Nota 6,0 Refilmagem de clássico do cinema-catástrofe aposta em efeitos especiais e requenta trama
Na década de 1970 tornaram-se populares os chamados filmes-catástrofes, produções que mesclavam ação e suspense colocando grupos de pessoas em risco em acidentes devido a ação do próprio homem ou por conta da fúria da natureza. Terremotos, explosões, afogamentos, enfim a lista de tragédias é grande e praticamente todas elas foram reunidas em O Destino do Poseidon, um dos clássicos desta seara sendo inclusive lembrado em premiações. O longa propõe acompanhar a luta pela sobrevivência de um pequeno grupo de pessoas, em meio a centenas de vítimas fatais, presas em um navio que na noite de ano novo acaba virando de cabeça para baixo. A maioria delas não se conhecia, mas se unem pelo instinto de sobrevivência que as toma diante de uma situação limite e correndo contra o tempo. Passaram-se mais de trinta anos para o longa ganhar uma repaginada ancorada pela justificativa de efeitos especiais avançados. Em Poseidon o diretor alemão Wolfgang Peterson teve como grande preocupação prender a atenção do espectador com cenas repletas de tensão e adrenalina envolvendo adversidades como fogo, ventania, armadilhas e, obviamente, muita água. Isso talvez porque em termos de história o roteiro de Mark Protosevitch limitou-se a repetir o conflito original.
Uma onda gigantesca faz tombar um luxuoso transatlântico em plena noite de réveillon e um pequeno grupo de sobreviventes é obrigado a se unir para tentar escapar por conta própria reunindo forças e se valendo de habilidades que nem imaginavam possuir. A embarcação, que chega a ficar totalmente virada de cabeça para baixo, pouco a pouco vai tendo seus compartimentos inundados e o tempo passa a ser um inimigo tão veloz e perigoso quanto a ação da água. O argumento é o mesmo, mas ao menos Protosevitch se preocupou em criar novos personagens e, apesar de suas limitações de perfis, interpretados com competência. Dessa forma foi possível manter o fator surpresa sobre quem chegará com vida ao casco invertido da embarcação, embora cartas marcadas não faltem. No longa original, as situações de desespero eram causadas em sua maioria não pelas adversidades em sim, mas pela tensão gerada entre o grupo eclético reunido para tentar escapar, diga-se de passagem, dos mais interessantes. O remake infelizmente reduz o objetivo destas pessoas a simplesmente sobreviver, até porque parecem mais preparadas fisicamente. Richard Nelson (Richard Dreyfuss) é um arquiteto homossexual que está pensando em cometer suicídio após ser abandonado pelo companheiro. Robert Ramsey (Kurt Russell) é um ex-bombeiro e prefeito de Nova York que está viajando com sua filha Jeniffer (Emmy Rossum) e seu futuro genro Christian (Mike Vogel). Dylan Johns (Josh Lucas) é um jogador profissional que está de olho em Maggie James (Jacinda Barrett), uma mãe solteira que viaja com Conor (Jimmy Bennett), seu pequeno filho.
Ainda temos a latina Elena (Mia Mestro), uma passageira clandestina que está a bordo a convite de Valentin (Freddy Rodriguez), um dos garçons da embarcação, e o Capitão Bradford (Andre Braugher) e o jovem Lucky Larry (Kevin Dillon) completam a trupe que acompanharemos ao longo de todo o filme, não havendo chances para nenhum figurante sequer sair vivo da história. Contudo, Petersen não está nem um pouco preocupado com toda essa gente. A ação praticamente ininterrupta se desenrola enquanto os personagens tentam resolver seus problemas particulares e um ou outro acaba inevitavelmente desaparecendo. Os primeiros quinze minutos são dedicados a apresentação de seus conflitos e perfis, mas o enlace entre todos só acontece após a tragédia e de forma apática. O astro da fita é realmente o transatlântico, uma colossal construção em aço onde toda a ação se desenvolve, exceto a primeiríssima cena na qual acompanhamos Jhons, o personagem mais próximo do estereótipo de herói, correndo pelo exterior do navio rodada em um de verdade. O restante do longa foi concebido inteiramente em estúdio, combinando cenários digitais com sets gigantescos espalhados por galpões. Chama a atenção a detalhada direção de arte, mas uma pena que tudo vá literalmente por água abaixo em pouco tempo, restando apenas as ruínas para admirarmos. Os efeitos sonoros também são de tirar o chapéu, assim como a fotografia escura e a iluminação baixa que contribuem para a sensação de claustrofobia.
Tanto o longa original quanto o remake são adaptações de "Tragédia no Mar", um romance lançado no final da década de 1960, uma história ficcional em torno do desastre real do Titanic, episódio que anos mais tarde ganharia sua versão cinematográfica definitiva com Leonardo DiCaprio e Kate Winslet como protagonistas. Certamente, guardadas as devidas proporções, Poseidon acabou prejudicado e inevitavelmente comparado à superprodução vencedora de onze Oscars. Tirando o roteiro capenga e as atuações no piloto automático, os efeitos especiais são tão bons quanto, com uma realidade impressionante. As sequências em que o interior da embarcação é destruído pelo colapso da onda são feitas com esmero. Como o acidente foi poucos minutos após a contagem regressiva de ano novo, praticamente todos os tripulantes estavam no salão de festas, assim acompanhamos a destruição de apenas um cenário e a edição poderia até ter investido mais no detalhamento da tragédia. Os demais compartimentos vemos a deterioração pouco a pouco conforme os personagens conseguem rumar para a superfície como se se fosse um videogame no qual a cada fase concluída um novo desafio era proposto. A narrativa é burocrática e previsível com a eliminação de alguns personagens pelo caminho, por regra os mais desagradáveis são a bola da vez, e reservando um momento emocionante para o clímax. A contagem de corpos é bastante relevante, mas concentra-se nos figurantes limados no exato momento da virada da embarcação.
Curiosamente, o núcleo principal escapa quase completamente ileso e o roteiro desperdiça a oportunidade de desenvolver situações interessantes presentes no longa setentista, como a célebre sequência tensa e dramática em que a personagem da atriz Shelley Winters morre afogada. Ao final nos perguntamos qual a razão para um remake que não acrescenta em nada e pode até diminuir méritos do original existir. Peterson havia trabalhado com temática semelhante em O Barco – Inferno no Mar e Mar em Fúria, respectivamente sobre um submarino em tempos de guerra e o outro sobre um navio pesqueiro enfrentando uma terrível tempestade. No entanto, o próprio revelou que investiu na refilmagem de uma produção que nunca morreu de amores, mas sabe de sua importância dentro da História do cinema. Entre prós e contras, a justificativa mais válida para uma segunda versão é apresentar a novas gerações uma história de sucesso com adaptações técnicas, já que dificilmente se interessariam a ver uma produção com imagens desgastadas, som abafado e atores que podem passar despercebidos por terem abandonado a carreira ou falecido. No filme em questão, as novas tecnologias disponíveis também foram fatores decisivos aliados a escalação de um elenco com rostos mais conhecidos do público contemporâneo. Para quem não viu o primeiro filme a sessão-pipoca é garantida.
Aventura - 99 min - 2006
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