Nota 7 Previsível e emotivo ao extremo, obra cativa com drama realista e protagonistas sinceras
O cinema de cunho religioso tem público cativo, mas talvez não o suficiente para justificar os investimentos no filão visto pelos mais céticos como uma forçada propagação de crenças e dogmas. Todavia, os grandes estúdios não querem perder os espectadores mais conservadores e as pequenas produtoras que trabalham com temáticas de fé e redenção desejam ampliar sua penetração no mercado. Nada melhor do que um acordo entre ambas as partes, assim Hollywood abriu espaço e seus cofres para que roteiros do subgênero gospel ganhassem uma injeção de qualidade técnica e elencos de apelo popular, como é o caso de Milagres do Paraíso. A trama escrita por Randy Brown narra os percalços vividos por Christy Beam (Jennifer Garner) para tentar salvar a vida de sua filha Annabel (Kylie Rogers) que quase morreu por duas vezes, mas salvou-se sem que a ciência encontrasse explicações.
Os primeiros minutos são dedicados a apresentar o cotidiano dessa família bastante devota, mostrando a harmoniosa relação existente com o patriarca, o veterinário Kevin (Martin Henderson), e as outras filhas do casal, Abbie (Brighton Sharbiro), amante de futebol, e Adelynn (Courtney Fansler), uma grande fã da cantora Taylor Swift. Destacar tais gostos e atividades dos personagens é uma forma de afastar o estereótipo de que uma pessoa religiosa viva em um isolamento cultural ou social. A família Beam comparece sempre que possível na igreja, mas aos domingos o programa é obrigatório para agradecer às bênçãos que recebe e pedir para que assim continue, contudo, certa vez acaba surpreendida por uma notícia. Annabel começa a ter estranhos sintomas que nenhum médico consegue identificar em relação a uma doença específica. Vários diagnósticos são dados e a cada nova tentativa de cura o quadro da menina piora, mas Christy não hesita até mesmo em ir para outra cidade a fim de conseguir a ajuda do Dr. Nurko (Eugenio Debez), um renomado médico que obviamente está com a agenda cheia para os próximos meses, mais um empecilho para testar a fé da mãe desesperada.
Qual pecado essa mãe, o seu marido ou até mesmo a própria filha teriam cometido para receberem tal castigo? É claro que Deus não abandonaria a família e após certa insistência Christy consegue que o tal médico tome conhecimento do caso, mas os problemas não cessam. É descoberto que Anna sofre de uma grave anomalia intestinal, uma paralisia que impede a completa digestão de alimentos, algo sem cura e com alta taxa de mortalidade. O desenvolvimento da doença até seu agravamento é apresentado de forma bastante didática, no melhor estilo dos filmes de autoajuda nos quais os personagens precisam chegar ao fundo do poço para então alcançarem a redenção. Contudo, como desgraça pouca é bobagem, quando tudo parece perdido e todos estão desolados Annabel ainda sofrerá mais um revés. A garota acaba se envolvendo em um acidente com uma árvore, no entanto, há males que vem para o bem e o ocorrido com ela comprova tal teoria.
Já viu essa história antes? As semelhanças com O Céu é de Verdade são gritantes, não a toa ambas as produções são da mesma equipe de produtores que não quiseram ousar e apenas repetiram o que deu certo no longa anterior que também abordava um garotinho com uma doença grave que abala a fé de sua família. Se ele chegou a conhecer o céu por alguns minutos, com Annabel não é diferente e seus relatos a respeito do paraíso impressionam. A diretora Patricia Riggen, dos também emotivos Sob a Mesma Lua e Os 33, lança mão de todos os clichês possíveis para levar o espectadores às lágrimas ou ao menos ficar com um nó na garganta. É impossível acompanhar a trama e não se colocar no lugar da mãe desesperada. Garner consegue tocar a emoção do público com uma atuação segura e convincente alternando momentos de desespero com outros em que tenta amenizar as situações para não desanimar a filha. A pequena Rogers também esbanja carisma e naturalidade ao compor um perfil que tinha tudo para ser piegas, mas nos contagiamos com a alegria de viver de Ryan e seus esforços para aguentar a cansativa rotina hospitalar.
A cura repentina da garota pode pode soar como uma tentativa de forçar a barra para um final feliz, mas o longa se baseia em fatos verídicos, o que nos faz crer que de fato milagres acontecem. Inclusive, durante os créditos finais, são apresentados os membros da real família agraciada pela graça da cura. Tal episódio é narrado em um livro escrito pela própria Christy Beam, assim é quase impossível ter uma visão mais crítica ou racional sobre o ocorrido. Se os envolvidos estão convencidos de que o poder da fé os ajudou e tem a prova disso que nem a ciência consegue explicar, quem há de questionar? Justamente não ter brechas para levantar opiniões divergentes parece ser o intuito destas produções de cunho religioso. Seu público cativo que ter suas crenças reforçadas e quem sabe a mensagem dos roteiros tocar os corações dos mais céticos ou ao menos os ensinem a respeitar a fé alheia. Pela ótica e expectativas do público-alvo, então Milagres do Paraíso cumpre sua tarefa com louvor.
Drama - 109 min - 2016
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Esse filme sabe me emocionar toda vez kkkkk super lindo e história verídica que adoro
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