Nota 6,0 Com trama ágil e animação tradicional, longa é prejudicado por temática genérica
Espionagem industrial ou pura
coincidência? O que acontece as vezes no mundo do cinema? É até bem comum que
duas ou mais produções com temas semelhantes sejam lançadas praticamente de
forma simultânea aproveitando-se de algum assunto em evidência na época, mas
quando se fala em desenhos animados a possibilidade de oportunismo não é das
mais críveis devido ao demorado processo de elaboração, por mais simplório que
seja o projeto. Em meados da década de 2000, por exemplo, muitas animações
inspiraram-se em temáticas envolvendo o fundo do mar e foram protagonizadas por
simpáticos peixinhos e outros seres marinhos, sendo que Procurando Nemo deu o pontapé inicial nessa onda e tudo que veio
depois foram tentativas falhas em sua maioria de tentar repetir o mesmo nível
de repercussão e principalmente de sucesso financeiro. Contudo, Mamãe Virei um Peixe foi finalizado cerca de
três anos antes do longa da Disney/Pixar, mas seu súbito lançamento no mercado
brasileiro e em outros países (embora de forma bastante tímida) obviamente foi
para aproveitar essa boa marola. Comparar as duas produções chega a ser
covardia, ainda mais em tempos que a animação computadorizada é tão valorizada.
Infelizmente só crianças bem pequenas ou adultos nostálgicos ainda encaram numa
boa desenhos com traços tradicionais. Todavia, esta co-produção entre a
Alemanha, a Dinamarca e a Irlanda tem os seus méritos mesmo não contando com
tecnologia de ponta e tampouco piadas ácidas ou críticas. Entre eles destaca-se
o cuidado em ser um produto essencialmente infantil, algo raro hoje em dia
quando os produtores pensam muito mais em agradar marmanjos que as crianças
propriamente. Na trama, a caminho de uma pescaria, o aventureiro Fly, sua
pequena irmã Stella e o primo deles Chuck descobrem por acaso o laboratório de
um aloprado cientista, o Professor MacKrill, que está desenvolvendo uma poção
que transforma seres humanos em animais marinhos visando a sobrevivência deles
no futuro quando o mundo todo poderá vir a ser coberto por água. A ideia é
altruísta, mas em mãos erradas...
A garotinha acidentalmente toma a
invenção e é transformada automaticamente em uma estrela-do-mar. Para tentar
ajudá-la, os meninos também bebem a poção e Flay acaba virando um peixe e Chuck
uma água-viva. Então eles partem para o fundo mar para sobreviverem e encontrar
Stella que acabou se perdendo, mas eles só tem dois dias para descobrirem o
antídoto que também está desaparecido em alguma parte do oceano, caso contrário
permanecerão como seres aquáticos para sempre. Um detalhe interessante é que se
peixes comuns tomarem a tal solução podem ficar mais inteligentes e desenvolver
o dom da fala e o frasco acaba caindo nas garras, ou melhor, nas guelras do
malvado Joe que dotado de sabedoria passa a criar um exército de soldados a fim
de dominar o reino submarino. Os diretores Stefan Fieldmark e Michael Hegner
conseguiram uma estética e um ritmo narrativo próximo ao estilo oferecido por
antigas animações feitas para a televisão com praticamente tudo desenhado à
mão. As poucas imagens geradas por computação gráfica são praticamente
imperceptíveis. Não é a toa que o visual e a personalidade de Joe, por exemplo,
remetam aos vilões clássicos do estúdio Hanna-Barbera. O roteiro do próprio
Fieldmark em parceria com Karsten Kiilreck não é inovador, mas traz algumas
boas sacadas como a inversão de papeis. Se os humanos tomam a poção mágica e
viram peixes, o antídoto tem o poder de humanizar os seres marinhos, tanto que
o tubarão que era o chefão do pedaço passa a servir seu antigo subordinado,
provando que tamanho não é documento. Constrói-se até uma sociedade hierárquica
com direito a exploração de trabalho. Por outro lado, os personagens, embora
cativantes, são estereotipados. Fly é o cara esperto e descolado do grupo, sua
irmã é doce e curiosa e o primo é bombardeado com piadas por ser nerd. Mesmo
assim, Mamãe Virei um Peixe serve para
variar o cardápio, seja para um clima nostálgico ou para apresentar as novas
gerações o que é uma animação tradicional, estilo que felizmente ainda tem uma
produção ativa, principalmente em países europeus. Só é uma pena que filmes do
tipo ainda cheguem a vários países na base do conta-gotas através de festivais
ou diretamente para consumo doméstico.
Animação - 80 min - 2000
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