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sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

P2 - SEM SAÍDA


Nota 7,0 Com muita violência e claustrofobia, longa segura as pontas com elenco e cenários enxutos


Quem tem que trabalhar na véspera de Natal realmente tem todos os motivos para surtar, mas se o caso é com alguém já problemático a noite feliz tem tudo para acabar em pesadelo. P2 – Sem Saída, em sua essência, aborda um tema que fica muito em evidência nessa época do ano, a solidão, mas apenas o usa como pretexto para sustentar uma história cujo objetivo é deixar o expectador sob alta tensão, sem preocupação alguma em desenvolver os personagens que, diga-se de passagem, basicamente são dois. Faltam poucas horas para a ceia natalina e a advogada workaholic Angela Bridges (Rachel Nichols) ainda está trabalhando no escritório. Quando decide encerrar seu expediente e seguir para a casa de sua irmã percebe que o prédio comercial já está totalmente vazio e o pior é que seu carro não quer pegar. Presa no segundo andar do estacionamento (para quem ainda não havia compreendido o título), ainda bem que, ou melhor dizendo, infelizmente ela descobre que está na companhia do vigilante noturno Thomas (Wes Bentley). Muito gentil ele lhe oferece ajuda sem hesitar e até a deixa usar seu gabinete para dar um telefone, mas não demora muito para ela descobrir um lobo em pele de cordeiro. 

O rapaz nutre uma paixão platônica por Angela e armou uma emboscada com direito a ceia romântica e tudo, mas é óbvio que as coisas não saem como ele esperava. Incialmente, o segurança esforça-se para demonstrar seu amor e ser correspondido, porém, a resistência da jovem atiça seu lado perturbado. Começa assim uma longa sessão de tortura na qual a própria Angela é intensamente agredida, mas segundo seu algoz tudo é em nome do amor. E a história... bem, a trama se resume a isso mesmo, um jogo de gata e rato do qual apenas um pode sair com vida e sabemos de antemão quem vai levar a melhor, mas o que importa aqui são as situações de tensão e escabrosas que sustentam o fiapo de roteiro que gira em torno de artimanhas. Angela e Thomas alternam momentos em que estão por cima e em poucos minutos um deles pode estar em maus lençóis, mas o fato é que seus caminhos se cruzam inevitavelmente em um ambiente claustrofóbico. O filme marca a estreia do ator Frank Khalfoun como diretor, além de acumular a função de roteirista, crédito que divide com Grégory Levasseur e com Alexandre Aja. Três cabeças para bolar uma história tão simples e na qual ferimentos e sangue são os verdadeiros protagonistas? Aparentemente qualquer principiante poderia ter escrito este roteiro, porém, o nome de Aja eleva o nível da produção. O francês despontou em 2003 com o suspense Alta Tensão marcado pela violência extrema que também foi a base de seus longas posteriores, como Viagem Maldita e Espelhos do Medo


Embora não assine a direção neste caso, Aja faz notar sua influência em cenas que chocam graficamente como uma em que um funcionário do edifício, supostamente por demonstrar interesse em Angela, é amarrado na garagem e sadicamente violentado até a morte por Thomas e sob o olhar estarrecido de seu amor platônico. E as agressões entre mocinha e bandido seguem a linha masoquista e gore incluindo choques elétricos, porretadas, spray de pimenta, garfadas e até existe a ameaça de um cão da raça rottweiler estraçalhar a garota, embora Thomas jure até o último momento que sua intenção não é machucá-la, apenas convencê-la a retribuir seu amor. Que romântico não? De qualquer forma, Khalfoun consegue imprimir estilo próprio à sua obra. Econômico em sua estreia e buscando manter o foco, sabiamente ele opta por ter poucos atores em cena, são apenas mais três personagens que surgem rapidamente ao longo da trama, e apesar do cenário limitado o diretor sabe explorá-lo de forma a lhe dar certa amplitude. Todavia, o filme se estende além do que consegue suportar e inevitavelmente chegamos a um ponto onde a enrolação impera. É nessa parte que entra em cena o citado cachorro bravo e até o velho clichê do celular que deixa seu dono na mão quando ele mais precisa, tudo para encher linguiça. 

A trama que segue bem até a metade, mas se perde na reta final quando parece querer se aproximar do estilo de Jogos Mortais. A situação chave do roteiro poderia render uma exploração de como uma pessoa comum e pacata poderia transformar-se psicologicamente e deixar aflorar sua porção mais violenta por conta do instinto de sobrevivência, algo coincidentemente trabalhado no suspense Enquanto Ela Está Fora também passado às vésperas do Natal. No entanto, as duas produções não conseguem trazer à tona tal discussão de forma plena simplesmente porque lhes faltam bons personagens. Geralmente vilões com transtornos psicológicos roubam a cena, porém, Bentley parece acreditar que apenas suas feições naturalmente características desse tipo de pessoa seja o suficiente para tornar seu personagem crível. De bom moço à capeta ele convence inicialmente em sua transformação, mas o roteiro lhe nega argumentos para sustentar sua paixão platônica apesar dos esforços do ator em construir um perfil perturbado e completamente deslocado da realidade, o que nos leva a questionar como alguém assim teria conseguido o emprego de vigia. No final das contas, parece que ele só queria mesmo brincar de açougueiro para espantar sua solidão. 


Já Rachel se sai um pouco melhor mostrando-se fria e racional às primeiras investidas de seu parceiro de cena, tem algumas boas ideias para se safar das situações, mas aos poucos sua personagem fica refém do roteiro que a obriga a gritar, fazer caras e bocas e a se movimentar de forma que suas belas curvas marcadas por um vestido branco ensopado de suor e sangue desviem a atenção do espectador, ao menos masculino, da trama frágil. Apesar dos pontos negativos, P2 – Sem Saída é um programa acima da média para uma noite chuvosa, como desculpa para reunir os amigos ou até mesmo para injetar um pouco de adrenalina nos festejos natalinos. O resultado final aponta que, com um pouco de lapidação, Khalfoun tem potencial como realizador de blockbusters.

Suspense - 98 min - 2007

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