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sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

INFLUÊNCIA


Nota 2 Terror espanhol abusa dos clichês e acaba se tornando uma obra confusa e sem identidade

Já faz alguns anos que a Espanha é reconhecida como o berço do gênero terror. De lá vieram excelentes produções como Rec que além de sequências também gerou interesse de Hollywood em fazer seu remake e também em emigrar cineastas hispânicos para dar um gás ao seu universo de horror. Contudo, o país também tem lá seus tropeços como é o caso de Influência, longa de estreia do diretor Denis Rovira von BoeKholt que, apesar de apresentar alguns bons momentos esporádicos, deixa claro em diversas passagens suas dificuldades para conduzir a obra. Baseado no romance do britânico Ramsey Campbell, o longa conta a história de uma família desestabilizada por algo sobrenatural. Que novidade! Alicia (Manuela Vellés) se muda com o marido Mikel (Alain Hernández) e a filha Nora (Claudia Placer) para a antiga casa em que viveu quando era criança e de onde não guarda boas recordações. Ela vai para ajudar a cuidar da mãe Victoria (Emma Suárez) que está já há alguns anos em estado vegetativo e presa a uma cama, mas deixa claro que faz isso em consideração a irmã Sara (Maggie Civantos).

O retorno faz Alicia reviver dolorosas lembranças do passado e as coisas se complicam quando uma série de eventos inexplicáveis passam a colocar a vida de todos em perigo e a afetar principalmente o comportamento de Nora. O primeiro ato do longa é dedicado a estabelecer a relação entre os personagens e a oferecer pequenos detalhes sobre o sinistro passado da família e o que levou a moribunda matriarca a flertar com o satanismo e outras forças ocultas. Nesse ponto o longa é bastante direto e razoavelmente bem feito, caprichando na exploração do cenário aterrorizante da residência onde praticamente toda a ação acontece. Contudo, o roteiro, escrito pelo próprio cineasta, vai apresentando os fatos do passado e do presente da família de forma aleatória, sem continuidade ou transição entre uma cena e outra, o que pode gerar certa confusão e até mesmo desinteresse.

Quem decide encarar até o fim acaba se decepcionando com a avalanche de clichês que estão por vir. Requentar situações não são os reais problemas do longa, afinal de contas é difícil ser original neste tipo de produção, mas BoeKholt poderia ter evitado anunciar os acontecimentos dosando nos efeitos sonoros e nas tomadas reveladoras. Fica nítida a pretensão de se aproximar de um estilo hollywoodiano a fim de atingir um público mais amplo. A estratégia acabou chamando a atenção da Netflix que adquiriu o filme para seu catálogo, ainda que a empresa de streaming tenha produções independentes do gênero muito superiores. BoeKholt parece ter medo de ousar e prefere seguir a linha do horror tradicional apostando em uma casa rústica e antiga, símbolos demoníacos, um provável amigo imaginário, família problemática e em uma fotografia escura e iluminação baixa, como se os próprios personagens vivessem na penumbra propositalmente, assim clamando por energias negativas.

Apesar de contar com todos os clichês já testados e aprovados, realmente nada de muito assustador acontece, a não ser os momentos em que o silêncio é quebrado pela lenta respiração de Victoria que é mantida viva por intermédio de aparelhos. Ficamos na expectativa de que a qualquer momento sua fragilidade será desmascarada, obviamente uma cena reservada para o clímax, diga-se de passagem, uma sequência de pouco impacto apesar de investir no gore, despejando muitas imagens carregadas de sangue para compensar todo o marasmo. Provavelmente a maior parte do orçamento foi gasto no ato final com maquiagens e fluídos vermelhos para finalmente termos a materialização de todos os demônios que o longa conjura ao longo de sua frágil narrativa.


O grande problema de Influência é não ter estopo para se manter por pouco mais de uma hora e meia. O diretor demora quase uma hora para desenvolver o drama familiar reciclando situações para esticar a trama, assim como a inserção de alguns personagens que não acrescentam nada, entram e somem de cena sem dizer a que vieram. Vale destacar o bom trabalho da atriz mirim Placer responsável pelos momentos mais violentos e conseguindo tornar crível a transformação do perfil de sua personagem de menina dócil para vingativa. Ela é diretamente influenciada pela avó que mesmo em coma transmite toda sua energia negativa para a garota e para o desespero de Alicia que sabe que a única forma de salvar a filha é matando a mãe. O resultado é um filme frio e que desde o início deixa uma incômoda sensação de deja vu e, pior ainda, de algo que você não tem vontade alguma de rever.

Terror - 99 min - 2019

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