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sábado, 27 de abril de 2019

O QUARTO DOS ESQUECIDOS

Nota 2,0 Desperdiçando gancho histórico, suspense segue lugar comum e preso a clichês insossos 

Um dos grandes problemas dos filmes de terror e suspense contemporâneos é o fato de suas histórias transcorrerem em universos onde o medo não existe. Com exceção a algumas experiências de diretores europeus, principalmente espanhóis, casas assombradas por eventos macabros do passado não assustam mais. O piso de madeira que range, as portas e janelas que abrem e fecham sozinhas e a penumbra que costuma pairar dentro e fora de construções antigas já não causam sustos há um bom tempo e são passíveis de causar risos fáceis. Por investir em truques manjados como esse, O Quarto dos Esquecidos é de fato esquecível, completamente. Por conta de problemas financeiros da empresa produtora, o longa ficou no limbo por dois anos até que recebeu sinal verde para ser lançado, mas já com expectativas nulas e fazendo jus ao seu título original, algo como "O Quarto das Decepções". Como de costume em longas do tipo, os protagonistas decidem se mudar para uma casa isolada em busca de sossego afim de se recuperarem de uma fase conturbada. Dana (Kate Beckinsale) e o marido David (Mel Raido) chegam ao casarão cheios de expectativas positivas para superarem o trauma da morte acidental da filha recém-nascida. O casal tem um outro rebento, o pequeno Lucas (Duncan Joiner), o que contradiz a aquisição de uma mansão para apenas três moradores, ainda mais um local em ruínas. A justificativa é que a moça é arquiteta e pretende ocupar sua mente e tempo livre conduzindo a reforma, contudo, seus planos acabam sendo atrapalhados conforme passa a ser atormentada por bizarras visões, principalmente após descobrir um quarto escondido que não consta na planta da construção. Obviamente sua sanidade é colocada em xeque e ao espectador resta apenas esperar por sustos previsíveis e pela revelação sobre o misterioso passado da casa que, diga-se de passagem, não vai fazer ninguém ficar sem fôlego.

O diretor D. J. Caruso, do razoável suspense Paranóia, não se esforça em apresentar algo diferente e, além de lançar mão de todos os clichês possíveis, impõe um ritmo lento que afasta o espectador da narrativa logo nos primeiros minutos. Dessa forma, O Quarto dos Esquecidos não passa de apenas mais um filme sobre casa assombrada, mais um titulo a figurar na lista dos piores desta seara. É uma pena que a essência da trama seja explorada de forma superficial. O tal quarto do título não revela-se tão assustador visualmente, mas ligado às práticas cruéis do movimento nazista, sua função histórica e política também deixa a desejar no texto de Wentworth Miller, ator de currículo mais ligado a seriados e aqui em sua segunda incursão como roteirista. Tenta-se em vão também relacionar de alguma forma o passado do casarão com a história da nova família que o habita, com direito a momentos forçados para sustentar tal relação. O fato de o pai fazer as vezes de o "dono-de-casa" enquanto a mulher é quem sustenta a família também poderia render um interessante gancho abordando as novas configurações sociais, mas seria esperar demais de uma produção tão rasa e preguiçosa. O grande trunfo da fita é a presença de Beckinsale, uma boa atriz dramática, mas infelizmente com sua imagem muito atrelada ao gênero de ação pela franquia Anjos da Noite. Ela faz o que pode para dar alguma credibilidade ao enredo, inclusive é nítido que Caruso tenta de alguma forma dar profundidade ao drama de sua protagonista, mas ela acaba sendo prejudicada por seu parceiro de cena Raido que atua no piloto automático. Também é desnecessária a inserção do personagem Ben (Lucas Till), um jovem que trabalha com reparos de obras e que inicialmente até parece que vai ter relevância no filme, mas no fim sua participação não acrescenta em nada. Flertando a todo momento com Dana, suas cenas apenas ajudam a preencher com vento um roteiro por si só bastante vazio. Embora não apele para sustos gratuitos, aliás os poucos fantasmas que surgem não assustam nem criancinhas, o longa é um desperdício de tempo. Caso mergulhasse afundo na questão humana e histórica por trás do cômodo escondido, a produção poderia ser completamente diferente e quem sabe até ganhar relevância.

Suspense - 92 min - 2016
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