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domingo, 7 de março de 2021

ECOS DO ALÉM 2


Nota 5 Feito para a TV, história de fantasmas e drama de guerra se fundem em filme razoável

Pode-se dizer que Ecos do Além foi uma produção subestimada e injustiçada, muito por conta das similaridades que compartilha com o arrasa-quarteirão O Sexto Sentido lançado com poucos meses de diferençaOs próprios produtores e a distribuidora se acanharam e nem mesmo quiseram tirar proveito das comparações, preferindo lançar o suspense estrelado por Kevin Bacon de forma muito discreta e apostando no reconhecimento futuro no mercado de locação,  vendas de mídia física e nas reprises na TV. De fato é o que aconteceu e hoje o longa ainda garante sobrevida via streaming. As razoáveis arrecadações  acenderam a luz para uma possível continuação, entretanto, Ecos do Além 2 possui apenas uma frágil conexão com o longa original. A julgar pelo lançamento programado primeiramente como um telefilme para um canal de produções de gosto duvidoso, já era de se esperar que o diretor Ernie Barbarash, de Cubo Zero, já tinha conhecimento desde o início do material fraco que tinha em mãos, além do orçamento minúsculo.

A trama gira em torno de Ted Cogan (Rob Lowe), um capitão do exército americano que acaba de voltar de uma missão no Iraque bastante perturbado mentalmente principalmente por um episódio em especial. Certa vez, uma van em alta velocidade se aproximava de sua base e ele permitiu que seus soldados abrissem fogo, mas só depois se deu conta que dentro do veículo havia uma família civil local. Os iraquianos se revoltaram e revidaram o ataque, um embate que deixou o comandante em coma por duas semanas. De volta aos EUA, os acontecimentos que ele foi obrigado a presenciar foram aterrorizantes e as imagem de mortos e mutilados enraizaram em sua memória a tal ponto de lhe oferecer constantes e perturbadoras visões. Contudo, tais imagens podem não ser meros frutos de sua imaginação e sim tentativas dos espíritos de inocentes que morreram durante o fogo cruzado de clamarem por justiça e assim alcançarem a paz. Enquanto tenta fugir dessas aparições, Cogan começa a perder a sua própria sanidade e com a ajuda dos poderes psíquicos de um estranho ele descobre uma maneira para se livrar desses fantasmas, mas sabe de antemão que pagará um preço alto por isso, colocando em risco as vidas de esposa Molly (Marnie McPhail) e de seu filho Max (Ben Lewis).

Não demora muito e o militar acaba descobrindo que seus problemas com habitantes do além não estão relacionados exclusivamente com os fatos horríveis da guerra, mas também podem estar ligados com um ato criminoso cometido por seu próprio filho. É quando ele é orientado a procurar a ajuda de Jake Witzky (Zachary Bennett), que pelo nome poderia ser o filho do protagonista do longa original, mas a trama nunca esclarece tal fato ou busca fazer uma conexão entre os dois filmes. As perturbadoras visões de almas de outro mundo clamando por justiça, a ideia principal do primeiro longa lançado em 1999, aqui voltam a perturbar um pai de família, agora encarnado por Lowe que não é um grande intérprete, mas consegue segurar bem as pontas desta produção irregular que fica em cima do muro entre o drama e o suspense, mas que consegue entreter e apresentar algumas boas sequências. O ator carrega o longa nas costas, mas faltou a seu personagem o grau de desespero necessário e comum de um indivíduo comum diante de fenômenos sobrenaturais.

Com o protagonista voltando de um coma, já é de praxe que as pessoas que sobrevivam a essa experiência de quase morte carreguem certas sequelas, no caso para o rapaz se manifesta com o ônus de poder ver e se comunicar com os mortos. Alucinações ou poder mediúnico, o fato é que bons sustos realmente Ecos do Além 2 fica a dever e os poucos que apresenta são completamente previsíveis, mas a adoção de um tom mais dramático e realista contribui para que a fita não seja totalmente desprezível, ainda que desperdice com pouco tempo de cena personagens secundários, como a esposa e o filho do protagonista além de Sammi (Tatiana Maslany), a namorada de Max, e sua mãe April (Katya Gardner), que também sofrem diretamente com ações de forças rebeldes iraquianas. A temática principal, aprender a lidar e a conviver com o peso da culpa, poderia render mais e sem abrir mão dos sustos. Infelizmente a produção acaba assustando pouco, não envolvendo totalmente o espectador e tampouco despertando o interesse de discutir um assunto bastante controverso.

O roteiro, escrito pelo próprio Barbarash, é mais trabalhado que o original e traz um gancho bem interessante, atual e até atípico para o tipo de produção: a xenofobia ou, de forma mais clara, a relação estremecida entre os americanos e os povos árabes, estes que passaram a ser vítimas de grupos radicais que os generalizam. Qualquer descendente de grupos do Oriente Médio não raramente é visto como uma ameaça potencial, mas obviamente a produção não vai a fundo nas questões políticas e sociais do tema. Apesar dos esforços e das boas intenções do cineasta, o resultado é um filme esquecível, ainda que ouse em algumas cenas apresentando até mesmo corpos carbonizados em destaque. Todavia, quem espera um suspense de roer as unhas deve se decepcionar. Até o clima de tensão, o mínimo que se espera de um filme do tipo, deixa a desejar. Por outro lado, a julgar pelo pífio orçamento, o longa até pode ser considerado acima da média.


Suspense - 89 min - 2007 

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