Nota 2,5 Temática masculina sob o prisma das mulheres resulta em um nonsense constrangedor
Qual o pior pecado de uma fita de
humor? Provavelmente apresentar nos trailers as suas ou até mesmo sua única
cena divertida. É desse mal que padece A Noite é Delas,
a versão feminina, ou melhor, a tentativa fracassada de emplacar mais um
sucesso seguindo o estilo de humor de Se
Beber Não Case!. Na comédia que acabou virando trilogia, um grupo de amigos
vai para Las Vegas a fim de curtir uma despedida de solteiro e se mete em
grandes enrascadas sem lembrarem de um minuto sequer do que aprontaram durante
a noitada. A variante cor-de-rosa segue linha parecida com um grupo de amigas
se reunindo em uma luxuosa casa de praia em Miami para festejarem os últimos
momentos de solteira de uma amiga. Jess (Scarlett Johansson) é a noiva que vai
se encontrar com quatro de suas melhores amigas, sendo apenas uma fora do
saudoso grupo dos tempos de faculdade, para uma festinha particular recheada de
brinquedinhos eróticos, mas o ponto alto do encontro é a visita de um stripper,
mas não são bem seus músculos e requebrado que vão tirar o sono dessa
mulherada. Alice (Jillian Bell), a entusiasmada da turma, fica mais maluca que
de costume a ponto de se esquecer que passa longe de ser um peso pluma.
Resultado, ao pular em cima do saradão ele não aguenta o tranco, cai e acaba
batendo a cabeça na quina de uma mesa falecendo imediatamente para desespero da
noiva que não parece muito preocupada com o casamento e sim em manter sua
imagem intacta visto que pleteia uma vaga na política. Em meio a loucura do momento
elas só pensam em se livrar do corpo de qualquer maneira, mas por estarem
drogadas e bêbadas preferem fazer isso com as próprias mãos sem meter a polícia
no meio. Eis a deixa para reações inesperadas de cada uma delas, como o ataque
de ciúmes de Alice ao perceber que Jess está muito mais íntima da australiana
Pippa (Kate Mckinnon) com quem conversa rotineiramente pela internet.
Resquícios de Missão Madrinha de
Casamento? Sem dúvidas.
O roteiro de Paul W. Downs, que
interpreta o bananão Peter, noivo de Jess, e de Lucia Aniello, que também
assina a direção, até que começa bem, mas aos poucos perde o tom. A princípio
temos um quê de sátira política com Johansson às voltas com a campanha de sua
personagem que faz alusão à de Hilary Clinton, como deixa claro seu próprio visual.
Todavia, não demora para que o texto descambe para as previsíveis piadas de
conotação sexual, escatologia e mal entendidos. Por exemplo, um telefonema às
pressas acaba fazendo Peter entender que o casamento não vai acontecer, o que o
leva a ir atrás da noiva na companhia dos amigos e munidos de muitos pacotes de
fralda geriátrica... Oi? Sim, piadas sem sentido não faltam, de longe
salvando-se a participação de Lea (Demi Moore) e Pietro (Ty Burrell), casal
vizinho a tal mansão da festinha e um tanto liberal que sem saberem podem ter
imagens comprometedoras das meninas em seu circuito de segurança. É aí que
entra em cena a certinha e recém-divorciada Blair (Zoë Kravitz) para
protagonizar uma das poucas cenas divertidas tentando limpar a barra do mulheril.
Enquanto isso, Frankie (Llana Glazer) faz às vezes de chata do grupo com seus
discursos ativistas a favor do feminismo. Por mais que se esforcem todas as
atrizes acabam apagadinhas, pois além de faltar entrosamento ao quinteto, Bell ainda
faz de tudo para se destacar, mas acaba pecando pelos exageros tornando-se
chata e infantil, praticamente uma versão mais jovem dos personagens pentelhos da
também rechonchuda e exibida Melissa McCarthy. Com humor capenga e requentado, A Noite é Delas é um daqueles projetos que
deixam transparecer que os envolvidos na produção é quem mais se divertiram
levando as filmagens na base de uma grande brincadeira. Entregando o mesmo
conteúdo de um besteirol adolescente, mas com embalagem um pouco mais
sofisticada, a impressão que fica é que todas as bizarras situações já vimos,
geralmente com homens as vivenciando e, diga-se de passagem, representadas de
maneiras muito melhores. Estereotipadas e imaturas, é uma pena que o mulheril
poderoso do início da fita descambe para uma anedota como se fossem adolescentes
travestidas de adultas. Espanta que uma delas queria entrar para a política.
Deus salve os EUA... Quiçá o mundo!
Comédia - 101 min - 2017
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