Nota 6 Abordando homens que não querem amadurecer, comédia infelizmente não aprofunda o tema
Prorrogar ao máximo a juventude, esse é sem dúvida o maior sonho de todas pessoas e o cinema por diversas vezes se aproveitou de tal devaneio, mas a mensagem final geralmente é a mesma: viva intensamente o momento, envelhecer é preciso. Passar por procedimentos estéticos e viver de remédios ditos milagrosos apenas retardam rugas, mas algum sinal de que a idade avançou mais cedo ou mais tarde aparecerá. E como lidar com o espírito da juventude que teima em não amadurecer? Pensando nisso, tem uma turma de atores americanos que se especializou em lidar com tal temática e praticamente criou um subgênero para a comédia. Nos últimos anos tem se popularizado as obras de humor focando as desventuras de trintões e quarentões que precisam na marra aceitar que já não são adolescentes, mas sempre que tentam dar um passo adiante parece que há uma força sobrenatural que os puxa para retroceder outros dois. Dias Incríveis segue bem essa linha e traz um trio bastante representativo encabeçando o elenco e que resolve exorcizar as mágoas da vida adulta voltando aos bons tempos da escola literalmente.
Mitch (Luke Wilson) sofreu uma decepção amorosa quando voltou de viagem e encontrou a namorada em sua casa praticando swing. Frank (Will Ferrell) conseguiu se casar, mas basta o mínimo contato com alguma lembrança dos tempos de escola para que perca as estribeiras e não se importe de sair pelado correndo pelas ruas. Já Beanie (Vince Vaughn) também casou e tem filhos, mas não trai a mulher, embora sinta saudades de quando era livre e sem as responsabilidades de assumir uma família. Quando Mitch aluga uma casa dentro de um campus universitário, os amigos logo lançam a ideia de montar uma república estudantil à moda antiga, ou seja, um lugar para homens se reunirem e darem altas festas com muita música, bebidas e mulheres, muitas mulheres. Logo na primeira balada tem a presença luxuosa do rapper Snoop Doggy. Como pagaram seu cachê?... Bem, isto é uma comédia nonsense, então vale tudo, até mesmo um cantor famoso acostumado com multidões aceitar fazer um pequeno show em um jardim. Quando se pensa em fraternidade logo vem a cabeça a imagem de um bando de garotões, mas no caso foi montado um espaço democrático e aberto a receber os mais variados tipos de homens, principalmente aqueles de certa forma discriminados pela sociedade. Temos um idoso, um nerd tímido, um negro obeso, um latino com um emprego meia-boca e por aí vai.
O roteiro de Scot Armstrong e Todd Phillips, este que também assina como diretor, está longe das intenções de seguir o estilo do politicamente correto. As próprias minorias que ganham asilo na tal casa também viram alvo principal de piadas na trama e o trio fundador automaticamente passa a exercer uma relação de soberanidade perante os demais, mas nem por isso escapa de pagar micos em prol de um bem maior. O reitor da universidade, o rabugento Gordon Pritchard (Jeremy Piven), quer a todo custo fechar a fraternidade e reassumir o controle da propriedade, o que seria mais uma derrota, talvez a maior que o grupo de desajustados já teve. Como a maioria dos filmes para adolescentes, aqui também o tema principal é o rito de passagem, no caso, uma espécie de segunda chance para aqueles que foram aprovados aos trancos e barrancos na primeira tentativa de passar para a vida adulta. A preocupação em não destruir os sonhos dos demais moradores da casa é a prova de certo amadurecimento e consciência do trio de protagonistas que então se empenha para provarem que formam sim uma fraternidade como outra qualquer, ainda que a maioria dos membros estejam longe da sala de aula há alguns anos. Contudo, não é preciso ser estudante para assumir ou morar em um local do tipo? Lembrando, isto é uma comédia e às favas com o bom senso. A justificativa que Mitch está em dia com seus aluguéis já é o suficiente para assegurar seu direito de uso como bem entender da propriedade.
O título nacional infelizmente não traduz muito bem o espírito da trama. De fato, fala-se sobre a obrigação de assumir responsabilidades e uma nova conduta na maturidade e deixar as lembranças da juventude como memórias de dias inesquecíveis, mas o título original, algo como "Escola Antiga", vende melhor a ideia. Os protagonistas voltando às atividades colegiais, como provas teóricas e de educação física para poderem continuar com a república, buscam recuperar alguma coisa que perderam com o passar dos anos, porém, ao mesmo tempo procuram algo para terem como objetivo a realizar, provavelmente para compensar o tempo que perdem em empregos que não os satisfazem, mas necessários para pagar suas contas. Em paralelo, o roteiro também insere dilemas amorosos aos personagens principais. Mitch, após o trauma com a ex-namorada devassa, quando resolve pela primeira vez levar uma garota para dormir na casa nova escolhe justamente Darcie (Elisha Cuthbert), a filha do seu chefe, o que acaba colocando-o em uma posição de afrontamento perante o seu superior. Já Beanie e Frank, ao voltarem a fazer estripulias, acabam enfrentando problemas com suas esposas que não aceitam o retrocesso.
Phillips até então tinha em seu currículo apenas o fraquinho Caindo na Estrada, também sobre desajustados querendo curtir a vida ao máximo. Dias Incríveis requenta a temática substituindo a rapaziada jovem por uma galera mais madura, mas nem por isso deixam de ser imaturos em certos aspectos. O diretor acabou se especializando nesta espécie de subgênero, a comédia feita por e para marmanjos. Ele futuramente viria assinar as duas continuações de Se Beber Não Case. Ele tem habilidade para casar as cenas cômicas com um mínimo de sequências mais sensatas para sustentar seus filmes e opta por deixar seu elenco mais solto em cena. Wilson, Ferrell e Vaughn, por participarem da mesma panelinha de amigos, acabam não diferenciando muito seus trabalhos justamente pela liberdade que ganham para fazerem nas filmagens o que sabem de melhor: se divertirem. A produção poderia ir além na discussão sobre o ponto limítrofe entre a juventude e a vida adulta, mas o compromisso em oferecer uma comédia mais popular joga por terra qualquer possibilidade de aprofundamentos. Todavia, o espírito fraternal está em cena muito bem representado.
Comédia - 91 min - 2003
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