Nota 6,5 Pequena produção independente foi a última chance de brilhar dada a astros esquecidos
Patrick Swayze e Melanie Griffith eram dois grandes nomes do cinema nos anos 1980 e suas popularidades perduraram até o início da década seguinte, mas pouco a pouco a dupla foi perdendo seu brilho e consequentemente seu espaço, restando apenas se contentar com a participação em algumas poucas produções que não chamaram a atenção. Eternamente Lulu sequer chegou a estrear nos cinemas americanos e, como no Brasil, foi lançado diretamente para o consumo doméstico, assim seu esquecimento seria inevitável. De fato, está longe de ser uma obra inesquecível, mas também não é nenhum desastre e tem seu próprio charme. A comédia dramática roteirizada e dirigida por John Kaye narra a história Ben Clifton (Swayze), um escritor infeliz com os rumos de sua carreira, mas que também não tem tanta sorte na vida amorosa. Ele é casado há quase vinte anos com a psiquiatra Claire (Penelope Ann Miller), mas o relacionamento entre eles é cada vez mais distante.
O desgaste do matrimônio abre as portas para voltarem à tona lembranças de Lulu McAfee (Griffith), a grande paixão do escritor nos tempos da faculdade, porém, o romance sempre era ameaçado pela condição de saúde mental dela que acabou sendo internada em uma clínica psiquiátrica. Certo dia, ela foge da instituição disposta a reencontrar Clifton e chega com uma notícia bombástica: eles tiveram um filho! Agora ela quer convencer seu amor da juventude a viajarem juntos de carro por milhares de quilômetros e atravessarem os EUA para irem ao encontro do rapaz que está prestes a completar 16 anos e que nem ela própria conhece já que o entregou para adoção praticamente recém-nascido. O escritor não pensa duas vezes antes de colocar o pé na estrada em companhia da ex-namorada, o que enfurece sua esposa que decide também ir atrás deles só que de avião.
Durante a viagem, obviamente Lulu vai tentar seduzir e reatar o relacionamento com Clifton e aos poucos dúvidas sobre os reais motivos desse reencontro são levantadas. Existiria realmente o tal filho ou tudo seria invenção da mente perturbada da mulher? Ou ainda, seria este um plano bem arquitetado por alguém que passou anos reclusa e remoendo uma paixão? A trama em si não é das mais originais, mas aos poucos conquista a atenção mesclando equilibradamente drama e comédia, além de toques de romance que foge da mesmice ao abordar o amor entre duas pessoas de meia-idade. Todos os personagens são mostrados com naturalidade, tendo suas qualidades e defeitos, e o enredo também descarta a necessidade de um vilão, papel que fatalmente ficaria nas mãos de Claire.
Os rompantes de loucura da personagem-título, por exemplo, garantem encantadoras cenas cômicas, mas outras são angustiantes. Suas relações com o grande amor da sua vida e também com a rival são desenvolvidas de uma forma surpreendente, dando oportunidade a cada um deles repensarem suas vidas. Eternamente Lulu apresenta interessantes conflitos morais, temas delicados e de cunho social. Loucura, adoção, traição, problemas familiares, amor exagerado e superação de perdas estão em pauta, honrando assim o rótulo de produção independente e fugindo do estilo convencional dos chamados road movies que geralmente seguem o caminho de comédias escrachadas em que a cada quilômetro rodado alguma bobagem acontece. No primeiro e único longa dirigido por Kaye, a viagem serve como força motora para momentos de reflexões de personagens no fundo infelizes e que podem agora ter uma segunda chance para mudarem o rumo de suas vidas e Swayze e Grifftih atuam com vontade como se fosse o canto do cisne de suas carreiras.
De fato, Hollywood foi cruel com os astros da fita depois que eles deixaram de ser a bola da vez, cada vez oferecendo menos oportunidades aos veteranos que no passado protagonizaram grandes sucessos. Grifftih atuou em produções oitentistas renomadas como Dublê de Corpo e chegou a concorrer o Oscar por Uma Secretária de Futuro, porém, anos mais tarde, suas aparições tornaram-se bissextas e apáticas. Já seu companheiro de cena, Swayze veio a falecer em 2009 deixando um legado de clássicos como Dirty Dancing - Ritmo Quente e Ghost - Do Outro Lado da Vida, mas nos seus últimos anos de vida foi relegado a projetos de pequeno porte ou simples participações afetivas, até para preservar sua frágil saúde. Que pena que nem sempre a vida real é como a fictícia permitindo que a certa altura todos ganhem uma chance de dar uma guinada e recomeçar.
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