A hora do... espanto, terror, pesadelo,
lobisomem, mortos-vivos e por aí vai. Na década de 1980 era comum no Brasil o
batismo de fitas de terror e ficção científica com tal início, uma forma de
pegar carona no sucesso alheio ou de turbinar produções capengas. Nessa toada
chegou aos cinemas o longa A Hora das Criaturas, como também foi
comercializado nos tempos do VHS e ainda é batizado em raras apresentações na
TV fechada. Todavia, seu nome original e também comercializado em DVD é Criaturas, denominação mais eficiente visto que
é o primeiro de uma franquia que rendeu outros três filmes que apenas
acrescentavam o numeral correspondente ao título minimalista. E ainda bem que
parou no quarto capítulo, afinal o primeiro já tentava ao máximo tirar leite de
pedra, mas mesmo assim tornou-se uma pérola trash e um marco nostálgico no
gênero horror. A trama começa quando pequenos seres extraterrestres estão
prestes a serem levados a uma prisão espacial para serem aniquilados, mas
conseguem roubar uma nave e vão parar obviamente na Terra, onde mais?
Os Critters são criaturas peludinhas,
dotados de dentes pontiagudos e olhos vermelhos, soltam espinhos pelas costas,
se movimentam rolando como bolas e se comunicam por meio de uma linguagem
específica. Eles aterrissam em uma pequena cidade rural dos EUA próximo à
fazenda de Jay Brown (Billy Green Bush), que até então levava uma vida
tranquila ao lado da esposa Helen (Dee Wallace), da filha adolescente April
(Nadine Van der Velde) e do arteiro caçula Brad (Scott Grimes), um experiente
criador de bombinhas (característica que terá importância no decorrer do
filme). Rapidamente os pequenos alienígenas invadem a propriedade dessa família
e fazem sua primeira vítima devorando Steve (Billy Zane, em início de
carreira), o namoradinho de April bem na hora que tentava ter sua primeira vez
com a mocinha. Inevitável a piada: pensou que ia se dar bem comendo a gatinha e
acabou literalmente comido!
Os pestinhas ainda devoram as fiações
da casa, assim cortando a luz e a linha do telefone e deixando os Brown
isolados, contudo, Brad consegue fugir e passa a observar o comportamento dos
Critters que tem um apetite descomunal e em compasso com seus desenvolvimentos
acelerados. No encalço dos vandalozinhos do espaço estão Ug e Johnny
Steele (ambos interpretados por Terrence Mann), uma dupla de caçadores de
recompensas também alienígenas que possuem cabeças esverdeadas e propositalmente
sem feições. Eles tem o dom de poderem copiar o rosto de qualquer ser humano e
assim circularem livremente pela cidade passando-se como habitantes locais.
Todavia, em um dos vários furos do roteiro, eles somem por um bom tempo
retornando à cena apenas quando são encontrados por Brad que os leva até sua
casa junto com o preguiçoso xerife Harv (M. Emmett Walsh). Os Critters, por sua
vez, se sentindo ameaçados tratam de bolar um plano de defesa que obviamente
afetará a família do garoto.
O diretor Stephen Herek, então estreando na função, constrói a título de categorização uma produção de horror, mas na verdade Criaturas causa muito mais gargalhadas que sustos assumindo sem vergonha seu estilo bagaceiro. Pudera, a produção já nasceu com pinta de sátira já que suas grandes estrelas possuem propositalmente uma semelhança conceitual com os monstrinhos de Gremlins lançado com estrondoso sucesso dois anos antes e na época já inseridos no universo pop. Mesmo ameaçadores e violentos, apesar das poucas vítimas que somam, os Critters acabam se tornando figuras carismáticas e sarcásticas soltas em um enredo sem muita lógica, mas quem se importa? O que interessa são suas aparições que despertam um misto de curiosidade e deboche. Nos divertimos com as situações nonsenses que se envolvem, mas ainda ficamos na expectativa de que no clímax os monstrinhos vão literalmente mostrar suas garras.
O roteiro do próprio Herek,
escrito em parceria com Domonic Muir, ganhou cenas adicionais redigidas pelo
ator Don Opper que interpreta Charlie McFadden, um mecânico bêbado que adora
falar sobre suas premonições a respeito da chegada de alienígenas à Terra. Em
uma época que a computação gráfica já mostrava sua força e dominação em
Hollywood, o longa acabou ganhando certa importância com o passar dos anos por
usar efeitos caseiros toscos, como bonecos animatrônicos e muito sangue que a
olho nu transpiram artificialidade. E o diretor e sua equipe não parecem
incomodados com a precariedade da produção. Levam tudo muito a sério louvando a
tradição dos filmes B: criatividade para driblar as dificuldades. O longa
também vale pela curiosidade de rever Wallace, musa dos filmes trash
oitentistas, que mesmo após participar do elogiado E.T. - O Extraterrestre não conseguiu dar uma guinada em sua
carreira e acabou no limbo, ainda que certas produções que tenha participado
permaneçam vivas no imaginário dos cinéfilos.
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