NOTA 8,0 Adaptação modernizada de texto clássico a fim de conquistar o público jovem revela-se uma grata e envolvente surpresa |
Kumble, apesar de adicionar algumas situações
inéditas e incorporar modificações bem-vindas, manteve-se fiel ao texto de base
sem deixar que seu trabalho ficasse datado. Os grandes vestidos cheios de
babados foram transformados em modelitos curtos, justos e decotados, mas a
perversidade de certos personagens e a ingenuidade de outros se mantiveram
intactos. Sebastian (Ryan Phillippe) e Kathryn (Sarah Michelle Gellar) são meios-irmãos
devido a união de seus pais, mas não são parentes de sangue. Eles cresceram
assediando um ao outro e são adeptos de jogos perversos que envolvem sedução e
humilhação, além de praticamente controlarem a vida social de muitos de seus
colegas de escola. Ele tem a fama de ser um incrível sedutor e gosta de manter
tal reputação enquanto ela prefere fazer o gênero moça recatada e de família,
embora ela seja tão imoral quanto o rapaz. Quando seu namorado a troca pela
inocente Cecile (Selma Blair), Kathryn decide se vingar e desafia Sebastian a
seduzir e acabar com a reputação da moça, mas ele considera a proposta muito
simples e que não lhe traria prazer algum. Eis que o jovem fala para a irmã
sobre Annette (Reese Witherspoon), a filha do futuro diretor da escola
preparatória que irão frequentar. Ela pretende se manter virgem até o dia em
que se casar e afirma que seu namorado compreende e aceita seu desejo. Para
Sebastian, seduzir tal jovem puritana é um desafio digno e assim estes irmãos
entram em um acordo. Se ele não conseguir levar Annette para a cama até o final
do verão, seu valioso e luxuoso carro ficará com Kathryn, mas caso ele vença a
aposta poderá desfrutar de uma noite de sexo com a irmã, o grande sonho de sua
vida já que teoricamente o envolvimento entre eles é proibido e arruinaria suas
reputações. Enquanto isso, Kathryn continua com seu plano de humilhar sua
ingênua rival Cecile, com direito a uma sequência que causou frisson na época:
um beijo lésbico apresentado nos mínimos detalhes. Uma ousadia e tanto, mas uma
cena longe de ser vulgar e que poderia até mesmo sintetizar a ideia do título,
tanto o original quanto o brasileiro, felizmente ambos bem escolhidos. Apresentado
o elenco, fica claro que um dos pontos positivos da produção é o elenco jovem,
talentoso e promissor, todos em plena ascensão na época, porém, o tempo passou
e parece que só beneficiou Reese que acabou se tornando uma das queridinhas de
Hollywood, ganhou vários prêmios nos anos seguintes, incluindo um Oscar, e está
sempre em evidência. Aliás, ela e Phillippe se apaixonaram durante as
filmagens, casaram e tiveram dois filhos, mas o relacionamento acabou após
praticamente uma década de convivência.
É certo que o trio de protagonistas não tem do que
se queixar neste trabalho. Todos ganharam papéis de destaque que cresceram
emocionalmente e psicologicamente ao longo da narrativa. Sarah personifica a
crítica ao comportamento dos jovens americanos de classe média ou alta. Por
mais que tenham tudo que o dinheiro pode comprar, a plena felicidade eles nunca
tem e por isso usam como válvula de escape as drogas, o sexo e a promoção da
infelicidade alheia. Phillippe encarna um personagem não muito diferente disso,
mas ele é um caso que ainda tem solução como nos prova a narrativa através de
seu envolvimento com a virgenzinha vivida por Reese, esta que praticamente todo
o filme é tratada como um objeto, mas sua passividade só agrega para a virada
de sua Annette já na conclusão, o ápice total desta obra ao som do grupo The
Verve com a canção “Better Sweet Symphony” embalando um momento de arrepiar e
inesquecível. Aliás, a trilha sonora como um todo é excepcional, casa bem com o
conteúdo e personagens e por anos o CD com as músicas foi um dos mais vendidos
equiparando-se às vendas da melosa seleção de canções de outro clássico da
década de 1990, Cidade dos Anjos. Com diálogos afiados, ritmo
agradável, fotografia e direção de arte caprichados, além de um roteiro
deliciosamente malicioso que une com perfeição drama, romance e erotismo, Segundas
Intenções continua conquistando fãs e tendo repercussão bem maior
que os principais vencedores do Oscar daquela época (realmente precisamos fazer
certo esforço para relembrar os laureados). Sem carregar elogios da crítica
especializada e tampouco prêmios, somente um troféu de melhor beijo conquistado
no MTV Movie Awards, obviamente o lésbico, esta produção merece ser conhecida
pelas novas gerações e até mesmo revista por aqueles que um dia se chocaram ou
aplaudiram esta interessante mistura de elementos clássicos com a modernidade,
do chique com o popular. Tudo bem que a aposta entre os meios-irmãos é um tanto
doentia, mas isso é apenas um detalhe que não atrapalha em nada a apreciação
deste filme. Como já dito, provável que quem já passou dos trinta anos não se
envolva totalmente com tal enredo, a não ser que esta obra seja uma boa
lembrança de sua adolescência, ainda que boa parte dos diálogos e situações
apresentados não seja recomendável para menores de 18 anos. Todavia, o retrato
que apresenta da juventude contemporânea, mesmo sendo uma produção de 1999,
movida ao materialismo e a sexualidade exagerada, tratam de colocar este filme
em um patamar acima da média, uma obra que modestamente marcou uma geração, mas
que continua atemporal. Vale a pena conferir este pequeno tesouro do final do
século passado, um tempo em que infelizmente já verificávamos que imagens e
sons de última geração soterravam boas histórias. Ok, este não é um enredo que
vale ouro, mas diante do que já nos era apresentado parece um trabalho de
gênio. De fato, uma mente brilhante e jovem que soube captar exatamente o que a
turma da sua faixa etária desejava e ainda deseja em um filme que atenda suas
expectativas e compreenda suas cabeças.
Drama - 97 min - 1999
Segundas intenções é filme irônico, sensual e rodeado de manipulações, para quem curte o famoso "gato correndo atrás de rato", alias bela rata e um lindíssimo gato, com certeza vai gostar do filme. Trilha imperdível!Recomendo!
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