Nota 5,0 Bom argumento é desperdiçado em suspense banal que entrega de bandeja seus segredos
O título pode vender uma ideia errada. A Casa de Vidro não se trata de uma residência amaldiçoada ou algo do tipo na qual assombrações espreitam atrás de paredes com providenciais transparências, mas antes fosse sobre isso mesmo que se tratasse o filme dirigido por Daniel Sackhein, um especialista em seriados de TV então estreando nos cinemas. Não a toa seu trabalho de fato tem toda a pinta de telefilme a começar pelos cortes abruptos, passando pelas situações fáceis e convenientes para a trama caminhar suave e obviamente não descartando as atuações canastronas, não só do vilão como também da mocinha. Após a morte repentina de seus pais em um acidente de carro e sem ter parentes próximos, a adolescente Ruby (Leelee Sobieski) e seu irmão mais novo Rhett (Trevor Morgan) passam a viver sob a tutela de ex-vizinhos, o casal Erin (Diane Lane) e Terry Glass (Stellan Skarsgard). O sobrenome em português significa vidro e não bastasse tal rompante de originalidade eles ainda vivem em uma grande, isolada e moderna residência no alto de um penhasco praticamente toda vedada em vidro.
Contudo, a transparência da maior parte das paredes dessa casa não condiz com o sigilo que seus habitantes tanto prezam. Não demora muito para o espectador perceber que o bondoso casal na verdade trata-se de picaretas que estão de olho na polpuda herança dos órfãos e que o filme se sustentará sobre uma grande quantidade de clichês e situações previamente anunciadas. Os Glass os recebem com muito carinho e presentes, mas já diz o ditado, quando a esmola é grande o santo desconfia. Ou nem sempre. Rhett, ainda uma criança e sem conhecer praticamente nada da vida, se entusiasma em poder viver em uma casa luxuosa e ganhar os mais modernos jogos de videogame, assim mostra-se conivente com o casal quando confrontado por sua irmã que, bem mais esperta e atenta aos sinais, começa a investigar por conta própria os seus tutores e chega a conclusão que não foram abrigados por eles por pura e simples caridade. Essa é a deixa para uma sucessão de sustos baratos e escapadas mirabolantes se desenrolarem dentro da casa, mesmo com a maior parte de seus cômodos expostos.
A ideia da casa praticamente toda exposta, mas um mórbido abrigo de segredos e mentiras, poderia ser trabalhada de maneiras mais criativas, mas Sackhein se rende a situações tolas e manjadas como espiadas pelos cômodos na calada da noite, ouvir conversas telefônicas pela extensão e até mesmo uma reviravolta nos minutos finais quando tudo parece resolvido. A produção até mantém um ritmo cadenciado, mas nada que empolgue. O diretor poderia ter se arriscado mais investindo em pistas falsas, porém, optou por mastigar demais as situações. A impressão é que todos os dias Ruby é surpreendida de dez em dez minutos por alguma nova prova concreta de que estaria caindo em um golpe, além de tomar conhecimento de um outro segredo obscuro e íntimo dos Glass que acaba jogado na tela não encontrando muita conexão com o mote principal, salvo reforçar o caráter problemático do casal.
Sobieski, em alta na época, segura razoavelmente bem as pontas como a mocinha em perigo enquanto Morgan não é muito exigido além de bancar o pré-adolescente deslumbrado que se ilude com bugigangas. Uma pena, pois ambos seriam peças fundamentais para fazer o suspense funcionar, assim como Lane que, embora crie dúvidas sobre estar a favor do golpe ou a certa altura se arrepender, tem um desfecho sem graça deixando a sensação de que sua personagem nem precisaria existir no roteiro de Wesley Strick. Quem se sai bem nessa história é Skarsgard, mesmo não disfarçando desde o início que assumiria o posto de vilão. Então um nome de maior presença no cinema europeu e alternativo, seria sua chance de entrar no mercado hollywoodiano e emplacar seguidos blockbusters, afinal mostra-se muito à vontade em um personagem estereotipado. No entanto, continua vivendo certo ostracismo sendo aquele tipo de ator que você sabe que já viu em algum filme, mas não lembra sequer sobre seu personagem ou enredo, que dirá seu nome.
Com sustos comedidos e violência branda, A Casa de Vidro poderia passar despercebido como uma inofensiva sessão da tarde, um filminho para reforçar a importância de seguir seus instintos e proteger a quem se ama. Mais uma variável do combate do bem contra o mal, qualquer criança com um mínimo de repertório cinematográfico consegue prever tudo o que vai acontecer e as chances de se chocar com qualquer situação no caso é zero. De qualquer forma, prende a atenção até certo ponto e tem um charme especial por conta da enigmática ambientação que dá título a obra, embora seja explorada com preguiça pelo diretor que reduz o imenso cassarão que se avista no penhasco em um microcosmo de poucos cômodos. Não foi nem de longe um grande sucesso, mas ganhou uma continuação com outro elenco na época apenas como desculpa para preencher catálogo de locadoras.
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