Uma cuidadora de crianças cheia de mistérios já virou um elemento corriqueiro em produções de suspense e terror. Se suas imagens ainda são muito atreladas a ideia de mocinhas gostosas e salientes, que aproveitam a oportunidade para além de ganhar uma grana extra também terem noites quentes com seus namorados aproveitando dos luxos e confortos das casas dos patrões, as serviçais de A Profecia ou A Mão Que Balança o Berço, por exemplo, provam que se infiltrar em uma casa e, principalmente, se envolver ao máximo com as famílias para as quais trabalham são peças fundamentais de planos muito bem arquitetados. A Babá é mais um título a engrossar a lista aliando um enredo de vinçança à elementos sobrenaturais.
Anna (Schuyler Fisk) é uma mãe solteira que precisa urgentemente contratar alguém para cuidar de seus filhos para então poder dar conta de seus dois empregos, um deles como enfermeira, o que a obriga a cumprir plantões noturnos. Noa (Jadin Harris) é uma pré-adolescente muito esperta e bastante zelosa com Michael (Christian Ganiere), seu irmão mais novo. Juntos eles bolam um plano para fazer a mãe desistir de toda e qualquer babá que se apresente alterando as vezes que cada um aprova ou desaprova a candidata para não levantar suspeitas. Já cansada de tantas entrevistas frustradas, quando Anna estava prestes a desistir eis que certa noite literalmente bate à sua porta Leonor (Jaime Murray) que parece muito disposta para o trabalho e confiante em consegui-lo. A mãe não pensa duas vezes e aceita que ela comece imediatamente, mesmo a contragosto da filha que logo de cara não se simpatiza com a mulher claramente de ares misteriosos.
As desconfianças de Noa aumentam quando investiga os pertences pessoais da babá que parece exercer alguma espécie de controle mental sobre algumas pessoas, como acontece com Frank (Nick Gomez), policial amigo da família a quem a garota pede socorro em vão. Ao conhecer Leonor, o rapaz parece de imediato encantado por ela e logo trata de fazer com que Anna perca qualquer tipo de receio em deixar seus filhos aos cuidados dela. Michael também facilmente se afeiçoa a nova babá, mas sua irmã não desiste de provar que ela não é a pessoa doce que aparenta e que entrou em sua casa com propósitos bem definidos. A certa altura, é reintroduzido à trama David (Nicholas Brendon), que no prólogo aparece perdendo sua filha pequena para alguma criatura da que habita a floresta (ainda que predominante de árvores secas) que cerca a sua casa, obviamente isolada de tudo e na qual habitará a família que sofrerá com as ações da babá.
Ao longo da narrativa são dadas pistas sobre a verdadeira natureza de Leonor que conduzem a um universo fantasioso, o que coloca o filme na mesmo seara de produções dirigidas ou produzidas pelo mexicano Guillermo del Toro, obviamente guardadas as devidas proporções. Seu estilo de mesclar horror e fantasia faz escola e o diretor Joel Novoa revela-se um de seus pupilos, embora não demonstre tanta criatividade e habilidade para lidar com um orçamento modesto. Para economizar, elementos oníricos só aparecem no clímax, o que poderia ser benéfico ao conjunto a fim de manter a tensão crescente, contudo, o cineasta não consegue trabalhar com eficiência o argumento e tampouco desenvolver os perfis dos personagens. Murray é quem se sai melhor com seus olhares assustadores sempre que necessário, mas não conseguindo disfarçar a ambiguidade da babá. Harris também realiza um bom trabalho dentro de suas possibilidades, já que o próprio roteiro de Ed Dougherty e Marcel Sarmiento a sabota criando cenas de pura insensatez para uma garotinha tão esperta.
Com um breve tempo de execução, A Babá é marcado por algumas reviravoltas, mas nada que engrandeça a produção é bastante previsível. Desde que Leonor surge pela primeira vez já imaginamos seus objetivos e nem sua ligação com algo sobrenatural surpreende. As informações ainda no início de que Michael ouve vozes e faz desenhos perturbadores também já deixam claro que ele será alvo fácil para sua futura cuidadora, assim já sabemos que caberá a sua irmã a função de alertar sobre suas desconfianças, mas claro que ninguém acredita nela. É uma pena que Novoa não explore ao máximo nem mesmo o cenário que ofereceria diversas oportunidades, ainda que clichês, mas que poderiam deixar o longa ao menos mais assustador.
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