, mas que cometeu o erro de não se certificar se a emboscada deu totalmente certo. Assim, com a ajuda da policial Maria Goldman (Marina Fois) que também tem contas a acertar com Zacchia, começa uma caçada que deixará muitos mortos pelo caminho até que Mattei consiga acertar seu alvo.

Esta produção francesa, apesar do enredo mais apurado e do toque noir que imprime certa sofisticação, não deixa de em quase duas horas de duração misturar os ingredientes básicos dos filmes policiais e sobre mafiosos que tanto rendem às produtoras e distribuidoras americanas. As primeiras cenas tratam de aproximar o espectador do protagonista mostrando seu relacionamento com a família e a paisagem bucólica e a música clássica ao fundo na sua viagem de volta à Marselha, cidade francesa conhecida pelas ações reais de grupos criminosos, não parecem dignas de um filme de suspense, mas logo as coisas mudam de tom principalmente com a impactante sequência do tal fuzilamento na qual nem um pobre cachorrinho escapa da saraivada de tiros. Depois disso o ritmo começa a se tornar arrastado e sempre se baseando na máxima enunciada em off pelo protagonista logo na introdução: uma pessoa arrependida até pode deixar o mundo do crime, mas o mundo do crime não a deixará em paz. Baseado no livro “L’Immortel”, de Franz-Olivier Giesbert, o enredo desenvolvido pelo próprio diretor em parceria com Eric Assous faz uma vaga alusão à história real de um mafioso francês e o verniz de produção cult trata de escamotear que o roteiro praticamente é uma colcha de retalhos que alinhava clichês manjados do cinemão americano, como as típicas frases de efeito ditas pelos heróis antes de darem o xeque-mate em suas algozes, estes que no caso além de serem caricatos são facilmente encontrados e dizimados por Mattei. Claro que uma personagem feminina também é indispensável para dar uma temperada no enredo, pena que aqui ela é tão insossa quanto o restante do elenco. Para ocupar tal vaga entra em cena uma policial viúva de um homem que também foi morto pelo vilão. Como de costume ela representa a honestidade, mas acaba cedendo e embarcando no plano de vingança arquitetado pelo protagonista, ambos regidos pelos mesmos objetivos: fazer justiça com as próprias mãos.

Berry, mais conhecido pelos seus trabalhos como ator, tentou realizar um thriller de fácil assimilação e que agradasse a um grande público apostando em uma narrativa convencional e bem próxima ao estilo comercial hollywoodiano, mas acabou se perdendo em suas boas intenções e por não abdicar de dar um toque característico europeu ao seu longa. Desde a construção irregular dos personagens, passando pela equivocada trilha sonora baseada em estridentes trechos de óperas, uma escolha um tanto deslocada no contexto geral, até a edição extremamente rápida e em certos momentos confusa, tudo parece trabalhar contra o sucesso de 22 Balas criando uma espécie de distanciamento do espectador que tende a ter a atenção dispersa facilmente. Tentando ao máximo equilibrar o entretenimento e dar certa seriedade ao conteúdo, o longa pode ser prejudicado até mesmo pela pretensão de ir além de um amontoado de cenas de perseguições e tiroteios, concentrando muitos esforços nas construções de diálogos mais substanciosos, o que não agrada muito ao público que aparentemente a produção desejava atingir. Todavia, o resultado final também não deve agradar totalmente ao público que curte filmes alternativos. Ficando em cima do muro, esta obra não é ruim, mas também está longe de ser considerada ótima. É simplesmente regular e cumpre o papel de ser uma opção para um passatempo rapidamente esquecível e que só vem a reforçar que a justiça pelas próprias mãos ainda é um lema que faz a cabeça de muita gente, principalmente daqueles que fazem ou já fizeram um dia parte do mundo do crime. E assim a violência continua sendo combatida com violência e não saímos nunca deste triste círculo vicioso.

Ação - 115 min - 2010 
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