Tem
filmes que desde o primeiro minuto já deixam explicita sua vocação para
tapa-buraco. Geralmente suspenses envolvendo assassinatos e traições, são
produções de baixo orçamento e para consumo rápido e esquecível que antigamente
serviam para substituir o lançamento bombado que estava indisponível na
locadora, preenchem madrugadas na TV para os insones e hoje ainda são feitas
aos montes agora para abastecer os catálogos dos serviços de streaming. O
Intruso certamente seria um título que seria campeão de
locações reunindo todos os elementos típicos de um telefilme ou daquelas fitas
que você escolheria a julgar pela arte da capa. O roteiro de Aimée Lagos traz
um tema batido, mas a forma como é conduzido compensa a previsibilidade. A
curta duração e o fato de não enrolar muito para chegar ao conflito ajudam e
muito.
Colin
Evans (Idris Elba) estava prestes a ganhar sua liberdade condicional depois de
cumprir cinco anos de prisão sentenciado por homicídio culposo tendo
assassinado um homem e cinco mulheres. Contudo, o presidente do conselho lhe
nega o benefício não acreditando em seu arrependimento e recuperação, mas
quando está sendo levado de volta ao presídio o criminoso arma uma emboscada
para os agentes que o conduziam e consegue fugir. Seu primeiro ato é ir atrás
de Alexis (Kate Del Castillo), com quem se relacionava anos atrás, mas não
gosta nada de encontrá-la na companhia de um outro homem. Quando vai até a casa
dela encontra um bilhete com uma mensagem comprometedora e não pensa duas vezes
antes de agredir a mulher. Transtornado, ele sai sem rumo pela noite sob uma
forte tempestade até chegar à casa de Terri Granger (Taraji P. Henson), uma
ex-agente da polícia que abriu mão da profissão em prol do sonho de construir
uma família. Nesta noite, ela está sozinha com seu bebê recém-nascido e com a
filha pequena Ryan (Mirage Moonschein). Seu marido Jeffrey (Henry Simmons)
horas antes fez suas malas para viajar e visitar seu pai, mas demonstrou ser um
pouco indiferente à esposa.
Para
quem é escolado nessas produções rasteiras sobre assassinatos e traições, os
primeiros minutos já entregam o jogo, mas ainda assim o diretor Sam Miller
consegue prender a atenção o resto do filme mesmo recorrendo aos mais manjados
truques do gênero. Evans bate à porta da casa de Terri alegando ter sofrido um
acidente de carro e precisava chamar o guincho. Em um primeiro momento, ela
oferece ajuda com certo receio, mas não demora muito a convidá-lo a entrar
conquistada por seu jeito educado e simpatia. Logo, ambos estão contando
detalhes de suas vidas, ele limitando-se a dizer que tinha uma noiva que
descobriu que o traia. Já a dona da casa fala sobre detalhes da sua antiga
profissão, relação com os filhos e com o marido. Aliás, a relação do casal é a
chave para a mudança de comportamento de Evans que então começa a se sentir
mais íntimo da mulher, porém, não se sente nada à vontade com a chegada de Meg
(Leslie Bibb), uma amiga que havia prometido à Terri lhe fazer companhia nesta
noite e que se surpreende ao vê-la com outro homem em casa. Pela ficha criminal
do rapaz não é difícil imaginar o que irá acontecer com esta intrometida e o
que ele planeja com a ex-policial.
Evans não foi supostamente pedir auxílio na casa de Terri por acaso e, como já dito, para bom entendedor os primeiros minutos matam toda a charada, basta prestar atenção nos detalhes. Mesmo previsível a cada susto que promete, O Intruso torna-se uma boa pedida graças ao carisma dos protagonistas. Elba está perfeito como o criminoso que não nega sua má índole. Dissimulado e bom de lábia, é fácil identificarmos em cada uma de suas frases e atos seu intuito de cativar sua vítima sem que ela levante suspeitas. O fato de ter crianças envolvidas ajuda a criar tensão e prender a atenção do espectador que se envolve com o drama vivido por Terri que ao mesmo tempo que tenta se desvencilhar da situação de ameaça também tem que proteger a vida dos filhos.
A
comoção pelo drama de Terri é ainda maior por sabermos que ela está
completamente alheia ao motivo que colocou o fugitivo da polícia em seu
caminho. Apesar de algumas situações soarem inverossímeis, inseridas
simplesmente para a trama ser conduzida como um jogo com peças marcadas, Miller
demonstra destreza para manter o clima de tensão e lidar com elenco reduzido e
praticamente um único cenário. A opção por toda a ação ser desenvolvida em uma
única de noite de chuva tórrida contempla a produção com um irresistível ar de
nostalgia. Difícil assistir e não ter a sensação de que este filme seria uma
opção que você certamente alugaria sem botar muita fé, mas terminaria com a
sensação plena de que valeu a pena para matar uma noite ociosa, ainda mais uma
fria e chuvosa.
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