Nota 7,0 Juliette Binoche se destaca em em comédia em que mãe e filha se descobrem grávidas
Uma cinquentona que leva a vida
sem responsabilidades tal qual uma adolescente se vê inesperadamente grávida de
seu ex-marido ao mesmo tempo que sua filha um tanto mais ajuizada também
anuncia que está esperando um bebê. O argumento de Tal Mãe,
Tal Filha é típico de historinhas água-com-açúcar americanas e
até poderia cair como uma luva a uma comédia popular brasileira daquelas que
levam multidões aos cinemas, no entanto, é o ponto de partida de uma simples e
divertida produção francesa. Para dar visibilidade ao filme, não por acaso a
versátil e mundialmente conhecida Juliette Binoche, prata da casa, assume o
papel de Mado, uma mulher de meia-idade que não tem trabalho fixo, tampouco
objetivos de vida, e que se comporta como uma jovem rebelde desde que foi
abandonada pelo marido Marc (Lambert Wilson). Perambulando pelas ruas de Paris
montada em uma chamativa moto cor-de-rosa, a espevitada senhora dificilmente
perde o bom humor e suas atitudes infantis chegam a ser confundidas até com mal
de Alzheimer, mas nada que a faça perder o rebolado. Já sua filha Avril
(Camille Cottin) está na casa dos trinta anos, é bem-sucedida profissionalmente
e apaixonada por Louis (Michaël Dichter), seu marido que não trabalha, apenas
estuda. Pouco vaidosa, por vezes bronca e bastante metódica, a jovem vive
trocando farpas com a mãe que vive de favor em seu apartamento. Cada um pode e
deve viver como bem entender, isso desde que seja respeitada a individualidade
e privacidade dos demais e é nesse ponto que a relação delas estremece. A
princípio a diretora e roteirista Noémie Saglio parece se ater ao clichê do
choque entre gerações reciclando piadas previsíveis e impregnadas de vícios
ianques, contudo, quando mãe e filha se descobrem grávidas praticamente
simultaneamente a trama ganha outros rumos. Abobalhada com a ideia de ser mãe e
avó e coagida por Avril, Mado aceita a ideia de fazer um aborto, mas
atrapalhada como sempre se esquece de tomar no tempo certo o medicamento (fique
claro prescrito por um obstetra, diga-se de passagem, um tanto estranho) e
decide levar a gravidez adiante em segredo até onde puder, ou seja, a omissão
não vai muito longe.
A inspiração para o roteiro,
escrito em parceria com Agathe Pastorino, veio de revistas femininas que
destacavam a coincidência de mães e filhas engravidarem ao mesmo tempo,
situações que estão se tornando comuns,
efeitos de gestações precoces. Há certamente quem deva condenar o fato de
Saglio não se aprofundar na temática, mas a proposta é justamente fugir do
estereótipo de que cinema francês é extremamente dramático. Tudo aqui é
mostrado de forma superficial e leve propositalmente e o texto, embora longe de
ser revolucionário, realmente coloca a produção em um patamar mais favorável
que outras tantas comédias açucaradas. Binoche sem dúvidas engrandece a
produção, não necessariamente por ser uma estrela renomada, mas por conseguir
se destacar em meio a uma narrativa convencional com um personagem cativante,
embora inicialmente pareça não encontrar o tom ideal. Sensível e talentosa,
pouco a pouco ela se conecta ao universo da futura mãe-avó e o espectador passa
a torcer para que ela acerte as pontas com a filha e por que não até com o ex.
Quem também se destaca é Catherine Jacob como Irène, a sogra de Avril, que
demonstra perfeito timing cômico e sobressai ao trabalho do parceiro Philippe
Vieux que vive Michel, perfil tão apagado quanto do filho Louis. As cenas do
jantar de Natal na casa dos pais do rapaz é um dos pontos altos aproveitando-se
do contraste do conservadorismo deles em choque com a forma mais libertária dos
pais de Avril encararem a vida. Contudo, a sequência poderia render bem mais. A
diretora parece insegura, com medo de ousar. A produção perde força quando as
protagonistas rompem relações definitivamente e o roteiro se biparte a fim de
mostrar a rotina de gravidez de cada uma de forma isolada com as visitas
periódicas ao ginecologista devidamente identificadas com anotações na tela
denotando a passagem de tempo, mas obviamente chegará o momento em que os
caminhos de mãe e filha voltarão a se cruzar. Embora não muito longo, Tal Mãe, Tal Filha tem seus momentos de dispersão do foco
principal, como se precisasse ganhar tempo até o clímax, mas de qualquer forma
o saldo é positivo e o sorriso no rosto está garantido quase que ininterrupto.
Comédia - 94 min - 2017
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