Nota 8,5 Repetindo acertos do original, longa perde ineditismo, mas ainda diverte e reforça valores
Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas aconteceu para a família McCallister. Em Esqueceram de Mim 2 - Perdido em Nova York, o garoto Kevin (Macaulay Culkin) mais uma vez foi esquecido, mas desta vez no aeroporto. Com viagem marcada para a Flórida, o clã quer esquecer os apuros que vivenciaram dois anos antes no Natal com o menino sozinho em casa, porém, a sina se repete. O frenético corre-corre para ajeitar tudo de última hora e até mais um ataque de fúria do loirinho para deixar de ser alvo de chacota são propositalmente copiados do produção anterior, uma maneira de mostrar que apesar de tudo os McCallister continuam os mesmos. Desta vez eles tem total certeza que não esqueceram nada e muito menos ninguém, mas o arteiro caçula distraído mexendo na mochila de Peter (John Heard), seu pai, acaba se confundindo e seguindo o homem errado, embarcando sem querer para Nova York. Munido de cartão de crédito e muita curiosidade, o garoto não inventa uma trolagem para se hospedar em um luxuoso hotel, mesmo sob as desconfianças do afetado Sr. Hector (Tim Curry), o concierge que passa a cercá-lo.
Mais uma vez Kevin lança mão de áudios de filmes e gravações amadoras para espantar todos que queiram atrapalhar suas férias regadas a luxos e guloseimas. Contudo, mais uma vez ele estará na mira de Harry (Joe Pesci) e Marv (Daniel Stern), a mesma dupla que assaltara a sua casa e que ele ajudou a colocar atrás das grades, mas eles fugiram e já bolam planos para novos assaltos. Agora os alvos são as lojas de brinquedos, estabelecimentos que faturam alto no Natal, mas quando descobrem a chance de se vingar, caçar Kevin torna-se o principal objetivo culminando em mais uma série de torturas que o menino planeja desta vez aproveitando-se do apartamento em reforma de um tio que está viajando. Como no longa anterior, todas as situações se encaixam perfeitamente para nosso pequeno herói deitar e rolar. E como se diz, em time que está ganhando não se mexe, assim Chris Columbus novamente assumiu a direção e John Hughes ficou responsável pelo roteiro, mas ambos não se esforçam a criar nada de novo, apenas reciclam o que já foi testado e aprovado Continuações geralmente sofrem com baixas no elenco, mas surpreendentemente toda a família McCallister volta a ser interpretada pelos atores originais, incluindo o chato Buzz (Devin Ratray) e o implicante tio Frank (Gerry Bamman), perfis que mesmo com pouco tempo de cena no primeiro filme se destacaram, contudo, novamente foram subaproveitados.
Se antes a mamãe Kate (Catherine O´Hara) era quem assumia a culpa pelo desleixo com o filhote e fazia de tudo para corrigir seu erro, agora ela mostra tanta disposição quanto o marido para assumir as rédeas do resgate. O casal, preso a uma trama praticamente paralela e sem grandes momentos, parece conformado com a sina e até assumem que saírem de férias e esquecer o filho tem se tornado uma tradição natalina dos McCallister. Para arejar um pouco os ares, além da mudança do restrito ambiente de uma mansão para as várias possibilidades que o cenário de Nova York oferecia (incluindo uma nostálgica tomada do World Trade Center), também temos a inserção de novos personagens. Além do afeminado tipo defendido por Curry com total desenvoltura e malícia, temos também seu submisso e atrapalhado funcionário Cedric, primeiro papel no cinema do comediante Rob Schneider, a participação de Eddie Bracken como o Sr. Duncan, o simpático velhinho dono de uma loja de brinquedos, e a talentosa Brenda Fricker assumindo o papel da "mulher das pombas", uma figura estranha que em um primeiro momento causa arrepios à Kevin, mas o ajudará a novamente a compreender a importância da família e de não se julgar pelas aparências tal qual o temido "homem da neve" do primeiro filme. Como já dito, seus realizadores não se preocuparam em realizar algo diferente, apenas procuraram lançar um produto a altura do original visando lucros tão interessantes quanto.
Para muitos, Esqueceram de Mim já partia de uma premissa nonsense e exigia do espectador predisposição para embarcar na montanha russa proposta no clímax com o embate com os bandidos. Já sabíamos como tudo acabaria, mas a graça era justamente se divertir com a preparação do arsenal de guerra de Kevin. Isso também ocorre na continuação, mas temos uma ligeira queda tanto na qualidade das piadas quanto nos mecanismos que o garoto bola para se defender, isso porque falta ineditismo. Além de já sabermos que o final feliz está garantido, agora também sabemos do que o guri é capaz. Columbus faz questão de realçar o deslumbramento do protagonista ao se deparar sozinho em uma cidade grande e agitada e insere cenas dele passeando por pontos turísticos, tirando fotos, andando de limusine e há vários closes do cartão de crédito que usa para enfatizar que, tendo como bancar, suas vontades são ilimitadas. O sucesso de ambos os filmes vem justamente do fato de se apoiarem em situações de fácil identificação, não só pelas crianças, mas também pelos adultos, afinal quem nunca almejou sentir a liberdade de estar sozinho em um lugar onde aparentemente você pode fazer de tudo sem ninguém para lhe barrar? Bem, Kevin vai descobrir que as coisas não são bem assim e tudo que fazemos deixa rastros. O diretor também repete a técnica de espalhar dicas importantes ao longo do primeiro ato que serão resgatadas da metade para o final, dando bastante ênfase ao gravador de voz do menino, uma de suas mais eficazes armas.
Columbus tem bons lampejos de gags visuais e também para movimentar a trama com sequências em que se destaca o ágil trabalho de edição, mas não dispensa em resgatar o que deu certo antes, assim temos novamente trechos de um filme noir (filmados especialmente para o longa) cujos diálogos inflamados são criativamente utilizados por Kevin para trolar. Um pouco menos careteiro, Culkin continua carismático e sarcástico e ainda mais a vontade no papel, mas não se pode dizer que carrega o filme nas costas. Pesci e Stern já usaram e abusaram do humor físico na primeira tentativa de capturar o menino e nesta segunda chance não querem dar o braço a torcer e admitir que ele é mais esperto, assim encaram situações absurdas acentuando o espírito de desenho animado que permeia ambos os longas. Eles são os vilões apatetados conseguindo a proeza de se enroscarem em suas próprias armadilhas e não importa o quanto sofram sempre estão dispostos a continuar a servir de saco de pancadas. Apesar de ser mais do mesmo, Esqueceram de Mim 2 - Perdido em Nova York é tão bom quanto o original e revê-lo também se tornou uma tradição natalina. Em tempo: com sinais evidentes de saturação e já não assegurando Culkin e o restante do elenco, a franquia deveria ter parado por aqui. Mais três produções foram lançadas reutilizando apenas o argumento base e com novos personagens, mas os resultados foram sofríveis. Um é pouco, dois é bom, agora três ou quatro...
Comédia - 120 min - 1992
Adoro esse filme assim como o primeiro
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