NOTA 9,0 Refilmagem de cult movie dos anos 80 privilegia o estilo musical a la Broadway para falar sobre preconceitos e sonhos |
Entre algumas das surpresas que
a sétima arte tem nos proporcionado neste início de século 21 podemos destacar
a volta em grande estilo dos musicais. Originais, refilmagens, de estilos
clássicos ou moderninhos. Tem opções para todos os gostos. As produções da
Broadway obviamente tornaram-se uma grande fonte de inspiração e alguns
trabalhos curiosamente antes de chegarem aos palcos já tinham passado pelos
cinemas. É uma relação muito amistosa que existe entre estas duas manifestações
artísticas e sempre há a possibilidade de se melhorar aquilo que já era bom a
cada nova adaptação como é o caso do filme Hairspray – Em Busca da Fama, um musical com um elenco espetacular, mas, como todos os
títulos do gênero, divide opiniões. Milhões de pessoas se renderam às
gargalhadas e acabaram dançando ao som da animada trilha sonora. Na mesma
proporção, há quem critique, se irrite com tanta cantoria e não veja o menor
fundamento para tal obra existir. É preciso deixar a alegria falar mais alto
para poder aproveitar este filme cujas duas horas passam voando visto a
quantidade de situações e personagens que o roteiro oferece. O diretor Adam Shankman fez a
adaptação para o cinema do famoso musical da Broadway, que inclusive já teve a
sua versão brasileira, mas esta deliciosa história já teve outra versão
cinematográfica. O excêntrico cineasta John Waters baseou-se em suas memórias
de infância para criar um de seus trabalhos mais famosos e mais próximo do
estilo comercial, Hairspray - E Éramos Todos Jovens. O longa
se tornou um cult movie instantâneo e foi sucesso de crítica e público. Tanto o
filme dos anos 80 quanto o mais recente são exagerados e coloridos, mas o
antigo fica em desvantagem em alguns pontos em relação a sua reinvenção.
Envelheceu bastante e o visual kitsch pode incomodar, além de que não era assumidamente
um musical. De qualquer forma, ambos são divertidos, marcaram época e ainda
continuam colecionando fãs. Em 2002, o
texto de Waters foi reformulado para ocupar os palcos e finalmente ganhou
status de musical e foi nesta fonte que Shankman bebeu e construiu um delicioso
show que diverte e ainda toca em uma ferida aberta há centenas de anos, mas que
até hoje não cicatrizou totalmente: o preconceito. Tudo aqui parece tão cheio
de vida justamente porque Waters pessoalmente levou o diretor a conhecer a cidade
de Baltimore, o local onde as ações do longa acontecem, e passou a ele informações
valiosas sobre o passado do local e como se comportava a sociedade da década de
1960. Shankman que até então tinha projetos modestos no currículo, como Operação
Babá e Doze é Demais, teve finalmente em suas mãos um
verdadeiro tesouro que soube cuidar muito bem e que atraiu um elenco
sensacional, incluindo os coadjuvantes.