Nota 8,0 Mescla de aventura e terror é retrato de uma época de inocência, descobertas e diversão
Que saudades da década de 1980! Tempos em que criança vivia como criança e muitos filmes clássicos que marcaram a infância de marmanjos são o retrato de uma época que infelizmente não volta mais. Qual guri hoje em dia tem um clubinho de amigos para planejar aventuras e sonha em ter uma casa na árvore? Contatos virtuais não valem. Qual garoto cultiva aquele amor platônico que o faz desejar ser grande o mais rápido possível? Com as redes sociais, a paquera perdeu sua inocência. E as madrugadas viradas assistindo filmes de terror regadas a refrigerante e pipocas com a galera? Hoje até rola programas do tipo, mas cada um na sua casa na base dos filmes on demand e a zoeira é via comentários virtuais. Para quem já passou dos trinta anos certamente vez ou outra deve sentir saudades de ir até a locadora escolher aquele filminho bacana que serviria de desculpa para a reunião com os amigos no fim de semana. Do trash levado a sério, passando pelo “terrir” até chegar a tramas de horror legítimo, muitas fitas de arrepiar ou que usavam o medo apenas como pano de fundo marcaram momentos inesquecíveis de muitas pessoas como é o caso de Deu a Louca nos Monstros, uma divertida aventura envolvendo criaturas clássicas do horror.
A trama começa naTransilvânia quando o Dr. Abraham Van Helsing (Jack Gwillim) e um grupo de populares invadem o castelo do Conde Drácula (Duncan Regehr), a fim de detê-lo para sempre, mas algo dá errado e o próprio caçador acaba sumindo em meio a um redemoinho que traga tudo e a todos a sua volta. Um século mais tarde (lembrando que o filme é de 1987), o príncipe das trevas volta à vida desejando recuperar um antigo amuleto mágico, o mesmo que foi usado no ritual para destruí-lo, e ressuscita o Frankenstein (Tom Noonan), a Múmia (Michael Reid Mackay), o Lobisomem (Carl Thibault) e o Monstro da Lagoa Negra (Tom Woodruff) para ajudá-lo nessa tarefa que tem prazo certo para acabar, caso contrário, todos eles voltariam para o limbo. Agora o inimigo dos monstros atende pelo nome de Sean (Andre Gower), um adolescente vidrado em histórias de terror e presidente de um clube, os Monsters Squad, cujos sócios se reúnem frequentemente para debater assuntos de suma importância como a melhor maneira de matar vampiros ou debater se o lobisomem tem saco. Fazem parte do grupo o boa-praça Patrick (Robby Kiger), o gordinho Horace (Brent Chalem), o baixinho Eugene (Michael Faustino) e o moderninho Rudy (Ryan Lambert). Reservado apenas para homens, Phoebe (Ashley Bank), a irmã caçula de Sean, tenta sempre dar seus pitacos nas reuniões, mas só vai ser aceita como membro quando provar sua valentia.
Cumprindo ordens de Drácula, o desengonçado Frankenstein deveria barrar os planos de contra-ataque dos jovens, mas acaba fazendo amizade com a garotinha e também sendo aceito no clube. Paralelo a volta dos monstros, Sean ganha de sua mãe um velho livro, porém, a obra é nada mais nada menos que o diário em que Van Helsing registrou suas memórias e descobertas. O problema é que os escritos estão em alemão e quem poderia ajudar o grupo com a tradução é um misterioso homem que vive trancado dentro de casa e cujo rosto só é visto à espreita vez ou outra nas janelas. Apelidado de “o alemão que assusta” ou algo do tipo (Leonardo Cimino), a certa altura a câmera flagra em seu pulso uma tatuagem numérica utilizada em campos de concentração durante a Segunda Guerra. De modo sutil é revelado que para ele podem aparecer os monstros mais horripilantes, mas nada chegará aos pés do terror que viveu com os nazistas. É uma pena que o roteiro de Shane Black e Fred Dekker, este também diretor da fita, não explore a fundo o medo que o personagem causa e o humanize apresentando-o como um sábio que revela que o grupo precisa encontrar o talismã até certa noite específica e cumprir o mesmo ritual centenário, caso contrário o mundo sucumbirá às trevas. Todavia, precisam encontrar para ler as palavras cabalísticas uma virgem, artigo em falta já na época.
Enquanto os seres do mal se preparam para a grande noite e os caça-monstros se articulam para jogar água nos planos dele, a cidade vira um caos com incidentes que nem mesmo a polícia encontra explicações, mas como em produções do tipo os adultos não dão atenção para o que as crianças dizem mais uma vez eles não passam de meros coadjuvantes que pouco ou nada acrescentam à trama. Falando nisso, também no mundo dos negócios quem não é de maior não é levado a sério. Produtores e distribuidoras não acreditavam no sucesso do longa e o lançaram diretamente no formato VHS, aproveitando-se do boom das videolocadoras, mas a repercussão foi tanta que acabaram tendo que lançar também nas telonas. De olho nos espectadores ávido por sustos e adrenalina, mas ainda com um pé na infância, Dekker talvez nem pudesse imaginar que criou não só um passatempo que atendia a demanda da época, mas que seu trabalho também viria se tornar um símbolo de nostalgia. Apaixonado por terror, seu desejo era realizar produções homenageando ou que revitalizassem o gênero e logo seu primeiro argumento transformou-se no lendário A Casa do Espanto, ainda que o roteiro final e nem a direção levassem sua assinatura. Todavia, tal sucesso o credenciou a assumir as câmeras e assim conseguiu realizar Deu a Louca nos Monstros que ele próprio definiu como um encontro dos Batutinhas (por que não os Goonies também?) com os monstros clássicos do estúdio Universal que durante uma época investiu pesado no gênero de horror, mas que não aceitou uma parceria com outra produtora para trazer os monstrengos de volta à cena.
Entretanto, como a imagem de tais criaturas acabaram enraizando-se na cultura popular de todo o mundo, Dekker apenas fez algumas sutis mudanças nas caracterizações dos personagens, aliás, a maquiagem e efeitos visuais merecem destaque pela busca do realismo. Computação gráfica só é percebida na aparição do buraco negro logo na introdução ou no clímax. Todo o resto foi realizado de modo artesanal, inclusive os intérpretes dos monstros evitavam usar as vestes de trabalho durante os intervalos para que o diretor conseguisse reações mais verdadeiras do elenco jovem. É estranho que mesmo sendo uma produção com valor afetivo para muitos, o filme é uma daquelas preciosidades difíceis de se encontrar disponível no mercado, seja físico ou de streaming. Quem tem a fita VHS ou o DVD lançado apenas nos EUA tem uma jóia rara em mãos. Boatos sobre uma possível refilmagem jamais se concretizaram. Seria ótimo resgatar este clássico em nova versão, mas já sabemos de antemão que os inevitáveis efeitos especiais tirariam boa parte do charme da obra. Melhor ficar com as lembranças do original.
Aventura - 82 min - 1987
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