Nota 7 Em clima fantasioso, longa aborda adoção e aceitação do diferente, mas não se aprofunda
Já diz o ditado, quem casa quer casa, e ainda poderíamos acrescentar mais uma coisinha: também quer ter filhos. É certo que hoje em dia há muitos casais que preferem levar literalmente uma via a dois para todo o sempre, sabemos que a instituição familiar está em crise ou em constante fase de aperfeiçoamentos, mas também temos ciência de que é um desejo quase unânime de quem sobe ao altar poder gerar uma criança. Quando é preciso encarar a frustração de não poder realizar tal sonho, não são todos que conseguem manter a harmonia do relacionamento e muitas separações tem como ponto inicial um momento que deveria ser de reflexão, parceria e avaliações de novas possibilidades. A Estranha Vida de Timothy Green apresenta em flashbacks a curta, porém, riquíssima experiência de um jovem casal que teve a oportunidade de experimentar os prazeres e dissabores de cuidarem um pequeno ser que chegou em suas vidas como se fosse sob encomenda.
O garoto do título, interpretado pelo carismático C. J. Adams, literalmente brota de dentro da terra da noite para o dia. Cindy (Jennifer Garner) e Jim Green (Joel Edgerton) estavam cabisbaixos após diversas tentativas de terem um filho biológico e certa noite, embriagados, começam a divagar sobre como seria a criança perfeita e listam as características em um papel que guardam em uma caixinha de madeira e enterram em seu jardim. Durante a madrugada, uma forte chuva cai e o casal acorda com uma estranha ansiedade e começa a vasculhar a casa como se tivessem tido algum sonho premonitório e eis que em um dos cômodos, mais especificamente no quarto que haviam reservado para o tão sonhado rebento, encontram Timothy completamente sujo de terra. Tal fato deveria surpreender os Green, mas eles o encaram com certa normalidade, como se estivessem colhendo o que eles plantaram poucas horas antes. O menino também não demonstra estranheza e logo já está os chamando de pai e mãe.
O casal decide assumir a adoção, mesmo com um detalhe peculiar que certamente acarretaria especulações: o menino tem folhas que crescem em suas pernas. Todavia, o que significa essa excentricidade diante de tantas características positivas de seu perfil? Educado, sincero, prestativo, cativante... Enfim, o filho perfeito! Se em família Timothy parece ter sido criado desde bebezinho pelos Green, seus pais tem consciência de que a adaptação à sociedade poderá ser mais complicada, mas logo no dia seguinte a sua chegada já procuram inseri-lo em uma rotina como a de qualquer garoto comum. Na escola, por seu perfil mais tímido e prestativo, inevitavelmente acaba se tornando vítima de bullying, mas por outro lado encontra apoio e atenção em Joni (Odeya Rush), uma linda menina por quem se apaixona à primeira vista e que o ajuda a não baixar a cabeça para humilhações. Todavia, por mais carinhosos que sejam, os pais adotivos acabam cometendo o grave erro de superprotegê-lo, não incentivá-lo a se autodefender.
O conformismo e meiguice do menino são perfeitamente aceitáveis, afinal desde o início estamos cientes de que ele é um ser extraordinário, porém, seus pais, tanto em momentos de empolgação quanto de revolta, exageram nas demonstrações de sentimentos, sempre colocando as necessidades do filho em primeiro lugar. Tal comportamento do casal revela uma espécie de compensação, como se estivessem querendo suprimir suas frustrações, mas na tentativa de sempre querer acertar o casal acaba errando muito mais, algo normal e que faz parte da aprendizagem de pais novatos. O diretor e roteirista Peter Hedges, da agradável comédia Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada, contagia-se com o espírito fantasioso do argumento, mas ao longo da narrativa fica impossível crer em algumas situações, como o fato de conseguirem matricular a criança sem um documento sequer. Poderia ser um detalhe dispensável, mas visto que a narrativa é toda entrecortada pelos Green em uma séria entrevista para candidatarem-se a uma adoção, fantasia e realidade acabam não se fundindo harmoniosamente.
Pormenores à parte, A Estranha Vida de Timothy Green é uma daquelas produções despretensiosas que cativam com seu tom de fábula e clima bucólico, algo acentuado pela fotografia que tira o melhor proveito dos cenários e locações a fim de proporcionar uma sensação de aconchego, afinal é isso que é o ato da adoção. É oferecer um lar carinhoso, educativo e divertido, um lugar onde qualquer criança possa se sentir à vontade e desenvolver-se. O longa poderia ter explorado melhor o tema da aceitação do diferente, não só pelo fato de Timothy ter folhagens nas pernas, mas principalmente porque sabemos que ainda há muito preconceito quanto a filhos adotivos. De qualquer forma, um draminha leve e reflexivo é sempre bem-vindo.
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