Nota 6,0 Embora divirta, rara incursão de Meryl Streep no gênero de ação não faz jus a seu talento
Meryl Streep é reconhecidamente uma atriz dramática de mão cheia e esporadicamente surge em alguma comédia demonstrando mesma desenvoltura em fazer rir quanto para fazer chorar. Apesar de aparentemente não ter medo de desafios, atuar em outros gêneros não faz muito sua cabeça. Com dois Oscars em casa, uma premiação em Cannes e muitos outros prêmios e elogios da crítica e público em seu currículo, ela em 1994 não tinha necessidade de provar seu talento e força de vontade, mas surpreendeu ao protagonizar a aventura com toques de suspense O Rio Selvagem. A surpresa não é só pela estranheza em vê-la em uma produção que lhe exige mais força física que lágrimas, mas também porque o papel não está a altura de sua importância. Qualquer atriz mediana poderia dar vida à Gail Hartman, uma dona-de-casa que abriu mão de sua vida profissional para cuidar da família, embora sua relação com o marido Tom (David Straithairn) esteja indo de mal a pior por ele se preocupar demais com o trabalho. Com saudades de sua antiga rotina como guia turística, ela resolve comemorar o aniversário de Roarke (Joseph Mazello), seu filho mais velho, com um acampamento em família com direito a passeio de canoa pelas perigosas águas do Rio Salmon na região de Idaho, nos EUA, cujo percurso ela conhece como ninguém. O passeio segue outros rumos quando ganham a companhia de Wade (Kevin Bacon), um sujeito inicialmente bastante amistoso e que logo conquista a atenção do garotinho que passa admirá-lo pelas atitudes bacanas que seu próprio pai nunca teve com ele. Contudo, não demora para o rapaz se revelar um bandido e que havia planejado o encontro com esta família justamente porque precisa dos conhecimentos de Gail a respeito do trajeto do rio para conseguir atravessar a fronteira para o Canadá com uma fortuna roubada ao lado de seu companheiro de crimes Terry (John C. Reilly).
Não se sabe se Streep gostou do
roteiro de verdade, buscava um trabalho em que pudesse se divertir mais ou
topou participar para poder dar o aval a alguma produção mais classuda que
estava em vista, mas o fato é que não vemos a atriz majestosa que estamos
acostumados em cena. Embora seu esforço seja visível a dar veracidade às cenas,
principalmente aquelas em que está em situações de perigo, a impressão que fica
é que em alguns momentos ela não consegue disfarçar e quase dispara um "o
que estou fazendo aqui?". De qualquer forma é ela quem segura a atenção do
espectador tentando salvar uma produção que tinha tudo para ser medíocre.
Poderia ser simplesmente o filme em que uma família é obrigada a atravessar um
rio perigoso sob a mira de criminosos, mas não, este é o filme em que Streep
enfrenta correntezas e parte para a ignorância mostrando sua força e
determinação. Um nome de peso faz toda a diferença. É uma pena que o diretor
Curtis Hanson, que viria a assinar o badalado Los Angeles - Cidade Proibida, demore a achar o tom e o roteiro de
Denis O'Neil demore cerca de uma hora para expor o conflito principal e
consequentemente a ação demore a entrar em cena. O draminha familiar da
primeira parte é bem rasteiro e a segunda parte fica a dever em adrenalina,
embora as poucas cenas que tem sejam bem realizadas e a tensão tenha constante
crescimento graças ao desempenho de Bacon ótimo como um psicopata de sangue
frio. Pena que talvez já pensando nas reprises na TV e como opção de programa-família
o longa pegue até que leve na questão da violência. Haveria possibilidades para
ir mais a fundo. O Rio Selvagem é um
entretenimento acima da média, mas que carece de um ou mais elementos que o
tornassem marcante. Extremamente burocrático e relativamente simples em termos
técnicos, apenas a presença de Streep é pouco para torná-lo relevante, ainda
que a atriz como de praxe tenha conquistado algumas indicações a prêmios pelo
papel. Mais uma vez o peso do nome foi decisivo.
Aventura - 108 min - 1994
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