Nota 1 Fora um leve clima nostálgico, tudo é descartável nesta obra que causa risos involuntários
Qualquer filme gera opiniões controversas, até mesmo aqueles que são mais aclamados. Alguns podem amar, outros odiar e quase sempre a impressão da crítica especializada é contrária a dos espectadores comuns. As produções de terror passam sempre por essa prova de fogo, mas também precisam vencer a barreira do preconceito, ainda mais quando se trata de uma refilmagem, quase sempre desnecessárias, como é o caso de A Névoa. Remake de A Bruma Assassina, cultuada produção do mestre do terror John Carpenter, esse é um dos casos em que a avaliação negativa é unânime. Qualquer site, blog, revista ou jornal que abriu ou ainda abre espaço para publicar algumas linhas sobre este filme dispara as piores notas e críticas possíveis. Realmente não tem como defender o trabalho do diretor Rupert Wainwright, do também controverso Stigmata. Continuando nessa sua toada de querer brincar de assustar, o longa conta a história de uma pequena cidade litorânea cuja origem tem a ver com um navio ocupado por leprosos que foi propositalmente incendiado e jogado contra uma costa de rochedos durante uma noite de muita neblina. Apenas quatro homens sobreviveram e ganharam fama de heróis injustamente já que foram os responsáveis conscientes do massacre.
Quando o vilarejo está comemorando seu centenário e os supostos fundadores vão ser homenageados, os fantasmas do passado literalmente voltam para se vingarem e passam a perseguir os descendentes dos responsáveis pelo acidente fatal. Para tanto, os espectros se escondem atrás de uma névoa de dimensões jamais vistas e todos que estiverem pelo caminho estão condenados a morte. Entre os alvos estão os jovens Nick Castle (Tom Welling) e Elizabeth Williams (Maggie Grace), ambos que parecem ter uma forte ligação com a tal trama macabra envolvendo a fundação da cidade. Os primeiros quinze minutos servem para fazer as apresentações destes personagens, além do padre Bobby Malone (Adrian Hough) e seu pai, o prefeito Tom (Kenneth Walsh), a sua sucessora Kathy Williams (Sarah Welsh), a radialista Stevie Wayne (Selma Blair) e seu filho Andy (Cole Hepell), entre alguns outros que logo de cara sabemos que serão as vítimas do misterioso nevoeiro. Apesar do potencial do argumento, infelizmente nesta produção nada se salva. Tudo é muito ruim em todos os aspectos. Roteiro, direção, interpretações, fotografia, iluminação e, principalmente, os efeitos especiais que na verdade merecem ser chamados de defeitos. Pode parecer estranho dizer que a trama é ruim já que se trata de um texto que ganhou as telas no passado com certa projeção, mas o problema é que desta vez a narrativa saiu do papel não para causar sustos e sim risos involuntários ou até mesmo bocejos de tédio.
Na época em que produtores descerebrados tiveram a brilhante ideia de refilmar esta história, Hollywood já sentia que os remakes de produções de terror orientais estavam em franca decadência e sem ter bons argumentos originais em mãos o jeito era revirar seu próprio baú e resgatar o que fez sucesso no passado, ainda que A Bruma Assassina só tenha ganhado sua aura cult com o passar dos anos. A trama original fora escrita pelo próprio Carpenter em parceria com Debra Hill, mesma dupla responsável pelo clássico Halloween - A Noite do Terror, mas já se valia mais dos efeitos especiais (hoje considerados um tanto toscos) do que propriamente de uma boa história. As intenções para uma refilmagem até eram boas, mas o roteirista Cooper Layne não soube desenvolver o tema promissor e se perdeu em meio a situações tolas, sustos sem impacto algum e nem mesmo se deu ao trabalho de criar perfis interessantes para seus personagens, aliás, diga-se de passagem, todos eles parecem nunca ter assistido a um filme de terror, pois cometem todos os erros básicos de uma vítima em potencial. Quem em sã consciência abriria a porta altas horas da noite e com uma névoa tenebrosa cercando sua casa só porque ouviu barulhos estranhos? Por que cargas d'águas as mocinhas decidem perambular sozinhas tarde da noite e ainda por cima seminuas em meio a um clima frio? Com personagens tão idiotas e desinteressantes em cena, o espectador acaba não criando vínculos com a trama, restando apenas a curiosidade de saber quem e como será executada a próxima vítima.
Inicialmente até que o clima enevoado funciona, causa certa expectativa e podemos sentir um friozinho na barriga, mas a sensação desaparece em poucos minutos. Quando os espectros entram em cena e começam a atacar as coisas desandam ainda mais, chegando ao cúmulo do ridículo quando na reta final descobrimos que um dos fantasmas não é tão malvado quanto parecia e voltou ao mundo dos vivos visando reatar laços afetivos. No geral, até que algumas sequências de morte se salvam, mas podemos também nos divertir com a caracterização das tais almas penadas dignas de comédias com pegada sobrenatural destinadas a entreter crianças, algo no estilo das assombrações dos desenhos do Scooby-Doo e sua turma. Sentiu o drama? Como se diz por aí, menos é mais. Na primeira versão Carpenter optou sabiamente por simplesmente sugerir do que mostrar. Os fantasmas só eram revelados no último ato, ainda assim envoltos de muita neblina, e o sangue era praticamente nulo. A essência era assustar na base do medo do desconhecido, afinal como combater um inimigo que pode se infiltrar em qualquer canto? Eis mais um equívoco de Wainwright. Seus fantasmas perseguem suas vítimas somente nas ruas e são barrados quando dão de cara com portas e janelas fechadas, embora raramente se lembrem do poder que eles tem de infiltrar em qualquer lugar por algum cantinho descoberto.
Só para não dar um zero bem redondo podemos destacar o bom uso da trilha sonora, um tanto nostálgica, combinando muito bem com o trabalho da personagem de Blair que faz um link interessante com o longa original. Locutora que informa durante as madrugadas boletins do tempo aos navegantes intercalados por um repertório de músicas para os insones, tais elementos muito característicos na década de 1980 acabam por prestar uma singela homenagem ao longa de Carpenter que com muita criatividade e pouco dinheiro conseguiu fazer uma obra que ainda ecoa na memória dos amantes do terror. Já A Névoa é do tipo lembrança-relâmpago. Mesmo com um orçamento razoável, diga-se de passagem, gastos com efeitos especiais medíocres e contratação de fracos atores, a produção naufragou e deixou os envolvidos na produção e o público a ver navios.
Terror - 100 min 2005
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