Nota 6,0 Investindo na ficção científica e com roteiro cabeça, obra nos faz pensar sobre o futuro
No passado os filmes que focavam
a possível realidade do futuro ou os avanços tecnológicos eram verdadeiros
fetiches, até porque os efeitos especiais ainda estavam em plena fase de
experimentações, portanto os filmes de ficção científica eram uma moda e tanto.
Hoje o gênero já não tem o mesmo prestígio e facilmente é rotulado de filme B e
desperta a desconfiança do público. Código 46, no entanto, foge a esse
estereótipo, mas infelizmente não encontra seu público por mais que o tempo
passe. Esta é uma obra diferente em seu nicho, livre de naves espaciais,
engenhocas mirabolantes ou heróis uniformizados. O viés da história é a
investigação de temas mais humanos, um tanto perturbadores e reflexivos. A
temática central é muito pertinente e trata sobre como as mudanças tecnológicas
podem afetar as sociedades no futuro, algo que no presente já estamos tratando
de abrir caminho graças ao consumo desenfreado e muitas vezes desnecessário de
modernidades. O roteiro complexo criado por Frank Cottrell Boyce é um exemplo
de bom aproveitamento do tempo disponível. Com duração de apenas uma hora e
meia, talvez por questões financeiras ou na melhor das hipóteses por uma
decisão bem pensada, o longa condensa muitas informações de forma sucinta e sem
enrolações, uma tarefa difícil levando em consideração que as ações são
concentradas em cima de dois personagens. Daqui a alguns anos (lembrando que o
filme é de 2003), um governo totalitário monitora e controla a vida das pessoas
na forma de uma grande corporação. O mundo está dividido em zonas e até a
reprodução dos humanos é rigorosamente controlada para evitar os
relacionamentos entre os seres com o mínimo de compatibilidade genética.
Ninguém tem o direito de ir e vir de acordo com sua vontade. As viagens são
restritas e só com um tipo de documentação específica é possível liberar o
trânsito dos cidadãos. William Geld (Tim Robbins) é um investigador que vai até
Xangai para resolver um caso de falsificação desses tais passaportes. Com o dom
de ler o pensamento das pessoas, ele rapidamente descobre que a culpada é Maria
Gonzáles (Samantha Morton), mas acaba se sentindo atraído por ela e decide
acobertá-la. Há ainda mais agravantes nessa relação. Geld é casado e o seu DNA
não bate com o de Maria, mas mesmo assim eles decidem viver esse romance.
Um mundo dividido em zonas (entenda-se o lado dos privilegiados e o lado
dos menos favorecidos) nas quais o trânsito é regulamentado com severas leis e
papeladas necessárias. Essa imagem não é muito distante da realidade que muitos
países vivem hoje em dia, mas aqui há um dado extra: a reprodução humana também
é controlada através de rigorosos exames de DNA. Os casais precisam se submeter
ao teste antes da união para descartar a possibilidade de terem o mínimo de
genes compatíveis, do contrário inviabilizaria qualquer chance de dar continuidade
a esses relacionamentos. O casal protagonista tem química na tela e ambos são
intérpretes de primeira e se adaptam muito bem as histórias que falam sobre
relações humanas. O visual de modernidade acética e o uso da ficção futurista
para tratar de questões sociais também foram usados com êxito em Gattaca
- A Experiência Genética, o que pode trazer lembranças, além do cineasta
Michael Winterbottom ter obviamente bebido na fonte de outros filmes do tipo.
Uma grande sacada do diretor foi retratar sua sociedade futurista reunindo o
maior número possível de etnias e nacionalidades, o que dá um ar verossímil à
obra, ainda que ela trate da divisão da população por ordens superioras levando
em conta padrão social, raça ou quaisquer outros mecanismos que possam ser
usados de forma correta ou não para classificar os indivíduos em um ou outro
grupo. No geral, Código 46 tem um tema interessante, é
bem interpretado, mas o roteiro deixa a desejar, aos poucos se torna enfadonho
e dispersa a atenção facilmente, ainda que o filme seja curto. Porém, entre os
poucos e na maioria péssimos títulos que são produzidos no gênero de ficção
recheados de efeitos especiais para escamotear a falta de história, esta obra é
um lampejo de inteligência e frescor para agradar aos espectadores que gostam
de cinema para refletir.
Drama - 92 min - 2003
Sempre escuto falar bem desse filme. Porém, não sei o motivo, ele nunca me atraiu. Prefiro 1984, Blade Runner. Filmes futuristas são minha praia. Mas, esse ainda não me convenceu a assisti-lo.
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