Nota 7 Obra resgata espírito de antigas produções juvenis, mas explora superficialmente seu tema
O genérico título já diz muito sobre o filme. Com palavras comuns ao gênero terror, provavelmente nenhum amante da seara pensará que O Mistério da Casa Assombrada irá ser de arrepiar. De fato, essa não é a proposta desta produção austríaca (embora em idioma original alemão) baseada no romance "Das Schaurige Haus", de Martina Wildner. A quem se propor a assistir, duas alternativas: ou você verá o longa como algo deslocado de seu tempo ou irá apreciar com a nostalgia aflorada. Trata-se de uma aventura que resgata o clima de uma sessão da tarde da década de 1980, uma história ingênua para reforçar valores de amizade. O adolescente Hendrik (Leon Orlandianyi) e o pequeno Eddi (Benno Rosskopf) são obrigados a se mudar para um antigo casarão em uma nova e pacata cidade ao sul da Áustria por conta do trabalho de Sabine (Julia Koschitz), que ganha a vida explorando minas e grutas. A família ainda digere a recente morte do patriarca, assim algumas discussões são constantes entre o trio e a mãe parece um pouco distante dos filhos, o que a levará a não dar muita atenção aos indícios que eles relatam de que a casa guarda segredos. Mal coloca os pés na residência e Eddi já ouve vozes e não tarda para o irmão começar a ter sonhos estranhos. Tudo piora quando o caçula começa a sofrer de sonambulismo e a escrever numa parede uma palavra em um dialeto que desconhece.
Intrigado, Hendrik tem certeza que algo de ruim aconteceu naquela casa e começa a investigar o mistério que pode ter ligações com Mme Seelos (Inge Maux), a arredia vizinha. Para tanto, ele conta com a ajuda de Ida (Marii Weichsler) e Fritz (Lars Bitterlich), seus poucos amigos do colégio e que entendem um pouco do idioma eslovênio, assim decifram que a palavra que Eddi escreveu durante o sonambulismo significa cogumelos. Aumentam as suspeitas da casa ser assombrada o fato dos irmãos passarem a ter comportamentos estranhos como se incorporassem espíritos momentaneamente e as visitas de algum estranho na calada da noite para realizar uma espécie de ritual no jardim da casa deles. Detalhe, o quintal abriga um pequeno cemitério no qual uma lápide possui as fotos dos antigos moradores, também uma mãe com seus dois filhos com idades semelhantes aos novos ocupantes do imóvel. Coincidência? É claro que não. Todas as pistas são dispostas na primeira meia hora para deixar bem mastigadinho o conteúdo para o espectador brincar de detetive. Resta saber a causa da morte dessas pessoas e o por quê de suas almas parecerem clamar por ajuda.
Mistério e aventura com um elenco jovem, cada qual com seu estereótipo. O herói, a garota esperta, o nerd e a criança inocente. Uma mãe alheia aos problemas dos filhos e aos poucos surgem pessoas que parecem dispostas a impedir que venha a tona o segredo que ronda a tal casa do título. Se logo nos primeiros minutos você tiver uma sensação de déjà vu com Os Goonies estará coberto de razão e com a certeza que teve uma infância feliz. O diretor Daniel Prochaska certamente se inspirou no clássico oitentista e em tantas outras produções do período para dar corpo à sua obra, além da popularidade de séries mais recentes como "Stranger Things" e "Dark" terem colaborado para o aval do projeto. A aura fantástica do longa ganha reforço com o cenário escolhido. Eisenkappel-Vellach, a cidade onde tudo acontece, tem certo quê de vilarejo medieval em contraste com os automóveis e celulares de seus habitantes. Por outro lado, é mostrada a tradição de um festejo com roupas típicas, os jovens são adeptos de passeios de bicicleta e o grupinho de detetives até recorre a uma antiga câmera que faz fotos instantâneas na esperança de capturar a imagem de um espírito. É o tradicional tentando preservar seu espaço frente as modernidades.
De fato, Prochaska parece propor justamente essa convivência pacífica. O material que trabalha conecta-se de forma atemporal com seu público-alvo, algo que seria um prato cheio para o uso de efeitos especiais de ponta na busca de imagens impactantes e quem sabe até ampliando a presença do sobrenatural no enredo. Entretanto, prefere resgatar a essência de uma aventura juvenil das antigas lançando mão de trucagens baratas e muito mais realistas. Quando Hendrik decide investigar a misteriosa figura que invade seu jardim a noite, sabe que trata-se de alguém de carne e osso, assim como basta um círculo de sal para barrá-lo quando está tomado por um espírito, não é preciso mostrar uma alma entrando e saindo de seu corpo que já revela a possessão pela mudança de fala e olhar. Uma pena que o roteiro de Marcel Kawentel e Timo Lombeck não siga o estilo adotado pelo diretor e opte por um ritmo bastante acelerado como se buscasse agradar a geração streamig que tem um leque de opções para assistir e não pode perder tempo em uma só produção. Tudo acontece muito rápido. O interior e o jardim da residência, ambos mal cuidados, são pouco explorados, a amizade dos irmãos com os novos amigos é construída em minutos e tampouco sentimos temor dos habitantes da cidade em relação a uma nova família habitar um local a tempos abandonado.
E quanto aos fantasmas? Eles pouco se manifestam e quando surgem não é para pregar sustos e vão direto ao assunto: querem que os jovens os ajudem a punir quem os assassinou. O roteiro tem pressa para chegar ao clímax com a esperada revelação-surpresa que mostra-se frustrante ao inserir de última hora personagens forçosamente vinculados ao cerne da história e com os quais o espectador não tem qualquer vínculo. De qualquer forma, o enredo está longe de ser ruim, pelo contrário, consegue fugir de clichês hollywoodianos e até ser bastante criativo em alguns momentos, mas deixa um gostinho amargo de que o mistério foi explorado superficialmente. Alguns bons elementos são descartados como, por exemplo, as fotos das famílias reunidas. Eddi guarda debaixo da cama o retrato de seu clã, demostrando seu apego a memória do pai que no final das contas não influencia em nada nos rumos da trama. Enquanto isso, a foto dos antigos moradores permanece exposta numa parede simplesmente para uma rápida cena em que um dos personagens ressabiado a veja refletida num espelho, mas nada de mais acontece. Faz falta o clichê do retrato dos moradores atuais sendo constantemente trocado pela velha foto morbidamente mantida na casa, ao menos teríamos uma certeza maior que há espíritos no local. Mesmo com falhas (porque os jovens se esconderiam e deixariam uma porta aberta denunciando onde estavam?), O Mistério da Casa Assombrada é um agradável programa em família e que pode despertar a curiosidade das novas gerações a conhecerem aventuras do passado, época em que criança vivia e brincava como criança.
Aventura - 98 min - 2020
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