Nota 8 Elevado à clássico trash, longa mais diverte que assusta, além de oferecer clima nostálgico
Para quem nunca assistiu, certamente o título A Casa do Espanto deve gerar bastante curiosidades e expectativas, afinal trata-se de uma das fitas mais representativas do gênero terror e também da década de 1980. Contudo, para quem não tem o mínimo de nostalgia ou apreço pela época e tampouco acha divertido um filme trash com letras maiúsculas, possivelmente irá se decepcionar bastante. Contrariando expectativas, na trama criada pelo roteirista Ethan Wiley os sustos são mínimos, mas as gargalhadas estão garantidas. O início é promissor focalizando a fachada e o interior do casarão de propriedade de Elizabeth Hooper (Susan French), uma idosa que é encontrada morta em seu quarto. Ela suicidou-se com uma corda amarrada no pescoço aparentemente sem motivos, mas seu sobrinho, o escritor Roger Cobb (William Katt), seu único herdeiro, acredita que ela tomou tal atitude devido a seu perturbado estado mental, já que há muito tempo acreditava que a casa era habitada por fantasmas.
Precisando de sossego e inspiração para escrever seu novo livro, o rapaz decide se mudar para a residência, ainda que o local não fosse o mais indicado devido as lembranças ruins que lhe desperta. Ele passou praticamente a vida toda naquela casa, indo embora apenas quando se divorciou de Sandy (Kay Lenz), com quem o relacionamento foi desestabilizado com o repentino sumiço do filho do casal certa vez que ele brincava na piscina do quintal. Em paralelo, Cobb ainda tem que lidar com a memória de sua traumática experiência no exército quando foi enviado à Guerra do Vietnã, em especial precisa superar momentos relacionados à Big Ben (Richard Moll), seu grande amigo na época. É justamente sobre as amargas lembranças do conflito que ele deseja escrever, contrariando a vontade do chefe e dos seus próprios fãs que preferiam uma história de horror, o gênero com o qual o escritor tem mais intimidade. Todavia, será realmente difícil fugir do campo das assombrações, afinal Cobb irá viver experiências inexplicáveis de volta ao casarão.
Os estranhos acontecimentos são apavorantes para o protagonista, mas divertidos deleites para os espectadores desde que tomados pelo espírito irreverente que costumam permear as fitas de terror oitentistas. Pegando carona no sucesso de A Hora do Espanto lançado um ano antes, no Brasil o filme ganhou uma alcunha que tenta fazer certa analogia entre as produções, todavia, a obra assinada pelo diretor Steve Miner passa longe do clima de mistério que cerca o longa vampiresco. Não seria exagero dizer que a fita traz certo clima de sessão da tarde, ainda que nos créditos exista o nome do produtor Sean S. Cunningham, um dos responsáveis pelos primeiros filmes da franquia Sexta-Feira 13. Cenas envolvendo Harold (George Wendt), um inconveniente vizinho, e Tanya (Mary Stavin), uma gostosona que deixa o filho pequeno por uma noite aos cuidados de Cobb, reforçam o espírito nonsense da obra. Isso sem falar nos apuros para se livrar de uma mão endiabrada.
E quanto aos fantasmas? Na verdade, as assombrações são monstros, criaturas bizarras cujas caracterizações lembram um pouco o estilo usado em A Morte do Demônio, mas com um orçamento um pouco maior o diretor lançou mão de materiais de melhor qualidade, como o látex. No comparativo entre estes dois grandes expoentes do terror, Miner também buscou fazer uma obra mais limpa esteticamente economizando na sanguinolência, assim poupando vários litros de groselha, e evitou vômitos e vísceras para o expectador não se enojar. Além da grotesca assombração que habita o armário, diga-se de passagem, que eleva a fita ao máximo do trash, a ex-esposa do protagonista também vem a certa altura se transforma em uma asquerosa criatura. Sorte das atrizes Glenn Close e Sigourney Weaver que declinaram o convite para interpretarem Sandy e escaparam do momento vergonha alheia.
Por fim, no clímax, surge ainda um ameaçador fantasma da guerra, a figura de concepção visual mais complexa, um tipo de robô movido por uma parafernália elétrica. Tentando trazer algum conteúdo relevante, o roteiro insere por meio de flashbacks o conflito do Vietnã, temática bastante comum aos filmes da época, e mostrando o protagonista como alguém que sofre de estresse pós-traumático, forçando no final seu embate com o que realmente lhe atormenta. Mesmo deixando situações mal explicadas, nem mesmo é revelado o porquê da casa ser assombrada, e contando com uma resolução apressada e previsível, A Casa do Espanto acabou tornando-se um clássico trash e ainda gerou mais três sequências que infelizmente degradam a memória do original que, se não assusta e chega a constranger com as piadas involuntárias, ao menos oferece um clima nostálgico envolvente. Talvez a única coisa que cause espanto realmente para as novas gerações seja a televisão ou o computador que equipam a casa, ambos então modernos, mas hoje considerados do arco da velha.
Terror - 83 min - 1986
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