Nota 8 Apesar dos clichês, longa cumpre seus objetivos contando com elenco cativante e afinado
O gênero comédia romântica acabou caindo em um círculo vicioso. É muito difícil ser surpreendido por alguma novidade ou fato inesperado em um filme desses, mas vez ou outra surge algum que consegue sutilmente se destacar embora no fundo a premissa básica esteja com todas as letras descritas no enredo. Vestida Para Casar segue o passo a passo de um casal de pombinhos rumo ao altar, porém, deve surpreender levemente na tão aguardada cerimônia religiosa. Ok, após os vinte minutos iniciais muitos já terão matado a charada, mas como popularmente se diz o melhor da festa é esperar por ela e nisso o roteiro de Aline McKenna, do elogiado O Diabo Veste Prada, capricha nas situações inseridas apostando no humor sutil, bem longe do pastelão, e consegue alinhavar uma história açucarada com ritmo, personagens bem delineados e jogar um molho diferenciado ao surrado tema da mocinha romântica buscando o seu príncipe encantado.
A história já começa de um modo peculiar e divertido apresentando Jane (Katherine Heigl) que está se dividindo entre duas festas de casamento distintas e em locais diferentes em uma mesma noite. Ela é uma das madrinhas de duas grandes amigas que fazem questão de agradecê-la diante de todos os convidados por todos os serviços que ela prestou para a realização das festas. Desde criança Jane tem uma afeição muito grande por esse tipo de cerimônia e já adulta colaborou com nada mais nada menos que 27 amigas que se casaram e escolheu desde os convites, aprovou os cardápios, fez os últimos ajustes no visual das noivas minutos antes da festa, entre outras tantas coisas. Tanta dedicação é com muita boa vontade, pois ela sonha com o dia em que elas retribuirão o favor quando for sua vez de colocar véu e grinalda e a cada noiva feliz sua esperança se renova. O problema é que o tempo passa e Jane não consegue um noivo, mas para seu coração já existe um candidato. Ela é apaixonada por George (Edward Burns), seu chefe, e faz de tudo para agradá-lo, mas ele só a retribui com gestos de amizade ou lhe dando mais trabalho alegando confiar nela. Quando as coisas entre eles parecem finalmente avançar um pouquinho o destino coloca um empecilho no caminho.
Tess (Malin Akerman), a irmã caçula da moça, conquista o coração do empresário rapidamente e Jane, sempre preocupada em ver os outros felizes, prefere reprimir seus sentimentos e mais uma vez encarnar o papel de dama de honra perfeita. A partir deste baque, ela começa a repensar sua vida, mas não é nada fácil chutar o pau da barraca quando o assunto envolve família, por isso ela continua engolindo os sapos da irmã e acobertando suas mentiras. Quem a ajuda a enxergar a realidade que a vida está passando e que ela vive dos bons momentos dos outros é o colunista social Kevin (James Marsden), outro assíduo frequentador de casamentos, mas por motivos de trabalho. Ele é encarregado de cobrir matrimônios para um famoso jornal, mas deseja ocupar uma nova posição na empresa e quando conhece Jane vê na curiosa história dessa dama de honra exemplar a chance de escrever a grande matéria que seria um divisor de águas na sua vida profissional. Inicialmente o contato entre eles é por puro interesse por parte do rapaz que não condena as uniões amorosas, mas sim a indústria que foi criada em torno de um evento que deveria ser íntimo e voltado a felicidade do casal e não superproduções realizadas para agradar aos convidados. Entre discussões e trocas de confidências, Kevin se dá conta de que se apaixonou por Jane de verdade, mas a revelação de que até o momento ela era uma espécie de objeto de estudo para ele pode colocar em risco o relacionamento entre os dois.
Bem, pela sinopse já sabemos como as coisas vão caminhar, mas o roteiro é objetivo e praticamente não reserva espaço para cenas tolas, assim somos poupados de sequências constrangedoras de declarações de amor exageradas. Tudo bem, Heigl protagoniza um momento desses quase no final, mas totalmente crível, pois o que vemos em cena são personagens bastante naturais, com seus defeitos e predicados. Com ótimo timing para comédia e uma boa química em cena, sem dúvidas a atriz e Marsden são a alma deste filme e responsáveis pelas melhores cenas. O nome original, "27 Vestidos" (na mudança de título dessa vez o Brasil se deu bem), faz referência as tantas cerimônias que Jane já foi convidada para ser madrinha. Todos os modelitos, dos mais simples aos mais espalhafatosos, incluindo produções orientais e outras baseadas em clássicos do cinema, ainda estão recheando o guarda-roupa da moça que acaba fazendo um ensaio fotográfico descompromissado para Kevin sem saber que todo o material que ele estava recolhendo serviria para sua matéria. Embora os discursos do rapaz garantam ênfase à crítica da indústria casamenteira formada para atender aos caprichos das noivas, o tema é tocado de leve e não chega a ser explorado ferozmente, como fica bem claro na cena final que, não podia ser diferente, se passa em uma cerimônia de casamento simplória, vale ressaltar.
A crítica especializada, como era de se esperar, tratou e ainda trata esta produção com preconceito e deboche, mas o fato é que ela cumpre o que promete e agrada seu público-alvo, ou seja, os adeptos do romantismo e, principalmente, as plateias femininas de todas as idades. Só pelo fato do final surpreender muita gente (ou talvez os mais desligados) já eleva o filme de patamar de avaliação, mas a história por si só diverte, emociona e mantém um ritmo constante sem criar barrigas, aqueles trechos de pura enrolação, mesmo com quase duas horas de duração. Para apreciar esse romance água-com-açúcar despretensioso é preciso se livrar de preconceitos e deixar-se embarcar nesse enredo meloso, irresistível e despretensioso. Com direção de Anne Fletcher, a mesma de Ela Dança, Eu Danço, um questionável sucesso entre os jovens, Vestida Para Casar nasceu para se tornar clássico das sessões da tarde e é uma ótima opção para passatempo. Curiosamente, a diretora esqueceu de adicionar hits românticos para embalar sua trama, uma marca registrada de produções do gênero. Realmente nem toda comédia romântica é igual, mas as diferenças precisam ser caçadas com pinças.
Comédia romântica - 110 min - 2007
Essa filme é lindo e divertido, ele mostra um lado sobre o casamento que outros filmes não mostram, é simplesmente magnífico.
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