Nota 7 Leve e sarcástica, comédia critica a busca pela fama e o interesse pela vida alheia
A busca pelos quinze minutos de fama sempre foi um tema abordado pelo cinema, mas desde o final da década de 1990 tonou-se obrigatória sua discussão em tempos de realities shows e redes sociais que transformam anônimos em celebridades instantâneas, mas até quando tal fama consegue perdurar? É essa a discussão proposta por Bem-vindos ao Meu Mundo, produção independente que critica o poder de sedução da super exposição levando o indivíduo a perde a noção do bom senso e do ridículo. A solitária e bipolar Alice Klieg (Kristen Wiig) sempre gostou da ideia de ser flagrada por uma câmera e sua imagem ser visualizada por milhares de pessoas, mas os pensamentos se intensificam quando dá a sorte de faturar uma bolada na loteria. Inocentemente ela acredita que o dinheiro lhe trará a chance de brilhar e se tornar famosa e para isso acontecer entra em contato com uma emissora de TV decadente oferecendo milhões para comprar um horário para exibir um programa roteirizado, dirigido e estrelado por ela mesma.
Grande apreciadora de Oprah Winfrey, ela passa a assistir incessantemente os seus trabalhos para se inspirar e convencer Rich Ruskin (James Marsden), o dono da emissora, a produzir uma temporada de sua atração batizada de forma homônima ao filme. Através das consultas com o doutor Daryl Moffet (Tim Robbins), ficamos sabendo que Alice sofre de um sério transtorno de personalidade e ter um programa no qual ela é o centro das atenções obviamente acarretará uma sucessão de imprevisibilidades. A primeira é o protesto de alguns profissionais da emissora, como Deb (Jennifer Jason Leigh), que não vê sentido em uma atração dedicada a falar sobre memórias e experiências de uma anônima. Mesmo assim, necessitando de dinheiro urgentemente, Ruskin acaba cedendo e produz o sonho de Alice e para surpresa dos incrédulos o programa se torna um verdadeiro fenômeno de repercussão. Contudo, o sucesso sobe à cabeça da moça a ponto de causar danos em sua relação com algumas pessoas antes muito próximas a ela, como sua melhor amiga Gina (Linda Cardellini). A obsessão pela fama até a leva a investir em um romance com o irmão do magnata da emissora, Gabe (Wes Bentley).
Nessa espiral de loucura, a trama escrita por Eliot Laurence mescla humor, drama e uma boa dose de vergonha alheia. Em destaque temos uma protagonista feminina forte, exagerada e muito interessante. Alice tem um universo próprio e uma inocência misturada a certo egoísmo capaz de gerar tanto empatia quanto repúdio, mas indiscutivelmente ela nos faz rir de situações insanas. Impossível conter o riso ao vê-la na abertura do programa entrar no cenário dentro de um cisne e fazendo caras e bocas ou quando por longos minutos degusta um pedaço de bolo ao vivo. São cenas aparentemente tolas, mas no fundo que revelam bastante da personalidade da protagonista que conduz seu programa quase de modo amador, colocando em prática improvisos que na verdade são frutos de sua bipolaridade, ainda que o longa não se aprofunde na questão do transtorno. De certa forma, os espectadores do tal programa acabam se identificando com sua apresentadora que alimenta sonhos, afinal se uma mulher sem muito a dizer conseguiu seu espaço na mídia qualquer um também poderia conseguir, basta ter dinheiro para tanto.
O Show de Truman talvez tenha sido o primeiro filme de grande repercussão entre público e crítica com tal temática mostrando a vida de um homem que desde seu nascimento foi acompanhado e manipulado diante das câmeras. Com menos criatividade envolvida, mas com tom crítico tão acentuado quanto, Ed TV foi lançado pouco tempo depois apresentando um desconhecido que é convidado a protagonizar um reality acompanhando sua rotina, mas sem muito a dizer ou a fazer para entreter o público, a produção acaba interferindo no que deveria ser um show de realidade acrescentando conflitos para aumentar a audiência, porém, causando problemas para a vida pessoal do rapaz. No geral, os dois filmes colocam em xeque aquela estranha curiosidade pela vida alheia inerente a todos os seres humanos, por menor que seja o interesse. Não seria errado ou exagero dizer que Bem-vindos ao Meu Mundo traz resquícios das duas obras, mas amplia o foco da exposição por cercar o cotidiano de uma mulher que cresceu sonhando com os holofotes. Já diz o ditado popular, quem nunca comeu melado quando come se lambuza e Alice vai aproveitar ao máximo a oportunidade.
Mais do que fazer piada da bizarrice que no fundo move esse de tipo de entretenimento televisivo, o longa tem como principal qualidade apresentar um melancólico retrato de uma sociedade que se acostumou e agora ensina as novas gerações a revelar tanto sobre a própria rotina que passou a encená-la, inclusive assumindo personagens, em busca de audiência ou curtidas em redes sociais. Dirigido por Shira Piven, esta é uma produção bastante original, crítica e que brinca com o absurdo sem desrespeitar a inteligência do público. Uma pena que ao final fique a sensação de que o argumento poderia render muito mais, assim como a própria Wiig que, certa de que seria um trabalho importante em seu currículo, se entrega totalmente à personagem demonstrando fôlego para ir além.
Comédia - 105 min - 2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este espaço está aberto para você colocar suas críticas ao filme em questão do post. Por favor, escreva o que achou, conte detalhes, quero saber sua opinião. E não esqueça de colocar a sua avaliação do filme no final (Ruim, Regular, Bom ou Excelente).