NOTA 4,0 Usando a decadência de uma família como metáfora a crise generalizada da Argentina, obra é uma opção de difícil digestão |
O cinema argentino desde o ano 2000 tem sido reconhecido
mundialmente e suas produções consideradas o que há de melhor na área nas
regiões latino-americanas. Muito premiado e com o ator Ricardo Darín
automaticamente eleito como um grande símbolo do desenvolvimento da arte
cinematográfica no país, é certo que suas comédias e dramas familiares fazem
sucesso por geralmente narrarem histórias de apelo universal, o que explica a
ausência de barulho entre os populares quanto ao festejado entre os críticos O
Pântano, trabalho de estreia da roteirista e diretora Lucrecia Martel. É muito
difícil se sentir envolvido por um filme cuja estética é literalmente suja, embora
a opção seja justificada pela trama ácida, crítica, melancólica e porque não
desinteressante. Sim, a percepção de um filme varia de pessoa para pessoa e
implica vários fatores, como cultura e experiência de vida, ainda que muitos
certamente prefiram omitir suas verdadeiras opiniões ameaçados pelo peso de
menções honrosas como dos festivais de Berlim e Sundance, por exemplo. Bater de
frente com a opinião de críticos especializados que vêem beleza na lama pode
ser a assinatura de seu atestado de burrice ou surpreendentemente provar sua
coragem de ser diferente. As divergências de ideias é benéfico, só não vale não
assistir e passar adiante falsos elogios rasgados a fim de parecer intelectual,
o que realmente não é o objetivo deste texto. A quem interessar participar
desta estranha experiência, lá vai a sinopse. Mecha (Graciela Borges) é uma
mulher em torno dos 50 anos, mãe de quatro filhos jovens, mas que não se
entende mais com o marido Gregorio (Martín Adjemian), entregando-se a bebida
para a embriaguez a ajudar a ignorá-lo. Ele, por sua vez, se preocupa com a
aparência procurando recuperar o frescor da juventude, mas também é adepto do
álcool para esquecer problemas. Já Tali (Mercedes Morán), prima de Mecha,
também tem quatro filhos, só que ainda crianças, e ama e se dedica ao máximo
para o bem estar da família, inclusive do marido Rafael (Daniel Valenzuela) que
ocupa seu tempo caçando. Para escapar do clima quente da cidade, todo o verão
estas duas famílias combinam de passar uma temporada no povoado de Rey Muerto
que abriga o sítio La Mandrágora, reduto de cultivo de pimentões vermelhos.