Nota 2 Horror sobrenatural revela-se enfadonho e confuso, desperdiçando boa premissa
Fazer carreira no cinema não é fácil e para chegar ao topo muita gente teve que começar participando de verdadeiras bombas, mas para quem já começa tirando onda sempre há a cobrança do próximo trabalho ser ainda melhor e sem dúvidas o ator Ben Affleck sofreu essa pressão por anos. Hoje também um produtor, diretor e roteirista respeitável, seu nome bombou com o drama Gênio Indomável no qual além de uma atuação elogiada também faturou vários prêmios, inclusive o Oscar, pelo roteiro cujos créditos dividiu com o grande amigo Matt Damon, ator que deslanchou a carreira imediatamente. Affleck já participava de produções independentes antes deste sucesso repentino, mas suas tentativas de emplacar no cinemão comercial soavam frustradas. Após um papel secundário no premiado Shakespeare Apaixonado, a primeira produção a ter seu nome encabeçando o elenco foi o suspense Fantasmas, jogado no limbo simultaneamente a seu lançamento. Ostracismo totalmente justificado.
A trama começa nos apresentando à doutora Jennifer Pailey (Joanna Going) que tentando mudar o estilo de vida desregrado de sua irmã mais nova Lisa (Rose McGowan) a leva para Snowfield, uma pacata cidade no interior dos EUA que nas temporadas de baixas temperaturas conta com apenas 400 habitantes, mas no verão recebe cerca de 4000 pessoas atraídas para praticarem esqui. No entanto, quando as irmãs chegam não encontram um habitante sequer, pelo contrário, acham apenas cadáveres mutilados. Elas acreditam que há um serial killer a solta, versão desmentida pelo xerife Bryce Hammond (Affleck), um ex-agente do FBI perturbado por ter matado acidentalmente um garoto há alguns anos. Acompanhado de dois ajudantes (precisa ter gente para morrer não é?), o rapaz as leva a um hotel que também está vazio, com falhas na eletricidade e onde se ouve estranhos barulhos vindos do telefone e dos esgotos, além de encontrarem em um espelho a inscrição do nome Timothy Flyte (Peter O’Toole), um acadêmico britânico que estuda um antigo inimigo, uma espécie de entidade milenar que de tempos em tempos é despertada e já exterminou dezenas de civilizações, como os maias e até mesmo os dinossauros. Junto com um grupo militar o estudioso chega à cidade defendendo a teoria de que terão que enfrentar uma ameaça que pode adquirir inúmeras formas e estava adormecida há séculos no fundo da Terra.
Os cerca de 90 minutos de projeção soam como uma tortura ao espectador ou um bom programa para insones. Com um elenco chamativo para a época (Affleck em ascensão, o veterano O’ Toole para dar aquela presença de responsa, McGowan colhendo frutos de sua participação em Pânico), o roteiro nonsense requenta o velho chavão do homem perturbado pelo passado que precisa superar seu trauma para lidar com uma ameaça do presente, podendo um temor estar ligado ao outro. A tal entidade maligna seria uma espécie amebiana que se adapta aos mais diversos ambientes tomando corpos de seres humanos ou animais, sendo sua forma original um tipo de gosma escura que se assemelha ao petróleo. E dá-lhe explicações envolvendo elementos químicos para justificar o desenvolvimento da criatura, como ela ataca e o que poderia detê-la.
Rodado no final de 1996 e parado por um bom tempo na pós-produção, Fantasmas frustra quem espera um filme sobre espectros do além, mas essa história de que quando todos esperavam uma ameaça vinda dos céus (leia-se alienígenas) o terror estava embaixo dos nossos próprios pés também não cola. Baseado no best-seller de Dean Koontz lançado em 1983, o próprio assina o roteiro, mas parece não saber como transpor o conteúdo do livro para a película, perdendo-se em diálogos teóricos e didáticos que resultam em explicações estapafúrdias e que chegam a associar o monstro multiforme a Satã. O diretor Joe Chappelle também nunca consegue acertar o tom. Apesar de no início não fazer rodeios e em cerca de dez minutos apresentar o mistério, o que se segue depois é um suspense enfadonho extremamente datado e carente de ritmo e ação.
Não faltam efeitos sonoros estridentes, trucagens de câmera e edição enganosos e quando entram em cena elementos típicos de ficção científica que lidam com epidemias e coisas do gênero o caldo entorna de vez. Os próprios atores parecem um tanto desanimados seja por preverem a bomba que se meteram ou por não estarem entendo bulhufas do que estavam encenando. O que se salvaria seria a cenografia, afinal cidades abandonadas são bastante intrigantes, mas nem disso o cineasta soube tirar proveito, sendo que sua carreira acabou enveredando para os seriados de TV, seara com a qual parece ter mais desenvoltura.
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