Nota 6,0 Cinebiografia de famoso e cruel assassino peca por focar mais o lado dramático da história
O que os filmes Psicose, o
em preto-e-branco do genial Alfred Hitchcock, O Massacre da Serra Elétrica,
o original setentista, e o oscarizado O Silêncio dos Inocentes tem em
comum além do fato de serem clássicos do horror e suspense? A resposta é a
inspiração na história real de Edward Gein, um dos mais bizarros casos de
assassinos em série que os EUA já teve. Tantos filmes excelentes “homenagearam”
o psicopata que era de se esperar que seu próprio filme fosse surpreendente,
mas infelizmente Ed Gein – O Serial Killer não
está à altura. Steve Railsback interpreta o personagem-título, morador de uma
pacata cidade de interior dividindo a casa com Augusta (Carrie Snodgress), sua
mãe que, apesar de bastante severa e religiosa, causava um doentio fascínio ao filho.
Desde pequeno ele acompanhava George (Bill Cross), seu pai, ao matadouro da
família, assim estava acostumado a ver animais sendo extirpados e pendurados em
ganchos para o sangue escorrer, cenas que também o hipnotizavam, mas em casa se
submetia a atos de penitência e desprezo, além da leitura de trechos da Bíblia,
em busca de purificação. A morte do pai e do irmão Henry (Brian Evers) não afetaram
Ed tanto quanto a perda de sua mãe, que acabou descontrolado e adquirindo estranhos
hábitos como ler a respeito de canibalismo, reencarnação e estudos sobre a anatomia
feminina. Não demora muito para começar a furtar cadáveres de mulheres para
realizar experiências mórbidas e com partes de seus corpos desenvolver objetos macabros
como braceletes, tigelas, cintos entre tantas outras coisas feitos à base de
pele e vísceras humanas, inclusive roupas. Sentindo-se completamente desamparado
sem Augusta, fruto de uma criação mimada e rígida, Gein comete estes atos na ânsia
de aplacar sua dor, assim mata a quem considera pecadoras como uma maliciosa
garçonete, uma esnobe vendedora e quem mais passasse pelo seu caminho e acreditasse
não seguir os preceitos religiosos que aprendeu. Com cadáveres frescos, além de
retirar a pele, ele ainda drenava o sangue da mesma forma que aprendeu a fazer
com os animais.
Não muito cauteloso em seus
ataques, mesmo assim Gein foi responsável por uma série de atrocidades e
mutilações. Quando foi pego em flagrante em 1957, nem mesmo a polícia acreditou
no que encontrou em sua casa, um verdadeiro show de horrores. Além dos objetos
feitos com partes humanas, incluindo ossos, foram descobertos mais de uma
dezena de cadáveres em vias de serem esquartejados. Ele alegou não se lembrar
de ter matado ninguém e acabou sendo enviado para um asilo psiquiátrico onde
ficou preso até a sua morte em 1984 por causas naturais. Contudo, seus atos
bizarros e cruéis o tornaram uma espécie de ícone pop com sites e fã-clubes,
influência na literatura e, como já dito, inspiração para filmes emblemáticos. O
Massacre da Serra Elétrica, por exemplo, teve o conceito do assassino Leatherface
baseado, além dos hábitos de mutilação, no fato de na casa de Gein terem sido encontrados rostos completos estampados
em objetos como se fossem máscaras, embora exageraram ao afirmar que o filme
como um todo foi baseado em eventos reais. Apesar da escabrosa história real, que
por si só já é o bastante para impressionar, infelizmente Ed Gein – O Serial Killer evita ao máximo
chocar e apresentar violência extrema como era de se esperar. É compreensível que
o diretor Chuck Parello desejava fugir do lugar comum. Para que abusar da carnificina
se quem vai ver o filme certamente já sabe ao menos o básico sobre o assassino?
Contudo, acabou pegando muito leve na abordagem não conseguindo trazer à tona a
complexidade e perversidade dos atos de Gein. O próprio roteiro de Stephen
Johnston contribui para isso dando mais entonação dramática aos fatos,
construindo lentamente o perfil psicótico do protagonista e só indo além na
reta final, culminando com o ápice de sua loucura. No conjunto, o longa
apresenta apenas uma trama razoavelmente interessante que prende a atenção por
sabermos que tudo aconteceu de verdade, colaborando para tanto o fato de Railsback
guardar grande semelhança com o assassino real. Com a ajuda de alguns retoques
de maquiagem, é como se o ator tivesse colocado em prática as ações de seu
personagem e usado uma máscara com a própria pele de Gein. Só faltou encarnar
seu espírito com mais vitalidade.
Suspense - 89 min - 2000
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