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domingo, 11 de outubro de 2015

MAMÃE VIREI UM PEIXE

Nota  6,0 Com trama ágil e animação tradicional, longa é prejudicado por temática genérica

Espionagem industrial ou pura coincidência? O que acontece as vezes no mundo do cinema? É até bem comum que duas ou mais produções com temas semelhantes sejam lançadas praticamente de forma simultânea aproveitando-se de algum assunto em evidência na época, mas quando se fala em desenhos animados a possibilidade de oportunismo não é das mais críveis devido ao demorado processo de elaboração, por mais simplório que seja o projeto. Em meados da década de 2000, por exemplo, muitas animações inspiraram-se em temáticas envolvendo o fundo do mar e foram protagonizadas por simpáticos peixinhos e outros seres marinhos, sendo que Procurando Nemo deu o pontapé inicial nessa onda e tudo que veio depois foram tentativas falhas em sua maioria de tentar repetir o mesmo nível de repercussão e principalmente de sucesso financeiro. Contudo, Mamãe Virei um Peixe foi finalizado cerca de três anos antes do longa da Disney/Pixar, mas seu súbito lançamento no mercado brasileiro e em outros países (embora de forma bastante tímida) obviamente foi para aproveitar essa boa marola. Comparar as duas produções chega a ser covardia, ainda mais em tempos que a animação computadorizada é tão valorizada. Infelizmente só crianças bem pequenas ou adultos nostálgicos ainda encaram numa boa desenhos com traços tradicionais. Todavia, esta co-produção entre a Alemanha, a Dinamarca e a Irlanda tem os seus méritos mesmo não contando com tecnologia de ponta e tampouco piadas ácidas ou críticas. Entre eles destaca-se o cuidado em ser um produto essencialmente infantil, algo raro hoje em dia quando os produtores pensam muito mais em agradar marmanjos que as crianças propriamente. Na trama, a caminho de uma pescaria, o aventureiro Fly, sua pequena irmã Stella e o primo deles Chuck descobrem por acaso o laboratório de um aloprado cientista, o Professor MacKrill, que está desenvolvendo uma poção que transforma seres humanos em animais marinhos visando a sobrevivência deles no futuro quando o mundo todo poderá vir a ser coberto por água. A ideia é altruísta, mas em mãos erradas...

A garotinha acidentalmente toma a invenção e é transformada automaticamente em uma estrela-do-mar. Para tentar ajudá-la, os meninos também bebem a poção e Flay acaba virando um peixe e Chuck uma água-viva. Então eles partem para o fundo mar para sobreviverem e encontrar Stella que acabou se perdendo, mas eles só tem dois dias para descobrirem o antídoto que também está desaparecido em alguma parte do oceano, caso contrário permanecerão como seres aquáticos para sempre. Um detalhe interessante é que se peixes comuns tomarem a tal solução podem ficar mais inteligentes e desenvolver o dom da fala e o frasco acaba caindo nas garras, ou melhor, nas guelras do malvado Joe que dotado de sabedoria passa a criar um exército de soldados a fim de dominar o reino submarino. Os diretores Stefan Fieldmark e Michael Hegner conseguiram uma estética e um ritmo narrativo próximo ao estilo oferecido por antigas animações feitas para a televisão com praticamente tudo desenhado à mão. As poucas imagens geradas por computação gráfica são praticamente imperceptíveis. Não é a toa que o visual e a personalidade de Joe, por exemplo, remetam aos vilões clássicos do estúdio Hanna-Barbera. O roteiro do próprio Fieldmark em parceria com Karsten Kiilreck não é inovador, mas traz algumas boas sacadas como a inversão de papeis. Se os humanos tomam a poção mágica e viram peixes, o antídoto tem o poder de humanizar os seres marinhos, tanto que o tubarão que era o chefão do pedaço passa a servir seu antigo subordinado, provando que tamanho não é documento. Constrói-se até uma sociedade hierárquica com direito a exploração de trabalho. Por outro lado, os personagens, embora cativantes, são estereotipados. Fly é o cara esperto e descolado do grupo, sua irmã é doce e curiosa e o primo é bombardeado com piadas por ser nerd. Mesmo assim, Mamãe Virei um Peixe serve para variar o cardápio, seja para um clima nostálgico ou para apresentar as novas gerações o que é uma animação tradicional, estilo que felizmente ainda tem uma produção ativa, principalmente em países europeus. Só é uma pena que filmes do tipo ainda cheguem a vários países na base do conta-gotas através de festivais ou diretamente para consumo doméstico.

Animação - 80 min - 2000

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