Nota 3 Se aproximando mais ao estilo de slasher movie tradicional, longa abandona suas origens
Embora não tenha faturado horrores e a narrativa tivesse seus percalços, é certo que não se pode ignorar a importância que Olhos Famintos adquiriu, uma espécie de trash movie acima da média e com um vilão dotado de potencial para gerar sequências pela sua mitologia não totalmente esclarecida no primeiro filme. Diz o ditado popular que em time que está ganhando não se mexe, assim Olhos Famintos 2 foi novamente escrito e dirigido por Victor Salva, produzido pelo mestre Francis Ford Coppola e até o ator Justin Long, protagonista do anterior, topou fazer uma ponta, mas desta vez o resultado foi bem aquém do esperado, ao menos para quem se surpreendeu com o outro mais atento a construção do suspense e da aura de um cinema sujo e marginal resgatando um estilo bastante predominante na década de 1970. Esta sequência dedica-se a conectar o vilão Creeper (Jonathan Breck) mais ao terror dos slasher movies, com alta contagem de corpos apesar dele buscar vítimas específicas. Só relembrando seu método de caça, a diabólica criatura, uma espécie de animal alado em estado de decomposição, volta a vida a cada 23 anos e tem poucos dias para se alimentar de partes de corpos humanos que julga necessárias para lhe saciar, sendo as vítimas farejadas através do odor de medo que exalam.
O primeiro filme termina mostrando que o monstro não foi capturado, assim a continuação se passa às vésperas dele voltar para seu período de hibernação, na verdade um estado em que parece um animal empalhado. Todos esses detalhes antes ficávamos sabendo ao longo da narrativa. Agora a cena de introdução em uma fazenda já mostra um ataque, um dos sinais de que a continuação deseja se aproximar a um estilo de terror mais arraigado à cultura dos jovens onde a construção do clima de tensão é dispensada em prol do imediatismo. Perto dali, um ônibus está voltando para a cidade grande levando a bordo uma equipe colegial de jogadores de basquete e alguma líderes de torcida, além dos treinadores orgulhosos do grupo que acabara de vencer um campeonato interestadual. No meio do trajeto, o ônibus tem um pneu estourado por um desconhecido artefato pontiagudo arremessado sabe-se lá de onde e por quem. Não demora muito e outro pneu é avariado da mesma forma impedindo o veículo de seguir viagem. Quando a noite cai, parados no meio do nada e com dificuldades para solicitar socorro, o grupo passa a ser ameaçado pelo tal monstro que não hesitará em acabar com qualquer um que tente impedi-lo de colocar as garras em suas caças previamente definidas.
Unidos pelo instinto de sobrevivência, os jovens precisam ser solidários uns com os outros para escaparem, mas entre personalidades tão diversas os conflitos que se instauram no interior do veículo podem ser tão perturbadores quanto a ameaça que os aguarda do lado de fora. Eles até recebem a ajuda de Jack Taggart (Ray Wise), o fazendeiro que aparece nos minutos inicias. Ele está sedento por vingança, já que a criatura capturou seu filho, e vem preparado com uma arma caseira que ele próprio construiu especialmente para esse embate. É de praxe que continuações deixem a desejar em relação ao filme original e um dos motivos mais comuns é a ausência de elementos surpresas. Aqui, por exemplo, já sabemos o suficiente sobre a criatura para suas aparições não impactarem mais como antes. Assim, só nos resta esperar que suas emboscas sejam ao menos bem elaboradas, mas não é o caso. Praticamente limitado a circundar o ônibus, é bastante previsível os momentos em que Creeper irá surgir, ainda que desta vez use mais seu poder de voar, assim podendo arrancar com facilidade suas vítimas pelo teto, mesmo que leve apenas a cabeça deixando o corpo cambaleante e jorrando sangue no interior do veículo para desespero dos demais. Cenas como essa destoam completamente do que foi apresentado no longa de 2001. Sem o trunfo de elucidar aos poucos o mistério em torno de Creeper, desta vez Salva não enrola muito para colocá-lo em cena, dando inclusive vários closes em sua tenebrosa face, mas por outro lado derrapa na construção dos personagens.
Nos importávamos com Darry e Trish, as principais vítimas do anterior, porque em poucos diálogos existiu a proeza deles nos cativarem e fugirem dos estereótipos dos jovens drogados e loucos por sexo. Embora Long faça uma pequena participação em delírios de um dos personagens, a atriz Gina Philips recusou reprisar o papel de sua irmã. A ideia inicial era que a moça junto com a paranormal que tentou ajudá-los, agora estivessem à caça do monstro que fugiu com Darry e a trama do ônibus seria apenas secundária. Antes tivesse dado tudo certo para os planos originais seguirem. A turma presa no veículo é das mais desinteressantes possíveis e não conseguimos nos envolver com nenhum personagem a ponto de torcer por sua sobrevivência, no máximo ficar do lado de Taggart que está no meio do imbróglio querendo fazer justiça com suas mãos. Todavia, não se espante se você vibrar toda vez que Creeper conseguir capturar uma vítima. Aparentemente o filme é justamente para saciarmos nosso masoquismo vendo corpos sendo mutilados, diga-se de passagem, o vilão tem predileção por rapazes, uma ousadia do diretor já que no passado fora acusado de assédio a garotos. Com situações previsíveis e absurdas, além de diálogos toscos, Olhos Famintos 2 acaba assumindo um teor de comédia que não existia na primeira parte, ou ao menos não propositalmente, e não consegue desenvolver a tensão crescente entre os ocupantes do ônibus.
Salva tinha intenções de priorizar conflitos étnicos e a natural rivalidade que existe entre grupo de adolescentes, mas o que fica latente é o desejo egoísta de cada um salvar sua própria pele. Algumas cenas de mortes são bem realizadas e até existem algumas reações certeiras do grupo contra o monstro, como no momento em que sua cabeça é atravessada por uma barra de metal, sequência inserida para justificar que ele não tem apenas fome, mas também o desejo de que as partes que pega de suas vítimas ajudem a regenerar seu pútrido corpo. Contudo, no geral o longa é calcado em situações inverossímeis. Não que o outro filme não tivesse seus absurdos, mas todos estavam mais bem contextualizados e o espectador totalmente imerso numa atmosfera de fantasia, mas ao mesmo tempo com um pé na realidade graças a boa exploração de um ambiente praticamente desértico e crível. Nesta segunda caçada de Creeper, a impressão é que a estrada e o campo que a cerca fazem parte de um microcosmo sem possibilidades de fuga, assim se correr o bicho pega e se ficar o bicho come. Como de costume, o final deixa aberta a possibilidade para uma nova continuação aproveitando-se que teoricamente o vilão trata-se de uma criatura indestrutível e que só seu próprio ciclo de vida pode tirá-lo de circulação de tempos em tempos.
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