Tem filmes que são bem fraquinhos,
esquecíveis rapidamente, mas é intrigante como durante suas exibições conseguem
prender a atenção e por alguns instantes até serem considerados boas produções.
No auge das videolocadoras, muitas fitas de baixo orçamento ou de argumentos
capengas ganharam notoriedade e o gênero suspense policial é um dos que mais se
beneficiou nesta fase. Se não fosse encabeçado por um astro já de décadas e uma
estrela em ascensão certamente Risco Duplo não
chegaria a ser exibido nos cinemas e aportaria diretamente nas prateleiras dos
videoclubes. O roteiro de David Weisberg e Douglas Cook é extremamente
genérico, mas nem por isso deixa de ser razoavelmente interessante. Nick Parsons
(Bruce Greenwood) decidiu fazer uma surpresa para a esposa Libby (Ashley Judd)
programando uma viagem romântica a bordo de um veleiro. Radiante com a
oportunidade de descansar e passar bons momentos a sós ao lado do marido, a
moça jamais imaginaria que o passeio se tornaria seu pior pesadelo e mudaria
irremediavelmente seu futuro.
Após alguns drinks e uma intensa noite
de amor, a moça desperta sem o companheiro ao lado e com o corpo todo
ensanguentado. Desesperada à procura do marido, a moça acaba encontrando uma
faca de cozinha também suja de sangue. Com o artefato em mãos, ela é
surpreendida por um barco da guarda costeira acionado pela própria vítima
dizendo que havia sido violentamente atacado. Beneficiária de uma polpuda
apólice de seguro, inevitavelmente ela é acusada por assassinar Parsons cujo
corpo nunca foi encontrado. Condenada à alguns angustiantes anos de prisão,
Libby decide entregar seu filho pequeno aos cuidados de Angie (Annabeth Gish),
sua melhor amiga, a fim de evitar que a criança fique sob a tutela do Estado,
mas estranha quando após as primeiras semanas de encarceramento o garoto deixa
de visitá-la. Depois de muita insistência ela consegue localizar a amiga e
fazer uma ligação, é quando descobre que o homem que tanto amava armou sua
morte fictícia para roubar o dinheiro do seguro e que está vivendo muito bem ao
lado do filho e da amante, cujo nome revelado não deixa ninguém boquiaberto.
Revoltada, a protagonista não pensa em outra coisa a não ser reaver a guarda do filho e se vingar de Parsons. Ela descobre através de uma colega da cadeia que existe um trecho da lei americana que prevê que um indivíduo não pode ser condenado duas vezes pelo mesmo crime. Sendo assim, quando estivesse em liberdade, ela poderia de fato matar o ex na frente de qualquer testemunha que não poderia ser incriminada novamente pelo assassinato. O título do filme denomina tal brecha jurídica que Libby toma como incentivo para lhe encorajar a criar situações para se aproximar de seu algoz e de quebra escapar de Travis Lehman (Tommy Lee Jones), seu agente da condicional que em vão tentará impedi-la da vingança. O longa desperdiça o veterano astro que tinha em mãos um personagem com perfil razoável a ser trabalhado, um ex-professor de Direito que acabou fazendo carreira como um homem da lei destinado a cumprir tarefas brandas. Apesar de sua frustração profissional, ele não tem uma trama própria a ser desenvolvida e fica relegado a uma espécie de babá da ex-presidiária que não mede esforços para fazer justiça com as próprias mãos.
Com direção de Bruce Beresford, do oscarizado Conduzindo Miss Daisy, o suspense e ação prometidos em um primeiro momento de fato satisfazem apresentando uma história bem engrenada, muito devido a introdução ligeira e eficaz que de cara coloca o espectador a favor da protagonista claramente vítima de alguma armação. Só restava descobrir o autor do plano, o que também não é muito difícil para quem é escolado no gênero. Aos poucos percebemos que os momentos surpresas na verdade são bastante previsíveis e corriqueiros em fitas do tipo, diga-se passagem, um campo com o qual o diretor tinha então seu primeiro contato. Dessa forma, não há como exigir muito das cenas com mais adrenalina. O longa apresenta o trivial bem feitinho, mas não ousa em tentar impactar com algo novo sendo a sequência mais mirabolante a de um carro caindo no mar, um tanto previsível para uma produção que tem como alicerce um crime dentro de uma embarcação. Felizmente, Beresford compensa os clichês conseguindo manter um clima de tensão crescente a cada passo que a protagonista se aproxima de seu alvo.
Apesar de toda pinta de
telefilme ou produção capenga que infestava as locadoras na época (hoje a
função passou para os streamings), o roteiro chegou a ser oferecido a Jodie
Foster que só desistiu por conta de uma gravidez. Sorte de Judd que colocou seu
nome em destaque na publicidade do longa e logo virou figurinha fácil nos
cenários de Hollywood. Assim como sua personagem agarrou com unhas e dentes a
possibilidade de se vingar, a atriz fez o mesmo com a oportunidade de estrelar
um candidato a blockbuster, contudo, Risco Duplo não
tornou-se um sucesso de bilheterias e tampouco de repercussão. Mesmo assim,
visto hoje ainda garante uma boa diversão sem compromisso. Se irrita com suas,
digamos, licenças poéticas para fazer as coisas se encaixarem com perfeição,
como a estupidez da polícia incapaz de distinguir o rosto de uma vítima de
assassinato circulando livremente por badalados eventos sociais, ao menos o
filme é bem interpretado por sua dupla principal, ainda que Jones já
demonstrasse estar perdendo o fôlego para brincar de pega-pega.
Suspense - 105 min - 1999
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