Nota 4,5 Com sustos previsíveis e enredo frouxo, suspense com Kevin Costner decepciona
Ele começou a carreira tardiamente e
emplacando diversos sucessos e em pouco tempo já estava na frente e atrás das
câmeras em uma mesma produção. Por seu primeiro trabalho como diretor faturou o
Oscar com seu longo épico Dança com Lobos. Tanto prestígio
precocemente aflorou em Kevin Costner a soberba e a megalomania. A partir de
então, começou a embarcar em projetos fracassados, outros ele próprio tratou de
afundar e colecionou um ou outro filme que não manchasse seu currículo. O
Mistério da Libélula não é nada memorável em sua filmografia. Simplesmente
é um trabalho que poderia ter sido protagonizado por qualquer ator de meia
idade, mas para se manter na ativa vale tudo. Costner interpreta o Dr. Joe
Darrow, um respeitado especialista em traumas que é chefe do serviço de
emergências de um importante hospital em Chicago. Ele carrega a dor de não
saber o que aconteceu com sua esposa, a também médica Emily (Susanna Thompson).
Ela estava em uma missão beneficente em uma região montanhosa na Venezuela
quando sofreu um acidente, mas seu corpo nunca foi encontrado. Seis meses
depois de seu sumiço, seu marido começa a perceber pequenos sinais ligados a
imagens de libélulas, inseto cujo formato lembra uma marca de nascença que
Emily tinha no ombro. Além disso, ao visitar os antigos pacientes da esposa,
crianças do setor de oncologia, Darrow começa a receber estranhas mensagens por
meio delas. Muito atormentado diante dos acontecimentos e com seu luto, o
médico consegue apoio de outras pessoas, apesar das visões opostas sobre o
caso, como a vizinha Miriam (Kathy Bates), que quer ajudá-lo a se libertar das
lembranças do passado, e da Irmã Madeline (Linda Hunt), uma estudiosa a
respeito das pessoas que estiveram perto da morte. De qualquer modo, juntando
as pistas, Darrow tem certeza que sua esposa está tentando entrar em contato do
além.
A premissa não é das piores. A história de Brandon Camp e David Seltzer
é até intrigante e tem seus bons sustos, mas alguns recursos utilizados para
dar um ar fantasmagórico não colam. Um homem sozinho vivendo em um grande
casarão isolado onde as luzes estão sempre apagadas ou são utilizadas
minimamente são artifícios com data de validade vencida, ainda mais levando em
consideração a situação sócio-econômica do protagonista. A ventania com direito
a árvores sendo desfolhadas e uivos na calada da noite também ficam
artificiais. Outros clichês ajudam a transformar a obra em algo previsível,
como no caso da arara da falecida que costumava saudá-la quando chegava em casa
e é óbvio que mais cedo ou mais tarde a ave irá se manifestar para denunciar
que o espírito da mulher está por perto. Apesar desse monte de clichês, até
quase o final o longa caminha de forma intrigante, porém, os últimos minutos
tratam de dar uma acelerada na história e fazer uma mistura de drama e aventura
com alguns erros de continuidade como o fato da foto da esposa que o médico
carregava no bolso aparecer intacta mesmo depois dele ter enfrentado a
correnteza forte de um rio. Por fim, a última cena deixa explicita a mensagem
edificante de que a vida continua. O diretor Tom Shadyac, responsável por obras
tão díspares quanto Ace Ventura e Patch Adams, parece
não saber o que fazer com o roteiro a certa altura do campeonato e opta por uma
conclusão nada empolgante e que não justifica a aura horripilante que adotou
até pouco mais da metade do longa. A atuação estilo piloto automático de
Costner só soma para enfraquecer a obra. O fato é que não se sabe se o ator
estava desmotivado ou realmente seu papel pedia ares de um ser apático. A
primeira opção talvez seja a que melhor justifique seu desempenho. Lançado
algum tempo depois de O Sexto Sentido, um roteiro melhor trabalhado
e uma direção mais firme fariam O Mistério da Libélula ser tão
intrigante quanto a famosa obra de M. Night Shymalan. Todavia, para uma sessão despretensiosa e sem olhar exageradamente crítico se torna uma opção
curiosa e que prende a atenção.
Suspense - 90 min - 2002
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